Um sentimento chamado saudade

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Senti a brisa soprar levemente em meus cabelos. Eu estava em um jardim, grande e extremamente extenso. Não conseguia ver o fim, parecia ser infinito. Ao meu redor, rosas vermelhas formavam círculos no chão. Sentei-me ali em meio daquelas rosas que tinham um agradável perfume. Então foi aí que eu ouvi uma voz, doce e meiga que parecia cantar meu nome. Eu já ouvira antes, e não fora em um disco do Paramore. Eu lutava com minha mente para tentar me lembrar de onde eu já escutara aquela voz. Mas foi inútil. Levantei-me para saber de onde aquela linda voz, que me chamava, estava vindo. Olhei ao meu redor. As flores já tinham desaparecido. Agora só havia uma macia grama que recobria todo o chão do jardim. Avistei uma silhueta de uma menina mais à frente. Comecei a caminhar em sua direção, quando senti a presença de alguém atrás de mim. Tentei me virar para ver o que ou quem era, mas não conseguia. Parecia que tudo que estava atrás de mim estava se deletando. Corri, com medo de ser deletado também. Quando retomei o foco na menina, ela já estava diferente. Seus cabelos ruivos balançavam ao vento enquanto ela corria. Eu tentava alcançá-la, mas ela corria rápida demais. Minha visão não estava muito boa, mas podia jurar que a menina estava correndo em direção a um buraco que se formava na grama. Eu gritava para ela parar, mas mesmo assim ela continuava a correr. Eu gritei e gritei, mas ela não me ouvia. E foi aí que percebi que ela só não me ouvia porque minha voz não saía. Faltando apenas dois passos para cair, ela parou. Eu continuava a correr e nossa distância diminuía gradualmente. Por fim, consegui alcançá-la. Toquei em seu ombro.

— Não me toque!

Ela disse se virando. Aqueles inesquecíveis olhos azuis me encaravam. Então percebi que se tratava de Emily.

— Charlie — ela disse quase que sussurrando.

Eu a envolvi em meus braços. A gente estava cara a cara agora. Ela se aproximou mais e encostou de leve seus lábios macios em minhas bochechas.

— Ajude-me — disse ela se jogando no buraco.

E essa foi a primeira vez que sonhei com Emily Grey. Olhei no relógio do meu celular, não era nem sete horas da manhã. São raras as vezes que acordo antes do meu despertador. Já que tinha acordado mesmo, eu levantei.

Meia hora depois eu estava pronto para ir à escola. Fui até a cozinha para pegar alguma coisa que me sustentasse até a hora do intervalo.

— Bom dia! — levei um susto

— Oi, Janine. Não vi você aí.

— Fiz um bolo gelado de chocolate.

— Você sabe mesmo como alegrar o meu dia.

Sentei-me à mesa. Janine me serviu com uma fatia generosa de bolo de chocolate e um copo de suco de laranja. Quando dei a primeira mordida, Scott entrou na cozinha.

— E ele sabe como estragar meu dia — falei só para mim, mas ele acabou ouvindo.

— Qual é Charlie? Minha presença incomoda tanto você assim?

— Sim.

— Papai já deixou bem claro que quer a gente se dando bem.

— Que pena que ele esteja iludido com isso.

— Eu direi a ele que tentei, mas você dificulta as coisas.

Nisso ele tinha razão. Detesto concordar com Scott, mas ele tinha razão. Queria discutir com ele agora, mas em vez disso terminei de comer meu bolo de chocolate. Janine também o serviu com uma fatia. Ele sentou-se na cadeira à minha frente. Eu o analisei com uma rápida olhada. Ele parecia sereno e calmo. Não é todo dia que ele está assim. Ele parecia estar mais maduro, mais adulto.

Você É Minha CuraOnde as histórias ganham vida. Descobre agora