Capítulo Dois

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Capítulo Dois

Elizabeth Rodrigues

Ficar em casa é um tédio, principalmente quando estou sozinha, sem nada pra fazer e ninguém pra conversar. ara o meu consolo eu tenho um tapete super macio e uma televisão de plasma enorme que me permite ficar distraída com o Netflix.
A minha campainha toca e eu fico com preguiça de me levantar, mas a pessoa é insistente, toca a campainha mais algumas vezes, e eu finalmente me rendo e me levanto para abrir a porta.
- Esse gato é seu - Mal abro a porta e alguém me entrega meu gato Simba. Pego ele no colo e o solto dentro da minha casa.

Quando olho para ver quem foi a pessoa gentil que veio me devolver meu animalzinho, me deparo com o doutor/gatão/lindo. Sim, o mesmo homem que eu mandei atirar; o mesmo homem que me ajudou com meu ferimento. Destino, muito obrigada!
- Sim é meu. Te conheço de algum lugar, não?- pergunto mesmo tendo certeza de quem ele é..
- Eu não perguntei se o gato é seu, eu afirmei. Você me conhece, é a louca que mandou o bandido atirar em mim- relembra ele.

Sim, meu gato sempre teve tendências de andarilho. Sai à noite para passear a volta de manhã, quando está com fome. Desde pequeno ele faz isso. Lembro da primeira vez que ele saiu. Quando me dei conta, entrei em desespero achando que ele tivesse fugido. Algumas horas depois - após eu ter postado fotos dele em vários grupos nas redes sociais - ele entrou pela janela, bebeu água e foi dormir.
- Ah relaxa! Ele não ia atirar de verdade, você é muito medroso.
perco minha paciência e ele bufa em resposta.

- Isso não interessa, só me faça um favor e não deixe seu gato ir à minha casa de novo. Já é a quinta vez que eu tiro ele do meu apartamento e ele insiste em voltar. Eu tenho um cachorro, vai que eles brigam?
- Meu gato é tranquilo, não vai querer confusão com seu cachorro. Quer entrar para tomar um café?- ofereço.
- Não- ele diz, virando de costas para ir embora, mas seguro seu braço, forçando-o a retroceder e olhar para mim- Por favor, é para agradecer pela ajuda que me deu quando levei o tiro. - minha súplica o pega de surpresa e percebo que sua postura defensiva muda para uma mais relaxada.Ele olha pro relógio de pulso e suspira.

- Tá, mas não posso demorar, tenho compromisso. - Ele provavelmente não quer dar o braço a torcer, mas isso não me impede de abrir um sorriso e mostrar minha gratidão.
Abro a porta e entramos.
- Fique à vontade. - Vou para a cozinha enquanto ele fica olhando a minha sala.

Não tem nada muito espetacular para ele olhar. Minha casa é bastante simples e prática. Tem tudo o que eu preciso, mas não é toda decorada e cheia de fru-frus. Além de eu não ter tempo para comprar e decorar meu apartamento, eu também não tenho muito gosto para decoração. Minha casa é um lugar para eu descansar, já que não passo muito tempo aqui.

Na sala tem apenas um móvel com a televisão e alguns porta-retratos, e um sofá bem grande e confortável. Por vezes acabo pegando no sono enquanto assisto tevê, por isso eu investi em um sofá que fosse confortável o suficiente para dormir.

Quando o café está pronto, alguns minutinhos depois, levo para a sala e sirvo uma xícara para Theo, que está de pé segurando uma foto minha da formatura da academia de polícia.
- Você estava muito feliz não é?- ele recoloca o porta retrato no móvel, e lhe entrego a xícara de café.
- Muito, era meu sonho se realizando- explico, me sentando no sofá e gesticulando para que ele faça o mesmo. Me sento no sofá.

Não tenho como explicar. Desde cedo meu sonho foi fazer parte da polícia. Servir e proteger é uma honra. Olho para os lados, encabulada. Não gosto de falar muito sobre o assunto. Tento me concentrar em outra coisa, mas sempre me emociono quando falo sobre o assunto.

- Quando eu te vi no hospital, sabia que você morava aqui no prédio, apesar de nós nunca termos trocado uma palavra sequer.. Só não fazia ideia de que você é policial.
- É que eu prefiro não falar, não sei o que me espera no futuro, entende? E eu queria muito que você não contasse a ninguém.
- Não se preocupe com isso, você está bem?- Ele me pergunta, tentando puxar assunto, o que me deixa um pouco mais animada.
- Sim, estou. Obrigada. Pela pergunta e por ter me ajudado.
- É o meu trabalho, mas o que te levou a ser policial?- ele me pergunta e pego a foto minha e do meu irmão quando eu tinha apenas doze anos e ele quinze.
- Está vendo esse menino? É o meu melhor amigo de infância, Christian. Ele foi morto na minha frente por bandidos que queriam o celular dele Ele começou a ficar apavorado e não se mexia por nada. Quando o bandido ameaçou atirar em mim e ele se jogou na minha frente, levando o tiro em meu lugar.  Christian ficou seis meses em coma.Quando acordou, disse que me amava, que não era a aculpada e que sempre iria me proteger. Algumas horas depois, ele morreu. Eu estava ao seu lado quando isso aconteceu. Desde então eu decidi virar policial e  estudei muito para isso- digo e coloco a foto do Christian no mesmo lugar que estava e me sento.

Tudo Pode Ser VerdadeWhere stories live. Discover now