PRÓLOGO

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A paisagem passava aos riscos diante dos meus olhos enquanto o ônibus corria para chegar até o destino. Ao longe, além de uma planície de árvores, era possível ver algumas formas rochosas e, de uma vez ou outra, algumas casinhas rústicas. Enquanto eu tentava me concentrar no que passava lá fora e sentia o prelúdio de um choro, a luz do sol poente atravessava a fumaça de árvores e salpicava a minha pele, o que me fazia ficar desconfortável a certo ponto. Na verdade, eu me sentia ao todo desconfortável. Havíamos acabado de sair de uma excursão em uma reserva próxima da saída da cidade. E, juro, estou tentando o meu máximo para fingir estar tudo bem. Tudo isso faz eu me sentir tão egoísta e, consequentemente, culpada.

E, quando vejo, já estou observando-os de novo. No banco ao lado. Ambos sorriem um para o outro. Ele levemente de costas para mim. A visão do rosto sorridente e com covinhas dela em evidência pelo sol que caia sobre a sua pele como um véu e fazia os seus olhos verdes claros e cabelos loiros reluzirem mais do que o aceitável para um ser humano normal.

Afundei ainda mais naquele banco completamente sozinha. Talvez esse seja um sinal de um anjo da guarda cansado de consertar diversas vezes esse meu coração que fora iludido e machucado repetidamente. Talvez ele só esteja cansado de ter que me encontrar várias noites chorando por um cara que sempre me viu de um jeito diferente do que eu vejo ele. Só como amiga. Sim, qualquer anjo da guarda se cansaria de garotas que gostam de se iludir criando um tipo de mundo paralelo onde um amigo seu poderia gostar delas. O problema é que eu não consigo deletar esse infortúnio como se tudo dependesse de uma tecla de computador, mesmo quando a sua melhor amiga está loucamente apaixonada por esse mesmo garoto.

E mesmo quando esse garoto está perdidamente apaixonado pela sua melhor amiga e não haja nada que lhe de um mínimo de esperanças. Ao contrário, lhe deixa imerso em culpa.

Ontem, Victoria e Caleb se beijaram pela primeira vez. Ela mesma fez questão de me detalhar todo o ocorrido indo na minha casa no final da tarde. E, droga, senti todo o meu sangue sendo drenados diretos para os meus pés no momento em que eu abri a porta e ela disparou as ''boas novas'' em mim. Foi como se o mundo tivesse parado exatamente ali, esmaecido e distorcido. É como se as funções vitais em mim estivessem entrado em pane naquele momento. Não consegui falar nada, não sabia sequer respirar.

Não sei nem como eu ainda consegui ficar de pé... Não sei como eu ainda consegui ouvir todos os detalhes de tudo após aquilo e fingir mais uma vez estar tudo bem.

Na verdade, nunca me senti boa o suficiente para ele. Quando éramos crianças e só existia nós dois, eu sentia que tudo aquilo era suficiente. Andávamos juntos para todos os lados e eu tinha satisfatoriamente a completa atenção da parte dele. Depois vieram as mudanças de humor, corpo, escola, amigos, prioridades e tantas outras coisas que levaram a ser hoje uma ''patinho feio'' sarcástica com problemas existenciais. Victoria, entretanto, é aquela amiga maravilhosa que já tem aquela ideia certa de como quer a sua vida, que não passa despercebida e é capaz de se olhar no espelho com real contentamento, sem medo. Pois ela de fato não precisa ter medo. Ela é aquele tipo de garota e amiga perfeita. E eu a amo, realmente a amo, por isso que dói ter alguns sentimentos que contradizem isso. Pois, se por um lado eu estou feliz por ela estar, por outro eu estou completamente desolada por ser a pessoa que eu amo a razão de tudo isso, alguém que me considera somente amiga. E uma nova categoria: a melhor amiga da provável nova namorada dele. E eu o amo tanto para suportar isso... Eu realmente não sei como irei suportar.

Tirando os olhos da paisagem e a mente de todo o meu desvaneio, voltei a minha atenção para o banco ao lado e o que vi por um momento cortou a minha respiração. A imagem dos dois se beijando doía mais do que eu imaginei que fosse doer. Antes eu pensava sentir o meu mundo cair quando ela veio me falar que eles haviam se beijado. Mas aquilo foi só um início e nada comparado a isso tudo. Era como se tudo estivesse se tornando real de uma vez por todas. Caleb agora se apaixonando e sendo Victoria a pessoa por quem ele se apaixonou. E ele nunca havia namorado tão sério com ninguém - o que eu cogitava antes ser porque ele secretamente me amava e tinha medo de me falar isso assim como eu tinha. Tudo bem eu não ser correspondida mas porque tinha que ser logo com a minha melhor amiga, afinal?

Quando as mãos de Victoria que antes estavam na nuca dele caíram para o seu colo alcançando as dele e ela entrelaçou os seus dedos nos dele, ela soltou-se do beijo e depositou a sua cabeça no ombro de Caleb, seus cabelos dourados caindo graciosamente no seu braço. Ela, então, sorriu e eu pude ouvir um sim.

S.O.S. CORAÇÕES PARTIDOSWhere stories live. Discover now