Consequências

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Sinto dor por todo o meu corpo, mas não emito nenhum som, apenas me deixo levar pelas lágrimas que caem sob meu rosto. Até esse momento a esperança era o que me mantinha firme, que me dava forças para superar cada instante vivido neste lugar, mas infelizmente até isso havia sido arrancado de mim, não restando nada a não ser a tristeza de saber que eu havia me apaixonado por alguém que não tinha nada a me oferecer.

Naquele momento não saberia dizer o que doía mais, se era a lâmina que Guilherme passava por meu corpo fazendo cortes profundos ou a invasão dele para dentro de mim. Suas estocadas se tornavam cada vez mais fortes e rápidas me fazendo gemer de dor. Ouço o barulho de metal chocando-se ao chão no mesmo instante em que ele me segura firme pela cintura, cravando suas unhas em mim e gritando meu nome assim que alcança o clímax. Fecho meus olhos e tento me afastar, mas Guilherme empurra-me novamente contra a parede pressionando seu corpo contra o meu para logo em seguida aprofundar seu rosto na curva de meu ombro. Antigamente este gesto faria com que eu sentisse uma enorme onda de prazer, mas neste instante sinto repulsa por ele e por mim mesma.

— Agora lembre-se Diana, você é minha e sempre será! — Ele sussurra enquanto segura meus seios em suas mãos, apertando-os com força.

— Foda-se você e sua loucura! — Falo e apoio minhas mãos na parede o empurrando para longe de mim, virando-me logo em seguida.

Seus olhos são como brasa a me queimar, mas não me importo, já tomei minha decisão, não posso e não quero voltar atrás.

— Acho que você ainda não aprendeu a lição não é docinho? — Guilherme fecha o zíper de sua calça e se aproxima lentamente.

Minhas pernas fraquejam assim que ele desfere um soco contra mim, atingindo-me logo abaixo das costelas. Curvo meu corpo e a falta de ar me atinge em cheio, caio no chão encarando o vazio em minha frente. Rapidamente envolvo meu corpo com os braços, apertando-me com força, tentando me manter firme, e nesse instante percebo o brilho da lamina próxima de mim e uma ideia surge em minha mente. Sei que estou fraca, que tenho cortes profundos em meu corpo, que estou instável, mas neste momento sinto uma força dentro de mim que me deixa entorpecida e me encoraja a seguir em frente.

— Como eu disse você é minha! — Guilherme se ajoelha no chão ao meu lado e segura meu queixo com força me fazendo olhar em seus olhos. — Entendeu?

Movimento minha cabeça lentamente concordando com suas palavras, mas assim que ele afasta sua mão movo-me rapidamente e a seguro firme, mordendo-a com tamanha força que um enorme pedaço de pele se solta. Sinto o gosto metálico de seu sangue em minha boca e um sorriso surge em meus lábios enquanto ele arregala os olhos e urra de dor. Nesse momento a loucura toma conta de mim e eu passo a língua por meus lábios saboreando-me com o doce sabor da vingança. Estranho como agora percebo o quanto me deixei levar por esta situação, por essa loucura. E em um segundo, nada mais importa, eu queria ser forte, eu queria ser como ele.

— Você tem um gosto maravilhoso amor. — Cuspo o restante do sangue em seu rosto e percebo sua fisionomia se alterar de dor para incredulidade e ódio.

— Sua vadia desgraçada, eu juro que vou te matar! — Ele grita essas palavras ao mesmo tempo que se levanta, rasga um pedaço da camisa e começa a cobrir a ferida recente para estancar o sangramento.

Aproveito sua distração momentânea, movimento-me disfarçadamente e seguro a lâmina entre meus dedos.

— Amor? — O chamo assim que consigo me manter em pé novamente.

Guilherme olha-me com descrença, se aproxima rapidamente e me agarra pelos cabelos, puxando-os com tamanha força que sinto que irá arrancá-los.

— Você vai implorar por perdão assim que eu terminar com você! 

Não penso em mais nada, rapidamente cravo a lâmina em seu olho, fazendo com que um grito de dor escape por seus lábios. Ele solta meus cabelos e tenta segurar minha mão, mas o desespero faz com que seus movimentos sejam lentos me dando a oportunidade de me afastar. Não sei o que fazer nesse momento, a imagem de Guilherme puxando a lâmina é irreal, mas não sinto remorso algum, ao contrário, sinto prazer ao vê-lo retirá-la juntamente com o que deveria ser seu olho, ou um pedaço dele. Dou alguns passos atrás e analiso minhas alternativas. Eu poderia me arriscar e pegar a chave, destrancar a porta e sair deste lugar ou eu poderia ficar e me vingar.

"Eu não posso abandoná-lo aqui afinal de contas!"

Guilherme cai de joelhos com as mãos sobre seu rosto enquanto sangue escorre por sua face, formando uma poça em sua frente. Aproximo-me lentamente e apanho o objeto que seria considerado o meu troféu, assim que eu saísse desse maldito lugar.

— Onde esta sua coragem agora querido?

— Sua vaca filha da puta! — Ele grita e percebo toda a dor que esta sentindo.

— Não ouvi direito amor, pode repetir? — Uma risada aguda escapa por meus lábios me trazendo uma sensação deliciosa, mas infelizmente isso não dura muito, pois sinto pontadas de dor por todo o meu corpo. Os cortes ardem e ainda sangram e minhas pernas tremem pelo cansaço. Sei que não tenho muito tempo, minhas forças estão se esgotando, então preciso agir rápido.

— Eu disse que você é uma vaca filha da puta!  — Ele grita completamente alucinado.

— Acho que você está sendo um menino mau Guilherme! E sabe o que eu faço com meninos maus? — Me abaixo próxima a ele mantendo uma distancia segura. — Eu faço isso amor. — Enfio a lâmina de uma vez em sua perna fazendo com que seu sangue espirre em meu rosto assim que a puxo de volta.

— Ah! — Ele grita novamente. — Você vai se arrepender amargamente por isso!

Levanto-me e o chuto com toda a força que ainda tenho, mas ele agarra minha perna fazendo com que eu caia e bata violentamente com a cabeça  no chão. Ele se aproxima enquanto me arrasto indo em direção contraria dele, tento me levantar, mas minha cabeça lateja  implorando para que eu permaneça imóvel. Minha explosão de raiva e meus golpes contra Guilherme haviam causado um desgaste enorme em meu corpo já enfraquecido, me deixando completamente sem forças.

— Onde esta sua coragem agora querida? — Ele repete minhas palavras enquanto segura minha perna e se posiciona sobre mim, agarrando meu pescoço com força. — Você nunca foi forte o suficiente para me derrotar garota, infelizmente seu tempo terminou. 

Ele pega a faca que encontra-se entre meus dedos e a passa por meu rosto, fazendo um corte profundo. Deixo escapar um gemido de dor e sinto um líquido quente escorrer por meu pescoço, porém não tenho tempo de me preocupar com isso, percebo sua intenção, respiro fundo e agarro seus braços, tentando afasta-lo de mim, mas é em vão. A lâmina entra fundo em meu olho enquanto eu grito e me debato loucamente, sentindo uma dor insuportável. Suor escorre por meu rosto ao mesmo tempo que eu choro. E não são lágrimas comuns, são lágrimas de sangue.

Eu não conseguia mais continuar lutando, então aceite meu destino. Afinal, eu nunca sairia dali, nunca mais veria o sol, o mar ou as estrelas. Eu não abraçaria meus pais e meus amigos. Não,  pois eu optei por ficar, eu escolhi ser dele, totalmente dele.

— Cansei de brincar  amor. — E essas foram minhas últimas palavras.

Com um simples movimento ele ergue novamente a lâmina enterrando-a em meu peito.

— Eu te disse querida,  você é e sempre será minha, assim como eu sou seu. Nos encontramos no inferno!

E antes de fechar meus olhos e ir de encontro a morte, sinto a lâmina ser retirada de meu corpo e tenho uma pequeno vislumbre de Guilherme passando - a por seu pescoço, para logo após cair sobre mim.

Lágrimas De SangueWhere stories live. Discover now