Prosas & Poemas

Palavras de um Rapaz Perdido

Ela apareceu vinda de algures. Diria que era um anjo se os olhos não brilhassem, por de trás da santidade, com um brilho predatório. Peguei nela e fugi, não lhe perguntei se o queria, mas dei-lhe o meu coração. E ela guardou-o atrás do seu sorriso, sem perguntar, sem questionar.

Mas agora ela esconde-se, e esconde tudo o demais. O sorriso protege o seu coração, mas alimenta-se do meu. Sinto-me desaparecer nos seus olhos cor de amêndoa, sinto-me desaparecer nas estrelas do seu universo. Sinto-me incapaz de capturar um sorriso, e sempre que dou um passo, estilhaço essa tua fachada de felicidade que esconde dor e se esconde do meu amor.

Ela apareceu vinda de nenhures, e na penumbra do meu dia ficou. Ilumina-me na escuridão e aponta o caminho pela vastidão do meu universo, que não passa de um grão de areia numa praia de sonhos perdidos.

Então eu escrevo, palavras sem sentido que me fazem sofrer, porque sentir algo mais é iludir o coração. Mas ele resiste. Cheio de feridas, chagas, cicatrizes provocadas pela esperança vã e passada. Como um paladino da felicidade ele mantém-se firme, forte perante a tua tristeza. Sinto a minha energia escapar-me. Sinto-a fluir através de mim, a procurar-te a ti.

Então eu escrevo. Palavras que me fazem lembrar do verão em que te conheci, do banco de jardim onde te beijei, dos momentos que contigo partilhei. E agora eu sinto o teu amor, sinto-o perto mesmo estando tu aí desse lado, a ler palavras que para ti escrevi. E mesmo assim choras sem mim. Não sou para te fazer infeliz. Mas a realidade não é isso que diz. Digo-te eu então. Dir-te-ei hoje, amanhã, daqui a um mês. Que te amo, e que tudo faria para te ver feliz. Portanto não chores mais. Não chores que eu estou aqui. E mesmo que seja difícil para ti, prometo que podes confiar em mim. Que não sou um sonho que tiveste num sábado à tarde enquanto sonhavas ter sido feliz.

Porque se eu for um sonho teu, então acorda. Acorda e sê feliz.