Incompletamente Perfeito - Conto de um idiota apaixonado

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Sonhei com os seus cabelos finos. Como fios de seda voavam sob a brisa aurea do seu andar. O sorriso ilumina-lhe o rosto indiscritivelmente belo.
O seu andar é de tirar o fôlego. Anca à esquerda. Anca à direita. E repete sem sequer notar. De alto a baixo, olho-a do meu canto longínquo. Pelo meu telescópio espreito esta nova estrela que se esqueceu que o lugar das estrelas é o céu. E veio se passear sob o meu olhar. O vestido prateado ilumina o ar à sua volta. O seu brilho aquece o ar que respiro.
Ela senta-se no banco de jardim solitário. Mesmo de baixo de um velho e alto carvalho. Roda o pescoço de pele lisa e radiante. Os seus olhos erguem-se para o céu.
Espera. Não é o céu que ela olha. É o meu mísero telescópio velho e gasto. Através dele o seu olhar encontra o meu. Não há como enganar. É para mim - mero observador de estrelas - que os seus olhos castanhos e amendoados se orientam.
Dou por mim ao seu lado. Mãos enlaçadas e sorrisos enfaixados. Os meus olhos colados nos seus lábios rosados. O meu corpo aproxima-se perigosamente do dela.
Uma luz mais brilhante que qualquer outra já observada ergue-se à nossa volta. Aquece-me o corpo. O mundo é coberto de um branco pacífico.
O juízo final chegou. É o fim do mundo. Já eu, morri (feliz).

Prosas & PoemasWhere stories live. Discover now