— Eu lamento... Essa doença é assim mesmo. Ás vezes as pessoas conseguem se curar, ou manter uma vida mais saudável. Mas não são todos que conseguem.

— Sim, eu sei! E como estão os seus pais e o seu avô?

— Estão bem! Estive com o vovô essa semana. Jantei lá! Ele fez um ensopado maravilhoso de peixe que foi difícil de resistir. — Ri e ela me seguiu.

— Saudades do seu Euclides!

— Apareça uma hora lá. Ele vai adorar receber a sua visita — falei parando próximo ao meu carro e tirando a chave de dentro do bolso.

— A gente podia sair para jantar uma hora dessas. Fazer alguma coisa juntos. — Senti esperança em sua voz e isso era tudo que eu não queria dar a ela. Vanessa sabia que entre a gente não haveria mais nada. Eu gostava dela como amigo.

— Foi bom te ver, Vanessa, mas eu preciso ir. Tenho que passar em um lugar antes do almoço — desconversei abrindo a porta traseira do carro e deixando minha maleta no banco de couro.

— Foi bom te ver também, Bruno! — Ela deu um sorrisinho amarelo, com a expressão derrotada. Eu odiava vê-la assim, mas ela precisava aceitar a realidade entre nós.

— Até mais, Vanessa! — Eu me despedi beijando seu rosto. Ela soltou um longo suspiro.

— Até, Bruno!

Sorri, me acomodei no banco do motorista e coloquei o carro em movimento. Quando estava dobrando uma esquina o meu celular apitou. Era uma mensagem de whatsapp da minha mãe.

"Bruninho, meu filho, não se esqueça que eu te matriculei nas aulas de culinária. Começa na quinta. Serão apenas duas noites e você vai aprender a fazer pratos deliciosos. Beijos da mamãe."

Sorri olhando para a tela. Dona Abigail e sua mania carinhosa de me tratar. Eu a amava tanto!

"Dona Abi, não esquecerei. Farei pratos maravilhosos para a família provar. Vovô vai ficar orgulhoso e o papai vai me achar fresco, mas tudo bem... kkkkk... Beijos, mãe!"

Em resposta ela me enviou uma caretinha sorridente e um coração.

***

À tarde foi igualmente agitada no consultório. E eu ainda tinha plantão para fazer no hospital. Pegava as 7horas.

Encerrei as consultas e saí um pouco mais cedo. Tinha encomendado uns livros de Shakespeare, Mário Quintana, Clarisse Lispector e Luís Vaz de Camões para dar de presente para a Maísa e eu estava ansioso por isso.

Estacionei o carro em frente a casa dela e desci. Ao me aproximar do portão eu vi Maísa carregando alguns vasos de flores em direção aos fundos da casa. Abri o portão e entrei com a sacola dos livros. Quando Maísa retornou ela ficou surpresa em me ver ali.

— Bruno!

— Oi, Maísa! Desculpe eu entrar assim, mas o portão estava aberto — falei me aproximando.

— Tudo bem! — Ela sorriu.

— Eu trouxe isso para você. — Eu entreguei a sacola de livros e ela.

— Não precisava se incomodar, Bruno!

— Não é incômodo. Eu sei que você gosta de literatura assim como eu. — Dei de ombros enquanto os olhos dela brilhavam olhando as obras.

— Muito obrigada! — Ela abriu um lindo sorriso, deixando a sacola na varanda.

— Vejo que está ocupada com as flores — falei olhando para os diversos vasos floridos a minha frente.

Lágrimas do coraçãoWhere stories live. Discover now