Capítulo 4

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"Às vezes no silêncio da noite

Eu fico imaginando nós dois

Eu fico ali sonhando acordado

Juntando o antes, o agora e o depois"

[Sozinho – Caetano Veloso]


Maísa


Eu adorava a dança. Enquanto estava em movimento, tudo ao redor se tornava mágico. Os problemas eram esquecidos, as dores, as desilusões. Era apenas eu e a música.

Abri o estúdio cedo e as crianças já me esperavam, eufóricas. Eram todas meninas loucas para aprender balé. Eu via no sorriso e nos olhinhos que brilhavam o esforço e a dedicação delas, os pezinhos muitas vezes cheios de calos e bolhas. Eu mesma senti na pele quando era aluna. E isso tinha nome: paixão. Elas amavam aprender e eu amava ensinar.

Depois da aula as meninas se despediram de mim, eu fiquei arrumando as minhas coisas. Estava quase saindo, quando recebi a visita da secretária de educação, dona Marlene.

— Boa tarde, Maísa! Tudo bem? — Sorriu esticando a mão em minha direção.

— Boa tarde, dona Marlene. Tudo bem! — Eu a cumprimentei gentilmente.

— Espero não estar te atrapalhando.

— Não, a senhora não está. Sente-se, por favor. — Eu apontei para uma cadeira. A secretária se acomodou e eu a também.

— Eu encontrei as meninas do lado de fora. Elas estavam alegres. Você traz luz para essa meninada.

— Obrigada! Eu faço aquilo que amo e é isso que eu quero passar para elas: amor! — Sorri orgulhosa das minhas alunas. Elas eram muito dedicadas.

— E pode ter certeza que é isso que está passando. — Ela também sorriu. — Maísa, a cidade faz aniversário daqui dois meses e eu gostaria de em nome do prefeito, convidar você e suas alunas para fazerem uma apresentação especial. Se você aceitar, claro!

— Oh, dona Marlene! Eu fico muito feliz com seu convite. É claro que eu aceito. Falarei com as meninas e tenho certeza que elas ficarão radiantes — falei me sentindo muito honrada. Ela apertou minha mão muito contente.

— O prefeito vai adorar saber da notícia! Você consegue criar uma coreografia e ensaiar em dois meses?

— Sim! Não se preocupe!

— Que bom! Bem, eu preciso ir! — Ela se levantou e eu a segui. — Obrigada por aceitar esse desafio, Maísa. Sou professora também e sei que não é tarefa fácil.

— Mas é recompensadora! — Sorri indo com ela em direção a porta de saída.

— Qualquer dúvida, é só ligar para a secretaria e pedir para falar comigo.

— Obrigada!

— Até logo, Maísa! — falou se retirando.

Após a saída da dona Marlene, eu fui até o petshop pegar o Poppy. Havia deixado meu gato lá para tomar seu banho e precisava buscá-lo.

Enquanto eu esperava pelo meu bichano, me distrai olhando as casinhas portáteis, coleiras e até roupinhas para gatos. Era tudo tão bonitinho, que tive vontade de comprar algumas coisas.

— Que surpresa! — disse uma voz grave ecoou atrás de mim.

Eu me virei rapidamente e encontrei o Reinaldo, um amigo da adolescência. Ele estava sorrindo para mim e me olhava com curiosidade. Reinaldo havia se formado em veterinária e eu que ele havia trazido o meu animal de estimação ali porque sabia que o pet era dele.

Lágrimas do coraçãoWhere stories live. Discover now