Capítulo dois

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Com um mandado de busca e apreensão em mãos, Munhoz e seus homens recolheram os mais variados objetos tanto da casa de Daniel quanto da de Henrique. E então restou apenas esperar e rezar para que a perícia técnica encontrasse a maldita arma entre os itens recolhidos, ou estariam de volta à estaca zero.

Depois do que pareceram dias, Munhoz exibiu um imenso sorriso após receber um telefonema. Convocou os outros e partiram para a casa do sujeito a quem pertencia a arma do crime. Ele estava mais do que ansioso para entregar o caso para a promotoria.

***

— Eu já disse que aquilo não é meu! Está claro que foi plantado na minha casa! — exasperou o suspeito.

— É claro que foi.

— Porque eu guardaria a arma de um crime, detetive?!

— Talvez seja um objeto estimado, ou talvez você seja arrogante demais para acreditar que seria pego.

Ao receber o mandado de prisão preventiva, Munhoz encaminhou o suspeito até a cela, o mesmo foi seguido pelo advogado, que não parecia muito feliz com o seu cliente.

Munhoz olhou o homem seguindo para a cela e pensou no quanto as pessoas são falsas e manipuladoras. Quando mostrou as fotos do corpo aos suspeitos, ambos esboçaram reação de descrença e horror. Pareciam ter perdido algo valioso e a dor parecia real nos olhos deles. Se Munhoz não soubesse melhor, teria julgado ambos inocentes.

Aqueles homens tinham duas coisas em comum: a mesma mulher e, por uma incrível coincidência, o mesmo objeto utilizado como arma do crime.

Pensando bem, o detetive percebeu que não era tanta coincidência assim, pois ambos estiveram na China e ao pé da Grande Muralha, não seria difícil encontrar globos de neve com a réplica do ponto turístico. Isso fazia com que muitas pessoas tivessem o mesmo objeto em suas casas.

Felizmente existia o teste de DNA e ele não negava que aquele globo estava impregnado com o sangue da vítima. Munhoz pensava no que o acusado diria se soubesse que o outro suspeito tinha um objeto semelhante. Com certeza diria que a polícia era tão incompetente que trocou as provas, bastardo.

Meses depois...

Enquanto enrolava bolinhas de pão delícia, receita maravilhosa que aprendeu a fazer com a sua mãe, Daniel pensava nas reviravoltas da sua vida.

Ele nem podia acreditar que estava tendo um romance com a sua amiga de infância. Nunca soube que Clara gostava dele desse jeito, afinal eles cresceram juntos. Eram inseparáveis até que ele conheceu Heloísa na faculdade.

Heloísa era ciumenta e por isso não gostava de Clara. Por ser completamente apaixonado por ela, Daniel acabou se afastando um pouco da amiga quando se casou, mas se falavam por telefone e se encontravam esporadicamente, geralmente em datas especiais.

Por viver viajando em busca de novas tendências para o seu trabalho como designer de interiores, Clara não tinha problemas com a escassez de encontros.

Recentemente, quando ela declarou seu amor por Daniel e o beijou, ele foi pego de surpresa, mas não uma surpresa desagradável, foi apenas inesperado.

Ele ainda estava perdido em pensamentos quando a campanhia tocou. Ele tirou os pãezinhos do forno porque Clara geralmente se agarrava a ele como se nunca fosse soltá-lo, não que ele estivesse reclamando, apenas não queria comer carvão.

Abriu a porta e Clara se jogou em seus braços, puxando-o para baixo para um beijo arrebatador.

Realmente se surpreendia com a paixão demonstrada por ela e aos poucos estava se abrindo a isso também, mas ainda sentia os olhos frios de Heloísa sobre ele e um arrepio percorria sua pele quando estava com Clara. Enquanto o julgamento não acontecesse e Henrique fosse condenado, Daniel não se sentiria em paz.

Esparramados no sofá e comendo os pãezinhos caseiros, o jovem casal assistiu a um filme. Esse programa havia se tornado rotina nos finais de semana, algo que já estava cansando Clara. Ela queria sair para jantar, ir ao cinema ou fazer qualquer programa fora do apartamento de Daniel, que era sempre reticente quanto a isso.

— Quando você vai voltar a viver? Você só sai para trabalhar, nunca foi à minha casa, não me deixa dormir aqui... Porque, Daniel?

— Eu pensei que você gostasse de passar o dia comigo.

— Eu adoro passar o dia com você, mas gostaria de fazer mais do que isso. — Quando ele não respondeu, Clara exasperou. — Não me diga que você ainda está de luto por ela! Daniel, a mulher colocou um monte de galhos na sua cabeça!

O olhar que Daniel lançou foi tão cheio de ódio que fez Clara se sentir intimidada. Ela o conhecia desde os dez anos e o viu como um menino, um adolescente e um homem calmo e gentil. Ele nunca levantava a voz e não guardava rancor. Aquele ódio não fazia jus a sua personalidade.

— Eu sei o que ela fez, você não precisa me lembrar!

— Fique calmo, certo? Eu só estou preocupada com você. Você está ficando cada vez mais taciturno.

— Desculpe se eu estou estressado por ter que comparecer ao julgamento pelo assassinato da minha esposa em alguns dias! E eu já te disse, se formos vistos juntos vão sair manchetes como: "Viúvo nem esperou o corpo da esposa esfriar antes que ficar com outra". Ninguém vai lembrar do mal que ela me causou porque quando as pessoas morrem, miraculosamente seus pecados são apagados e elas se tornam anjos!

Após desabafar, Daniel abaixou a cabeça entre as mãos e a manteve lá, como se ela estivesse pesada demais para sustentar.

— Tudo bem, eu não vou mais te pressionar. Me desculpe. — Clara gentilmente acariciou as suas costas, fazendo grandes círculos em volta delas.

— Eu só... Eu preciso que aquele maldito julgamento aconteça logo. Preciso encerrar essa fase da minha vida.

— Já está acabando, aguente só mais um pouquinho.

— Eu acho que é hora de esvaziar aquela casa e colocá-la à venda.

— Quer que eu vá com você?

— Não.

A resposta está na neve(COMPLETO)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora