Supérfluo de pensamentos

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É difícil falar do Caio sem sorrir. Ele é um palhaço que faz quem estiver ao seu redor soltar sorrisos bobos com o seu tipo de personalidade. Penso que foi isso o que me encantou por ele, a simplicidade no olhar, o sorriso debochado que esconde a tristeza que ele sente. Nunca deixa transparecer o seu sofrimento, chega a ser admirável, porém eu sei que a dor é maior.
Caio é um mistério o que sempre provoca uma certa curiosidade sobre ele. Como pode alguém sorri  mesmo querendo chorar. E engolir o próprio sofrimento para ajudar o seu próximo?
Ele é assim, se eu estiver triste e ele também, prefere me ajudar e esquecer o seu problema. De pouco em pouco ele foi me dando confiança e me fazendo se sentir feliz novamente.
O considero meu anjo. O anjo que me tirou do sofrimento. Não sei se o quero além da amizade, significa muito para mim. Mas depois da noite passada não sei como dizer isso a ele. Eu fiz por livre e espontânea vontade, porque gosto muito dele. Mas não o suficiente para engatar num novo relacionamento. E espero muito que ele não toque nesse assunto. Está perfeito assim, não quero estragar essa "amizade" com um relacionamento. Sinto que nós ainda estamos muito carentes por conta dos nossos antigos namoros. E se for isso mesmo, não há como dar certo uma relação baseada em saudade e carência.

Caio - Bom dia, Alina! Dormiu bem? - Caio fala, me tirando dos meus pensamentos.

Alina - Bom dia, Caio! Dormi sim, obrigada. - falo sorrindo pra ele.

Caio - Desculpa por ontem, ta tudo bem pra você? - ele abaixa a cabeça um pouco envergonhado.

Alina - Ah, relaxa. Não  se desculpe. Eu deixei você continuar porque também estava afim. Só não quero que nada mude entre a gente.

Caio se cala e assente olhando pra mim, se levanta e vai direto pro banheiro.
Me pergunto se falei algo errado. Mas tiro esse pensamento da cabeça e vou até a cozinha preparar algo para comermos.

Caio aparece na cozinha de cueca e me dá um beijo na bochecha. Sentamos à mesa e tomamos café. Então ele quebra o silêncio.

Caio - Vou para casa e mais tarde te ligo ou mando mensagem. Preciso resolver algumas coisas. - ele fala com uma voz cansada.

Alina - Tudo bem. - o respondo compreensiva.

Mais uma vez me pego pensando se ele ficou assim por algo que falei. Será que Caio quer mesmo algo a mais comigo? Não há possibilidades. Ainda amo o Léo, e ter algo a mais com outra pessoa não seria fácil. É como se fosse uma peça trocada que não se encaixa no quebra-cabeça. Léo e a peça correta, mas não a tenho em mãos. E não sei como começar esse tipo de conversa com o Caio.

Penso em ligar para o Léo, saber como ele está, se sente minha falta. Afinal, eu quem o expulsei de minha vida. Eu quem tenho que recoloca-lo nela.
Então disco seu número:

Ligação On

Léo - Alô, Alina?

Alina - Sim, queria saber como você está. Sinto sua falta.

Léo - Ah, eu não estou tão bem como queria estar, mas vou levando. Também sinto muito a sua falta. Não te liguei porque você preferiu assim, não quis te deixar triste comigo novamente. - Léo disse com uma voz rouca, que me deu pena.

Alina - Tudo bem, só liguei para saber como você está mesmo. Até mais Léo.

Léo - Ok. Se cuida meu amor. - gelei ao ouvir essas palavras e desliguei.

Ligação off

Após desligar fico com muita raiva de mim. Não deveria ter feito isso. Agora Léo sentirá esperança e vai estragar tudo novamente. Preciso de mais tempo para me curar de tudo que ele me fez. Não é fácil engolir uma traição do seu namorado com sua melhor amiga. E isso tudo foi um baque para mim, nunca esperaria isso dos dois. Das pessoas que eu mais amava na vida.

Quando meus pais morreram me tornei uma pessoa solitária e foi a Gabi quem sempre esteve ao meu lado, depois o Léo que me deu o amor que eu estava precisando, após essa grande perda. E quando eu menos esperei, Léo se foi, mesmo sabendo que eu iria ficar mal com isso. E agora depois de descobrir o motivo dele ir, a Gabi se foi, e o que me deixa mais mal é que ela foi o motivo pelo qual os meus sentimentos por o Léo desmoronaram. Sinto falta dela, mas essa traição foi pior que a do Léo. Ela era minha confidente, minha amiga para todas as horas, praticamente minha irmã. Irmãs não fazem o que ela fez e isso é o que me deixa mais mal. Não consigo mais confiar nela.

Ouço uma batida na porta e vou atender, abro a porta e dou de cara com meu passado.
Léo.

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