Um encontro nada amistoso

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Ele apertou os lábios tentando disfarçar a irritação. Continuei a esperar uma resposta sobre isso. Logo ele recostou parecendo cansado.

— Ponto para você menina. Realmente está sendo difícil convencer o rapaz, mas eu vou conseguir.

Estranhei os modos dele, tentava agir normal, falar calmo como sempre, ainda assim percebi que seus olhos não paravam quietos, ele parecia apreensivo vigiando a entrada a todo o momento. Logo ele levantou dando mais olhada de soslaio a porta e me estendeu a mão.

— Venha Amélia, vou escoltar você até seu carro, acredito que não veio andando, pois não?

Neguei. — Paguei um carro, mas não posso voltar pai, a moça...

Ele segurou meu braço me incentivando delicadamente a levantar. Falou um pouco mais apressado do que o normal.

— Como é o nome dela?

— Ela me disse se chamar Jaci.

— Certo... Então vá Amélia, encontrarei essa garota e a levarei até você.

Sem querer discutir com ele, levantei a cesta abrindo a boca para explicar que era para dar a ela quando a encontrasse, mas não tive tempo. Uma voz estranha e nada amistosa se fez ouvir.

— André, quem é essa?

— Esse aí é o Marcos? — Perguntei olhando curiosa para o rapaz sujo na porta.

— Vem Amélia, depois te conto tudo.

Meu pai me puxou pela mão, mas o tal Marcos entrou na frente dele, e seus olhos foram direto para a cesta que eu ainda estava segurando. Ele trincou os dentes mostrando uma raiva absurda sem motivo aparente.

— Agora anda trazendo burguesas das castas altas com esmolas? Acha que comprará nossa lealdade com... — Ele abriu a cesta e soltou a tampa em seguida com raiva. — pães, geleias e embutidos?

Os modos dele de tratar meu pai me deixou irritada. Eu tinha curiosidade de saber quem era o filho de Uzias, mas a decepção me veio rápida. E como ele falou de mim, então automaticamente me incluiu na conversa. Coloquei a cesta na mesa e me virei para ele com os olhos apertados.

— O que disse?

Ele me encarou os olhos faiscando de ódio. — Isso mesmo que ouviu! Veio aqui toda engomadinha trazendo essas... Essas porcarias! — Ele se aproximou e me olhou em desafio. — Me responda em quê isso irá nos ajudar? Quantas bocas acha que vai conseguir alimentar com essas merdas?

Como ele ousava falar assim comigo? Quem ele pensava que era para tratar as pessoas desse jeito? Era tão soberbo em achar que as coisas na cesta eram para ele? Ia ensinar a ele que o mundo não girava somente em torno dele. Meu pai ele respondia com socos no olho, e comigo com julgamentos?

Completamente tomada pela raiva empurrei aquele peito sujo.

— É assim que agradece? É assim que trata as pessoas que querem te ajudar?

Ele segurou meus pulsos com força. — Não ouse tentar me agredir, não sou um escravo, não mais!

Sem ligar para a ameaça o empurrei de novo, ele deu dois passos para trás, novamente o empurrei e ele trincou os dentes.

— É assim que tratavam os escravos antes? — Empurrei novamente seu peito. — Ou os idiotas? Agora que eu saiba não empurro um escravo, mas sim um idiota mal agradecido que destratou meu pai todas as vezes que ele veio tentar te ajudar. Você está liberto é verdade, mas age feito um escravo.

Ele nem parecia ligar mais aos empurrões, parecia agora distraído, até um pouco perplexo.

— O que disse?

Tratado dos Párias- O rei rebelde. ( Degustação)Where stories live. Discover now