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Point Of View – Justin Bieber

A música soava por entre os meus tímpanos, sendo solta por as pequenas colunas dos fones que estavam presos nos meus ouvidos. Vagueava o polegar por o ecrã do meu mais recente iPhone 7, verificando pessoa por pessoa, conhecendo quem tinha gostado da minha última foto no Instagram, fazendo-me assim chegar aos 7.620 gostos e atingido a meta de 45 mil seguidores. Vários comentários eram deixados elogiando a minha beleza natural, o meu cabelo bem penteado e as minhas roupas de marcas bastante caras. O histerismo feminino fazia-me sorrir e o ódio masculino mais sorrir me fazia.

Senti uma vibração a indicar que tinha recebido uma nova mensagem:

"Baby, esta camisa ia ficar-te linda!"

Logo depois surgiu uma foto de uma camisa verde-bebê, lisa e bem simples. O símbolo da famosa marca "Guess" estava estampado no pequeno bolso costurado do lado esquerdo.

"Quanto é que custa?"

"São só 118$! Compra baby, vou amar ver-te com essa cor."

Abri o Safari, o navegador do telemóvel e entrei no site oficial da Guess. Procurei por a secção masculina e em destaque estava a camisa, com a exacta foto que Claide me tinha enviado. Sabia que não iria ser fácil conseguir aquele dinheiro, mas nunca foi fácil conseguir as várias coisas luxuosas que tinha. Guardei aquela página e continuei a ver a restante colecção da marca, até ao momento em que a porta de casa foi aberta de uma maneira tão bruta que conseguiu fazer um som superior ao que os meus fones largavam. A imagem da minha mãe com dois sacos numa mão e com a outra presa à mão da minha pequena irmã, surgiu à minha frente após a luz da sala ter sido acesa. Nem me tinha apercebido que já estava a ficar de noite.

Achas bonito o que fizeste, Justin Drew Bieber? Quando o meu nome saia por completo da sua boca, já sabia que o seu estado não era o mais paciente. Não consegui deixar os meus olhos a encarar os seus, porque logo me apercebi da merda que tinha feito.

Esqueci-me. Respondi ao seu berro após ter desligado a música e tirado os fones.

Esqueceste-te? Soltou um riso fraco. Pousou os sacos sobre a mesa que ficava perto do sofá e levou as mãos à anca. O seu olhar era matador, mas não causava qualquer diferença em mim. – A tua irmã estava desde as quatro horas à espera que a fosses buscar. Sabes que horas são agora? São sete horas, Justin! Não tiveste tempo suficiente para te lembrares que estavas sozinho em casa e que tinhas uma irmã?!

Não me apercebi das horas passarem, porra! Levantei-me do sofá, gesticulando os braços. Nunca te esqueceste de nada?

Às vezes esqueço-me que todo o esforço que fiz para te educar não serviu de nada. Revirei os olhos. Sempre a mesma conversa. Vai dar banho à tua irmã, enquanto eu preparo o jantar. Pelo menos ajuda-me uma vez na vida.

Olhei uma última vez para os seus movimentos frenéticos enquanto arrumava o que tinha dentro dos sacos nos armários e baixei o olhar para Jazmyn, que estava encostada à parede a olhar para os seus pés enquanto entrelaçava as suas duas mãos. Toquei com o dedo indicador no seu ombro para chamar a sua atenção e ela ergueu a cabeça.

Vamos tomar banho. Avisei-a ao mesmo tempo que fazia gestos com as minhas mão, tentando dizer o mesmo em língua gestual.

Jazmyn tinha nascido com um problema na audição, o que a prejudicou na fala. Desde bebé que um pequeno aparelho auditivo a acompanhava nos dois ouvidos. Se eu falasse com calma perto dela, ela conseguiria entender, mas era preferível falar sempre em língua gestual, uma vez que essa era a sua única maneira de comunicar. Os valores da sua audição eram de apenas 30% de mês a mês pareciam baixar, já os valores da fala eram nulos. Ela nunca falou e nunca iria falar.

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