Capítulo 3

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Caminhamos por uma trilha que nunca havia feito antes, deve se tratar do limite próximo a propriedade vizinha que Clarice alertou. Mesmo admirando o fato de o proprietário não permitir caça dentro de sua propriedade, nem em sonho quero me deparar com esse cara.

— Anton, acredito que o limite de suas terras esteja no fim. Sua mãe nos alertou sobre isso ontem! — disse enquanto abria meu caminho entre agulhas de pinheiros e folhas opacas de outono.

— Acredito, Sophie, que ela também alertou sobre o horário correto do jantar. O que foi lindamente ignorado por você! — respondeu ríspido.

Touché!

— Vou me desculpar com sua mãe mais tarde, tenha absoluta certeza. Mas não estou a fim de invadir propriedade alheia, creio que isso seja crime! — devolvi na mesma moeda.

— Sophie! Alguém já lhe disse o quanto você é estupidamente chata e sem graça? — respondeu de forma abrupta, avançou abrindo caminho na minha frente, logo que passou pude ver a espingarda de caça presa a sua mochila.

— Por que você trouxe uma arma para fazer trilha, ficou louco? — perguntei irritada com sua grosseria anterior.

— Deus, que porra de mulher brochante! Trouxe porque o velho caseiro avistou uma corça adulta para estes lados. Quero a galhada desse bicho preso a parede de meu futuro escritório na empresa de seu pai. Agora fecha essa boca enorme — vociferou sem ao menos olhar para minha cara surpresa atrás dele. Não me calei.

— Anton estamos nas terras de seu vizinho, não acha prudente que a gen...

— Shiii...cala a boca, já te avisei Sophie — disse notando algo no canto dos olhos e me puxou para baixo com tudo, fazendo com que me estatelasse ao chão.

— Seu idiota...

— Cala a porra da sua boca antes que eu cale por você! — berrou, dessa vez virou para me encarar e vi fúria em seus olhos, aquilo foi uma ameaça.

Uma linda e enorme corça apareceu alguns metros a nossa frente. Bem no ângulo de visão de Anton, não sei se ele havia notado o filhote escondido ao lado esquerdo do corpo opulento da mãe. Me virei para dize-lo, mas seu dedo estava engatilhado pronto para abater.

— Anton! — tentei chamar sua atenção.

— Shiii...inferno de mulher, calada! — Nem ao menos deu ouvidos aos meus apelos. Seu dedo estava pronto para fazer o movimento, não consegui conter o desespero e dei um tranco no cano da espingarda, elevando a mira.

Ele se levantou furioso de maneira abrupta, tentei explicar a minha reação mas no momento em que abri a boca para dizer algo recebi um chute violento nas costelas, me fazendo girar várias vezes por entre as raízes grossas das árvores onde nos abaixamos.

— Sua cretina, patética e idiota. Que porra acha que está fazendo? — disse avançando para cima novamente, não dando sequer tempo para me recuperar do primeiro golpe. Tentei desvencilhar o mais rápido que pude com respirações secas e grandes goles de ar para expulsar a dor latente em meu lado direito. Sem qualquer aviso senti sua mão se fechar em torno de meu pescoço, com a força que colocou no aperto me levantou do chão de maneira bruta e violenta. 

— Você ficou louco Anton...

Minhas costas se chocaram contra uma árvore enorme, Anton encostou seu rosto próximo ao meu e de maneira ameaçadora começou a vomitar suas palavras:

— Você não tem ideia de com quem está lidando não é mesmo sua vadia!? — minhas mãos tentavam afrouxar seu aperto sobre minha garganta para que o ar voltasse, ele segurou uma de minhas mãos contra o tronco da árvore facilmente — Essa "caminhada" brilhante foi ideia de seu velho para lhe AVISAR sobre o nosso casamento! Não gosto de você, nunca gostei. Mas achei que conseguiria me divertir e também divertir alguns de meus amigos com você, mas a cada segundo que passo ao seu lado vejo o quão sem graça é você...

Cuspiu essas palavras, não sei se estava compreendendo correto, mas Deus estou apavorada!

— Me soltaaa... — minha voz saiu rouca e fraca, mal reconheci. Meus olhos quase saltaram das órbitas diante de tal informação, meu pai não me entregaria a um canalha. Não é possível não posso ou quero acreditar! Sei que não somos próximos, mas me entregar para casar com esse verme. Não! Não pode ser. Quero crer, preciso acreditar que meu pai desconhece esse lado podre da personalidade dele. Contudo, e se ele já soubesse?

— Isso mesmo, minha cara Sophie! — Riu com escárnio. — Seu pai quase implorou para que casasse contigo! Haaaa, sinceramente prefiro te jogar naquele penhasco a conviver com você, mulherzinha insípida e monótona. Quem não acreditaria que a patética menininha tropeçou nos próprios pés e caiu? Lógico que tentei salvar minha adorável noivinha...mas pode ficar tranquila, você não vai morrer sem saber o que é um homem de verdade! — afirmou com aquele olhar nojento.

Não, não é possível, o que está acontecendo? Só pode ser um pesadelo ou uma piada muito cruel. Meu Deus! As histórias que contavam sobre ele, tudo era verdade fui muito inocente em realmente acreditar que ele não chegaria a ser tão desprezível assim. Nem em meus piores pesadelos poderia pintar um quadro desse momento...isso é surreal!

— Meee solta por favor... — minha voz saiu irreconhecível, senti dores muito fortes em meu pulso onde ele segurava com sua outra mão, com mais um pouco de força creio que ele poderia quebrá-lo. Estava perto de perder os sentidos, quando ele afrouxou seu aperto o suficiente para eu respirar.

— Calma minha ex-futura noiva, você não vai assim tão fácil, primeiro quero garantir que vou me divertir um pouco com você. — Passou sua língua nojenta em meu pescoço, senti a bile subir até minha garganta. — Te quero bem acordada garota. Vai aprender da pior maneira como deveria ter se comportado comig...

Não terminou a frase, foi jogado longe por um vulto encapuzado que apareceu de repente por entre as árvores. Senti seu aperto sumir e despenquei ao chão mole e fraca. Bati minha cabeça com tudo numa raiz grossa, meu cérebro mandava correr mas minhas pernas não obedeciam, minhas vistas ainda borradas, minha respiração ainda sem ritmo, senti que logo desmaiaria, pude ver um vulto socar repetidas vezes a cara asquerosa de Anton. O vulto veio na minha direção dessa vez, enquanto minha mente se tornava apenas um borrão. Não sei se ele percebeu o que estava acontecendo aqui, mas ele salvou minha vida.

— Por que, por quê vocês mataram a corça? Não vai falar nad... — Pude ter um leve vislumbre de olhos azuis irados e um rosto barbudo, até finalmente desmaiar.

CAMINHOS CRUZADOS (Crossing Lives)  Degustação(Em Breve Novidades!)Onde histórias criam vida. Descubra agora