Capítulo 1

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Olhei para o relógio em meu pulso. Dez e vinte da noite, ainda bem que era sexta feira, eu estava exausto. A semana havia sido uma loucura. Além de todos os problemas cotidianos da empresa, ainda tive de lidar com o incidente em que Anabel, minha “meio irmã”, havia se metido. Anabel e eu não tínhamos laços de sangue, meu pai Raul casou-se com sua mãe Helena quando eu tinha dezenove anos e Anabel treze.


Minha mãe, Sarah, morreu quando eu tinha apenas quinze anos, e depois de sua morte, meu pai que sempre fora um homem amoroso e trabalhador ficara arrasado e totalmente diferente do homem que era, de forma que quando Helena entrou em sua vida eu fiquei feliz por ele e não opus qualquer resistência quando ele anunciou depois de alguns meses que se casaria de novo.


Helena era uma mulher maravilhosa, viúva também, amorosa e paciente e sempre me tratara com carinho e respeito, jamais tentou forçar meus limites, sabendo exatamente como se comportar comigo, e consciente de que não deveria tentar ser mais do que eu queria que ela fosse, uma boa companheira para meu pai. Anabel por outro lado, depois que atingira a adolescência ficara impossível, ela perdera o pai ainda muito nova, tinha somente oito anos, era uma criança e diferente de mim, não soube lidar com a perda, de forma que virara uma garota difícil e geniosa. Eu gostava dela, não podia dizer que não. Sempre tentei ser paciente e ajuda-la da melhor forma possível. E senti desde o inicio que Anabel via em mim um porto, alguém que sabia que podia contar, e eu a amparava sempre que necessário.


Depois do casamento, Helena e Anabel vieram morar conosco na mansão de nossa família. Meu pai, sempre preocupado comigo, ainda tentou fazer com que nos mudássemos, pois ele achava que eu não lidaria bem com o fato de ele trazer outra mulher para a casa em que minha mãe vivera. Meu pai realmente não me conhecia muito bem, era sempre preocupado demais. Eu já era um homem e compreendi perfeitamente a situação, de forma que garanti que não havia necessidade de nos mudarmos, então passamos a viver todos juntos naquela casa, por mais de um ano após o casamento deles, até que fui para a Universidade, passando mais de três anos na Europa, só os visitando ocasionalmente, sendo que nas férias aproveitava para viajar e conhecer o maior número de cidades do velho continente.


Meu pai faleceu seis meses depois que voltei para casa, parecia que ele apenas me esperava, pois assim que retornei e assumi junto com ele a direção da empresa ele passou a me ensinar tudo que podia, foi como um curso intensivo. Assim que me sentiu preparado para levar seu império adiante ele simplesmente se foi. Raul Rivera, um homem que sempre se cuidara, tanto de seu corpo como de sua alma, doando milhões para caridade, sofrera um infarto fulminante, deixando para mim seu filho, Diego Santoro Rivera aos vinte e cinco anos, a tarefa de cuidar de Helena, Anabel e sua Herança, um legado de gerações. O grupo Rivera possui ações de muitas empresas em diferentes seguimentos, espalhadas pelo mundo, sendo que o controle de tudo fica aqui em Miami.


Mesmo tendo muita responsabilidade em mãos, jamais senti necessidade de me mudar, pelo menos não de cidade, eu adorava viver na Flórida. Viajei praticamente o mundo inteiro, mas não tencionava viver em outro lugar, eu simplesmente amava a cidade. No entanto depois da morte de meu pai, decidi que precisava de espaço, então mudei-me para um apartamento no centro da cidade, deixando Helena e Anabel na mansão, apenas visitando-as de vez em quando, ou em casos especiais como no dia anterior, quando Anabel aprontou mais uma das suas, saindo com seus “amigos” em plena quinta feira e bebendo até perder a noção de tudo.  Quando isso acontecia, Helena me ligava desesperada e eu como sempre ia em seu socorro, procurava Anabel por todos os bares e boates da cidade até encontra-la, o que demorava um pouco as vezes, ontem por exemplo só consegui acha-la quando já eram quase três da manhã.

Salve-meOnde as histórias ganham vida. Descobre agora