Conselho que não dá conselho

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Um homem de meia idade, exageradamente loiro tossiu sem graça. — Não sei majestade, nenhuma ideia me vem agora.

Meu pai novamente sussurrou. — Esse é Dante da casa Andraste, um verdadeiro inútil.

Assenti concordando, achei isso logo de cara.

Os outros dois conselheiros também negaram, Tiago se virou para o conselheiro Pedro falando ríspido não conseguindo mais esconder a falta de paciência.

— E você, alguma ideia para resolvermos isso?

— Bem... — Ele passou a língua pelos lábios parecendo nervoso e logo olhou para o rei ainda mais ansioso.

—... Acho que poderíamos deixá-los mais satisfeitos, bem... — Novamente ele molhou os lábios com a língua antes de continuar e me senti incomodada com esse gesto repetitivo.

—Talvez majestade se vossa graça puder liberar algum benefício à casta suprema e a alta socied...

Tiago levantou brusco e espalmou as mãos na mesa e o homem se calou, já eu, dei um pulo de susto.

— Então é isso! Então tudo se resume a benefícios, a única intenção de todos aqui é poder voltar com o harém, acho que isso já foi discutido, não uma ou duas vezes nesse conselho. — Tiago alterou a voz ao continuar. — Mas muitas! As mulheres não mais serão usadas como moeda corrente, elas ganharam a liberdade nas novas leis do tratado que foi assinado pelos três líderes das raças e isso, é uma decisão definitiva!

Pedro levantou nervoso, seus olhos denunciavam seu medo de ter ido longe demais, ainda assim o olhar ofídio mostrou que sua cobiça era maior que seu medo.

— Majestade, não precisa ser para todos, pensamos em um clube onde poucos possam...er... Se divertir um pouco, fazer seus negócios, melhorar as finanças e ...

Tiago se aproximou do homem que parou de falar o olhando assustado, talvez pela primeira vez naquela reunião o vendo como o rei e não como um moleque manipulável.

— Quando vocês... — Ele Apontou o dedo para cada um deles que estavam surpresos com sua reação, voltou o dedo e cutucou com raiva o peito de Pedro.

—... Me procuraram, disseram que queriam ajudar a fazer prosperar esse reino. Que entendiam as mudanças e estavam dispostos a ajudar.

Desde então nesses dois meses de conselho, só o que consegui de vocês foram informações sobre anarquia, sobre o quanto os homens estão desgostosos e muitos revoltados, só ideias relacionadas ao bem das castas mais abastadas e, no entanto...

O maxilar de Tiago enrijeceu, mesmo dali eu pude ver que ele estava trincando os dentes, quando ele voltou a falar dava até para sentir sua ira.

— Nada de ideias que façam a melhoria do reino como um todo, nada de soluções vinda de vocês. Acham que o reino Humanis é feito apenas das castas nobres?

Ele olhou para o tal Dante. — Você! Sua função qual era mesmo? Diga-me!

O homem piscou algumas vezes. — Bem... Tenho que pesquisar meios de sanar a miséria da casta última, montar projetos que ajudem a diminuir a violência e mortalidade já que muitos estão se matando por um pão.

Até imaginei isso e fiquei ainda mais ansiosa para andar pelo reino e ver o que eu poderia fazer, meu foco eram as crianças, pobres pequeninos que nem culpa tinham. Mas aí me vinha à mente os idosos que com certeza estavam passando fome e depois...

As mulheres largadas, se as noticias que chegaram ao reino sombrio fossem verdadeiras, qualquer um que se dispusesse a ajudar, não estaria ajudando o rei, mas salvando uma vida inocente da miséria absoluta.

Tiago assentiu para as palavras do homem e se aproximou dele um pouco mais. — E no entanto, pedi a você um projeto simples de uma horta, ideia dada por uma pessoa que nem é do conselho, diga-se de passagem, e nesses dois meses você ainda não me trouxe isso, nem mesmo tocou no assunto em nenhuma dessas malditas reuniões que tivemos.

Senti um friozinho na barriga. Ele leu minha carta! Aceitou minha sugestão! Será que ele sabia que era minha? Isso não importava, ele deu atenção a minha ideia!

Sorri involuntariamente. Me sentia orgulhosa do rei, ou talvez orgulhosa de seu gesto, ou de mim... Não sei o que estava sentindo na verdade, mas era um sentimento bom.

Tiago continuou a pressionar Dante. — Porém... Você sabe manipular membros do conselho para o próprio benefício.

Acabei entendendo aquela acusação, foi Pedro quem sugeriu voltar o harém, mas pelos vistos, foi a mando de Dante, realmente o homem era uma cobra.

Ele gaguejou ao responder. — Eu não manipulei nenhum conselheiro majestade e quanto a horta, a ideia é que seja fora do reino, isso tornou tudo mais difícil, as fazendas podem ser perigosas...

— Cale a boca! Não me venha com isso, você não se deu ao trabalho nem mesmo de pesquisar a área e adivinhe grande conselheiro inútil que eu tenho.

Dante ficou estático esperando Tiago continuar.

— A fazenda já foi escolhida, já está sendo preparada toda a estrutura e as famílias da última casta que manifestaram interesse já estão sendo cadastradas, logo estarão produzindo.

Nervoso, o homem vasculhou em seus papéis e eu senti uma vontade imensa de irromper pela porta e abraçar Tiago, ele não só aceitou minha sugestão como colocou em prática.

— Mas... Não estou sabendo de nada disso. — Disse Dante, gaguejando e ainda revirando os papeis.

— Claro que não. — Tiago Falou mordaz. — André reuniu alguns homens dessa casta e junto com eles e graças a essa ideia muito inteligente por sinal, desenvolveram a ideia.

Sorri de modo involuntário, mais ainda por ele não saber que eu estava ali, senão eu ia achar que era apenas um charme, mas foi genuíno e senti meu coração amornar de amor naquele momento.

Meu pai se virou para mim e piscou, ele sabia que eu estava emocionada por ver uma ideia minha sendo debatida ali e também pelo elogio do inocente rei que nem sabia que estava sendo observado.

Tiago passou a mão pelos cabelos e se virou olhando para todos com um sorriso largo, logo ele fixou os olhos brilhando no homem e senti que ele estava feliz com o que ia dizer.

— Por isso Dante. Está dispensado do conselho, não preciso dos seus serviços, pode ir.

Primeiro o homem ficou olhando surpreso para Tiago e logo, como se tivesse acabado de lembrar com quem estava falando, ele fez uma reverência forçada e vi em seus olhos o ódio crescendo.

— Pronto... — Meu pai falou preocupado. — Mais um inimigo para a já vasta coleção do rei, mas ele está certo, não pode mais permitir que tentem manipulá-lo.

Assenti. — Inimigo bom é o que logo mostra a face, é sempre mais fácil lutar contra um perigo conhecido.

— Sábias palavras filha.

Na verdade não eram minhas essas palavras, ouvi de Rael um dia antes da batalha sombria, no dia que ele nos mandou para a vila mais distante do reino para nos proteger. Ele havia dito isso em resposta ao príncipe Nicolae quando ele manifestou sua preocupação com a obsessão de Samuel sobre sua companheira Diana. Nunca mais esqueci essa frase e agora eu entendia essas palavras bem mais que antes.

u.u Espero que tenham gostado, deixem seus comentários para eu saber o que acharam e me doem uma estrelinha :P Beijooo

Tratado dos Párias- O rei rebelde. ( Degustação)Where stories live. Discover now