Capítulo 1

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Não é todo dia que você tem que lidar com uma situação dessas. Mas, às vezes, tudo dá errado mesmo. Quando isso ocorria com Patranha, ele continuava tentando com as suas opções mais improváveis. Ele costumava lembrar a si mesmo que foi com um cajado de pastor que Deus libertou o povo do Egito.

Patranha ainda não estava muito acostumado com a versão 17 da Magnólia, o veículo construído pela Engenharia da Agência Missionária para uso em situações de risco.

Some-se a isso o fato de que o veículo, agora voando como um jato pelos ares, estava sem estabilidade numa velocidade de 400 quilômetros por hora.

Coloque ainda a necessidade de Patranha voar numa velocidade ainda mais rápida, pois estava em uma missão urgente: levar um antídoto até uma das Ilhas Carolinas isoladas no Pacífico, para uma família missionária. A filha pequena havia sido picada por uma cobra cujo veneno age de forma rápida e mortal.

O agente da Protege estava especialmente preocupado pois ele recentemente soubera da primeira gravidez de sua esposa. A paternidade, para Eurico, era algo tão novo quanto o medo que surgiu com a notícia.

Será que ele conseguiria cuidar de um filho? Será que ele conseguiria protegê-lo de todos os perigos da vida? Afinal, será que chegaria a tempo para levar o antídoto? Os pensamentos ficavam assim: misturados. E a vida da filha de um missionário estava em jogo. Se ele falhasse, tudo estava perdido...

E o motor falhou...

Gaaaarbrrrr... o motor de Magnólia estourou de uma vez. Um longo rastro de fumaça suja servia de rabiola para o veículo que cruzava o céu do Pacífico.

Magnólia foi perdendo altura até, finalmente, entrar em colapso e parar de funcionar completamente!

Agora, considere que Patranha está em queda livre sobre o extenso Oceano Pacífico, a mais de 2 mil pés de altura. Complete os problemas daquele dia com o fato sabido por todos de que Patranha não sabia nadar...

- Livingstone... estamos numa pior! - disse ao seu ratinho de estimação.

Então, Patranha abandonou o veículo em chamas.

O ratinho, agarrado aos ombros do amigo, vencendo o vento que arrepiava os seus pelos cinzentos, fez o gesto de abrir um guarda-chuva. Era óbvio...

"Nunca saia sem um guarda-chuva", dizia a mãe do agente.

Patranha arrancou rapidamente seu guarda-chuva preto e pontiagudo e abriu-o como um paraquedas, de modo que foi seguro pelos ares, e passou a deslizar como uma folha caindo no mar.

Quando já estava quase tocando as águas do Oceano, emborcou o guarda-chuva e montou nele, como em uma canoa!

Você se surpreenderia com o que é verdade nesta história...

- Precisamos pedir um paraquedas ao doutor Abraão.

"E uma bóia inflável..." teria dito o ratinho.

Mas os problemas ainda não haviam acabado. Torturado pelo sol a pino, tendo apenas os braços como remo, Patranha navegou pelo azul sem fim. Depois de horas, finalmente encontrou uma ilhota, minúscula, ao longe.

Mesmo com os braços exaustos, conseguiu aportar na ilhota, que deveria ter apenas uns 60 metros quadrados: era uma pequena porção de areia com um extenso coqueiro ao centro, somente.

Assim que se recompôs do cansaço, Patranha pegou seu tablet e tentou se comunicar com Marlene, secretária da Protege.

- Escritório da Protege, boa dia.

- Marlene, é o Eurico.

- Quer que eu passe a sua esposa? - a secretária sabia que o agente não era de muita conversa.

- Não, obrigado. Me passe apenas para o sr. Otávio e para a sra Lúcia... por favor.

Ele não queria deixar a esposa nervosa.

- Eurico, que bom falar com você! Você está em missão?

Sr. Otávio e sra. Lúcia eram os intercessores mais ativos do agente. E, a julgar pela correria extraordinária das missões dele, o casal tinha muito trabalho.

- Preciso que intercedam de modo especial por esta missão... não sei se irei concluí-la a tempo...

Um Patranha sempre completa a sua missão. E nesta, em especial, ele não poderia falhar.

Mas falhou... você vai ver...

Patranha e o antídoto da GraçaWhere stories live. Discover now