Não havia muito o que fazer, a não ser esperar... esperar pelas suas vítimas, esperar por mais mortes. Aguardar para visitar suas famílias, e colher as informações que aquela gente triste tinha para lhe dar.

Agora, Neila e Donna acabaram de adentrar o pequeno hotel, no qual ficariam até a próxima semana, uma garota foi assassinada ali perto, mas sua família se recusara a conversar com elas num primeiro momento, mas como tinham esperanças de que mudassem de ideia, avisaram-na onde permaneceriam pelos dias seguintes.

Donna entregou-se a um banho demorado, estava exausta, triste e cada vez mais decepcionada. Através dos boatos ouvira que as meninas mortas foram torturadas antes de serem assassinadas, mas não sabia se era mesmo verdade. O que sabia, era que não importava o que de fato estava acontecendo, Vincent era o culpado. Donna compartilhava da dor daquela gente, mas sentia como se ninguém compartilhasse da dela, se sentia sozinha e infeliz.

O medo também se fazia presente em seus dias, receava fracassar, vê-lo impune para sempre, e pior, imaginava-o ferindo a ela e a sua filha.

Embora nunca tivesse o desprazer de se deparar com um dos cadáveres deixados por Vincent, os relatos sofridos daquelas famílias e a miséria a qual assistia, lhe faziam muito mal, a afetavam em demasia.

As lágrimas escorriam por sua face, misturando-se a água do chuveiro, quando Donna começou a sentir uma vertigem, não era a primeira vez, as tonturas se tornaram frequentes no último mês, provavelmente por ficar horas abaixo de um sol escaldante ou mesmo pela má alimentação. Donna não pensava sobre isso naquele momento, aliás, pensou apenas em desligar o chuveiro, sair dali e destrancar a porta do banheiro, mas não deu tempo, em dois segundos estava inconsciente no chão.

Neila já começava a se preocupar pela demora de Donna em sair do banho, ela nunca havia demorado tanto, então resolveu chamar a amiga, mas não obteve nenhuma resposta.

— Donna, por favor, responda! — insistia. — Estou preocupada com você! — Tudo que ouvia era o barulho da água do chuveiro caindo.

— Donna! — Nenhuma resposta. — Me desculpa, mas vou ter que entrar. — avisou movendo a maçaneta, percebendo que a porta estava trancada, ela suspirou ainda mais preocupada, pressentindo que algo de ruim havia acontecido.

Neila pensou em chamar ajuda, mas o atendimento do hotel não era dos melhores, se alguém viesse, certamente poderia demorar, além do que não sabia exatamente o que iria encontrar. Talvez Donna apenas quisesse ficar sozinha debaixo do chuveiro, mas não, não podia ser, ela iria avisar caso não quisesse ser incomodada.

A guia procurou apressada por um grampo em suas coisas, uma presilha já ajudaria, mas viu que não se lembrou de carregar nada do tipo, então correu até os pertences de Donna, vasculhou sua bagagem, onde também não havia nada, apanhou a bolsa da amiga e engoliu em seco ao se deparar com a bainha de onde retirou uma pistola, mas devolveu-a logo e continuou a procurar. Não encontrou nada que fosse útil para aquela ocasião, lembrou dos documentos que tinham juntado sobre aqueles assassinatos, neles haviam muitos grampos, foi até eles, que estavam guardados numa pasta escondida no armário.

Com um grampo nas mãos, esticou-o por inteiro e foi até a porta, que conseguiu abrir em menos de dois minutos. No box, se deparou com Donna caída no chão, estava nua, deduziu logo que a amiga desmaiara durante o banho.

— Donna! — gritou enquanto desligava rapidamente o chuveiro, abaixando-se sobre ela em seguida. Ao remover parte do cabelo que estava sobre o rosto de Donna, notou um pouco de sangue em seu nariz.

Com cuidado, passou os braços por debaixo da cabeça dela, chamando-a, mas a americana não dava sinais de voltar a si. Com dificuldade, ergueu o corpo de Donna, após colocar os braços dela sobre seu ombro. Levantou-a e a levou lentamente para fora do banheiro, deitando-a sobre a cama.

O Ceifador de Anjos: A Última CeifaWhere stories live. Discover now