Para jovem princesa Clementine, Anne-Marie era como a primavera: agradável e delicada, colorindo o mundo com suas flores, perfumando a cidade e levando para longe os últimos resquícios do inverno.
Ambas tinham algo a mais em comum: quando elas vão...
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O inverno estava sendo muito rigoroso naquele ano na Corte Francesa.
Contudo, nem as tempestades recorrentes daquela época do ano foram obstáculo o suficiente para impedir que os majestosos bailes promovidos pela excêntrica Maria Antonieta continuassem transcorrendo.
Esta noite haveria mais um.
O interior do Palácio de Versailles já encontrava-se devidamente arrumado, de forma pomposa e ostensiva, do jeito que a rainha gostava. Boa parte da nobreza também já se fazia presente. Os homens, discutiam alvoroçados entre si sobre os mais diversos assuntos, alguns parando apenas para lançar gracejos quando uma bela senhorita lhe passava por perto. Já as mulheres, todas vestidas luxuosamente, entraram numa competição silenciosa com o objetivo de saber qual ali era a mais bela.
Clementine suspirou.
Desde o início das festividades a jovem princesa tentava esconder-se num dos cantos mais escuros do salão reluzente de Versailles. O tecido do vestido estava lhe pinicando, os sapatos de salto agora apertavam-lhe os dedos dos pés, e a mistura de perfumes acentuados que pairavam pelo ambiente irritavam-lhe o nariz.
Como ela detestava essas convenções sociais! Mas ser filha do Duque e da Duquesa de Pompadour obrigavam-na a se submeter a tal tipo de coisa, e qualquer recusa seria vista com maus olhos pelo restante da corte.
Clementine voltou seu olhar desanimadamente para o centro do salão. Lá encontravam-se os jovens casais, dançando e rodopiando. Trocando carícias veladas e roubando beijos furtivos.
Um estranha sensação afligiu a jovem princesa.
Angústia. Melancolia.
A respiração ficou presa em sua garganta, a sensação é que ela iria sufocar a qualquer momento. O coração irrompeu num ritmo descompassado. As mãos ficaram trêmulas. E a visão enevoada.
Ela precisou sentar-se.
Isso sempre acontecia quando lembrava-se dela. Era sempre assim.
Contemplar tal cena lembrou-lhe da mulher a quem amava. Lembrou-lhe da mulher a quem tanto prezava, a ponto de abdicar de sua própria posição na corte. Abdicar de sua própria vida. Lembrou-lhe da mulher a qual seu amor foi negado.
Ela lembrou-se de Anne-Marie.
✿ ✿ ✿
No mais tardar daquele mês Clementine decidiu que finalmente estava pronta. Já fazia muito tempo em que ela tentara evitar esse momento, mas o fato é que ela não podia mais esquivar-se de Anne-Marie. Não poderia mais evitar que as palavras lhe fugissem pelo canto dos lábios, dizendo o que outrora sentira pela jovem vendedora de rosas.
