Não foi difícil identificar a guia, já que logo a viu acenando para chamar a sua atenção. Donna percebeu que ela estava vestida como havia avisado antes do embarque, com um vestido longo de capulana estampada com formas tribais nas cores laranja, amarelo e verde, que iam até seus pés, deixando apenas parte das sandálias pretas à mostra. O cabelo estava cuidadosamente coberto com um turbante de cor laranja, enquanto o rosto belo e negro ostentava uma maquiagem leve nos olhos, contrastando com o batom roxo que trazia nos lábios carnudos.

— Neila Dupont? — confirmou retirando os óculos escuros ao se aproximar da mulher que lhe direcionava um sorriso largo e simpático.

— Muito prazer, senhorita Dixon! — Neila falou em inglês ao mesmo tempo em que estendeu a mão, exibindo algumas pulseiras coloridas no pulso.

— Me chame de Donna, por favor! O prazer é meu! — respondeu apertando a mão da guia sorrindo. — Estou mais tranquila por te ver aqui! Estava preocupada, como eu disse, meu francês é horrível e não falo absolutamente nada em árabe!

— Eu disse que estaria, sei bem como é estar num lugar desconhecido com pessoas desconhecidas — falou gentil.

— Imagino, pelo que me disse, já viajou o mundo!

— Eu diria quase... — Riu. — Venha, você deve estar com fome, já passou do horário de almoço. Vamos comer aqui pertinho e aí te deixo no hotel para você descansar! Eu te ajudo com a bagagem, será mais fácil para você desviar das outras pessoas — falou puxando a mala de carrinho para si.

— Obrigada! Neila, na verdade estou sem fome, mas vou aceitar o convite para nos conhecermos melhor! — disse enquanto seguia a guia a passos largos.

— Fico contente! Ah, te olhando agora, acho que suas medidas são basicamente as minhas, então vou separar algumas peças de roupa para você, porque se está pensando em usar o que usaria na Califórnia, não irá aguentar o calor! — falou olhando rapidamente para Donna dos pés à cabeça, que trajava uma calça jeans apertada e uma jaqueta preta.

— Neila, não sabe como agradeço, mal pousamos, eu senti mesmo a mudança de temperatura. Nessa época do ano, faz frio em Los Angeles. — Sorriu.

— Aqui é simples, mas é limpo, a comida é boa e o atendimento é muito bom — falou para Donna ao se aproximar da porta do restaurante. — Vamos nos sentar naquele canto, é a mesa mais afastada, então teremos mais privacidade! — Apontou para a mesa vazia e Donna assentiu em silêncio.

Logo que Neila e Donna sentaram, um rapaz miúdo se aproximou com um cardápio em mãos, parecia não ter mais de doze anos.

— Aqui eles começam a trabalhar muito cedo — Neila falou em inglês ao perceber o olhar assustado de Donna para o garoto. — Ele tem sorte de trabalhar num estabelecimento como esse! Muitos, mais novos ainda, estão lá fora, embaixo de sol, fazendo serviços pesados, com pouca remuneração ou nenhuma! — O rapaz não entendeu nada, mas como já conhecia Neila e o seu trabalho como guia de estrangeiros, imaginou que ela estava explicando algo para a mulher que a acompanhava.

— Eu lamento — respondeu Donna perplexa.

— Eu também! — comentou a guia demonstrando tristeza.

Neila ajudou Donna a escolher um prato leve e fez o pedido para o garçom, que logo saiu deixando-as sozinhas.

— Quantos idiomas você fala? — Donna perguntou curiosa.

— Com fluência, seis! Mas me viro em outros cinco. — Sorriu orgulhosa.

— Incrível!

— Obrigada!

O Ceifador de Anjos: A Última CeifaOnde histórias criam vida. Descubra agora