A Rumor In St.Petersburg

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— Ela não morreu! Escute o que eu lhe digo... — os sussurros que rondavam São Petersburgo não paravam por um segundo.
A Revolução Russa em vez de melhorar, trouxe enormes desencantos e piora de vida para os russos, mas enquanto isso, os rumores da sobrevivência da Grã-Duquesa distraía os moradores.
Em quase que tropeços, Vlad Popov, ex-membro do Tribunal Real, caminhava rapidamente por um beco em direção à uma galeria.
Ele checou duas vezes para ver se estava sozinho, antes de dar duas batidas sincronizadas e a porta se abrir automaticamente.
— Bom dia, Vlad — disse uma senhora.
— Bom dia! — ele disse apressado.
Um assobio o chamou a atenção, mas ao virar não via ninguém.
— Vlad! — o sussurro, e provável assobio, veio de um rapaz escorado em uma pilastra. Ele levantou seu rosto e logo Vlad sorriu.
— Ah, Dimitri! — ele exclamou.
— Fale baixo! — ele pediu. —Temos muito a fazer.
Ao chegar ao último andar do prédio, Vlad tentou por algum tempo listar as cotações de uma quantidade interminável de lugares que ele havia visitado até achar o ideal. Um pouquinho antes do meio-dia, Dimitri já conseguia ouvir os vendedores da galeria aumentando o tom de voz e especulando situações relacionadas a possível sobrevivência de Anastasia.
— Dimitri, eu consegui o teatro que me pediu — Vlad informou. E com teatro, ele quis dizer que o Palácio que um dia pertenceu aos Romanov estava mais deserto que nunca. Dimitri sabia disso. Ele conhecia aquele lugar com a palma de sua mão.
— Tudo de acordo com o plano! — a voz de Dimitri se encheu de entusiasmo. — Agora só precisamos da moça.
— Sem mais documentos falsos, sem mais roubos...
— Teremos três passagens para sair daqui. Uma para mim, uma para você e uma para Anastasia! Iremos ensinar alguém que sirva para esse papel, e então a levaremos para Paris! Imagine só a recompensa que a avó dela vai pagar! E a nossa história vai ter um final feliz — ele assegurou.
— São Petersburgo vai ter muito o que falar! —
—Um dia a história vai contar!
Conversamos sobre banalidades nesse estilo durante algum tempo e então, de repente, não estávamos mais falando. Não sei qual dos dois desligou com um estalo agudo, mas nenhum deles se importou. Os dois perceberam que não seria possível, naquela manhã, conseguir achar uma garota para fingir ser a Grã-Duquesa, nem que fosse a última oportunidade que tivessem de achar uma garota neste mundo.
Quando passaram pelos vendedores de rua naquela mesma tarde a caminho do palácio, Vlad lembrava-se que no dia da execução dos Romanov, ele tinha escolhido de propósito o outro lado do vagão que percorria a cidade. E que tinha uma multidão de curiosos próxima ao palácio. A aquela altura,
a trágica morte dos Romanov jamais seria esquecida.
Por alguns meses, tiveram muita dificuldade em localizar a imperatriz, Maria, pois naquela noite, ela devia ter realmente perdido sua alma.
Quando tornou a perder não só o filho, mas todos os netos, até mesmo a que sobreviveu. A imperatriz desmaiou na mesma hora, como se essa fosse a pior parte da ocorrência.
O palácio nunca tinha lhes parecido tão imenso como naquela mesma tarde, enquanto procuravam cigarros de salão em salão. Afastavam as enormes cortinas e procuravam ao longo de paredes que pareciam infindáveis, alguma abertura para permitir a entrada da luz.
Havia uma quantidade inexplicável de poeira por toda a parte; e as salas tinham cheiro de mofo, como se não fossem abertas e arejadas há muitos dias. Vlad descobriu um porta-cigarros sobre uma mesa de que não se lembrava, contendo dois cigarros velhos e ressecados. Abrindo as janelas da sala de visitas, que eram envidraçadas de cima a baixo, sentaram lado a lado para fumar no escuro.
Na mente de Dimitri, a voz de dois homens que conversavam pela rua ecoava várias e várias vezes.
"—Ela morreu ou não?
— Quem sabe..."

Quem sabe, shh.

AnastasiaWhere stories live. Discover now