Goodbye

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Eu gostava de pintar.

Gostava de pincelar aquelas paredes antes tão brancas, sem graça. Gostava também de sentir a textura da tinta nas mãos, a temperatura fria em contato com minha pele que sempre queima em excitação quando sigo com meus materiais até àquela praça cuja já me era conhecida. Gostava de colorir. Era bom saber que eu, com apenas alguns simples instrumentos, podia tornar algo sem vida em pinturas aleatórias de pessoas, coisas e lugares — tudo dependia do que se passava em minha mente confusamente engenhosa —, e modéstia parte, bonitas. Satisfação, eis um sentimento que define isso muito bem.

Mas o que eu mais gostava mesmo era de vê-lo ali, com seus tons de cabelo que mudavam a cada mês, ou até mesmo semana, e seu tão amado skate, observando minha arte minuciosamente. Era bonito. A forma como ele parecia sempre tentar captar e entender as mensagens daquilo que eu desenhava era bonita.

E eu gostava daquilo.

Gostava do contraste que suas roupas baratas e despojadas faziam com a feição delicada e centrada. Gostava de assisti-lo sentar sobre o skate, com o rosto apoiado nas mãos, enquanto era agraciado com minhas obras. Gostava daquela parte da sua rotina até então imutável. Gostava dele.

Todos os dias era a mesma coisa. Eu pintava; ele saia da pista de skate alguns minutos depois, aproximava-se e olhava para os novos desenhos de relance antes de depositar seu objeto de fascínio no chão e se sentar sobre. E agora vem meu momento favorito: ele tombava levemente a cabeça pro lado e apreciava todas aquelas artes feitas pelos meus tão preciosos pincéis e tintas. Mas, depois de meses apenas observando-o de longe, resolvi criar coragem para me aproximar e tentar um diálogo.

Passando as mãos pelo cabelos numa tentativa frustrada de arrumá-los, caminhei a passos largos até o agora loiro, pondo-me em pé ao seu lado.

Gostou? — questionei direcionando meu olhar à parede colorida. E ele finalmente me olhou. E eu o olhei também.

Ele tinha lindos olhos escuros.

— Como? — A confusão se fazia presente em sua voz, assim como em seu rosto. Notei seu nariz enrugar um pouquinho, deixando sua expressão confusa em evidência.

Ele tinha uma linda feição confusa.

— As pinturas. Você gostou das pinturas? — expliquei enquanto sentia meu rosto queimar com seu olhar penetrante que me analisava milimetricamente, como se procurasse ver através de mim. Ele sorriu.

Ele tinha um lindo sorriso.

— São incríveis. — Ele voltou seu olhar às pinturas e me permiti encarar seu rosto de perfil.

Pele alva; olhos afiados que mais pareciam duas meias-luas quando sorria; nariz bem desenhado, delicado; lábios cheinhos e rosados — tentadores, eu diria; sorriso grande onde parte da sua gengiva aparecia, junto dos dentes pequenos e tão bem alinhados. Bonito. Muito bonito.

— E você, gosta delas?

Sua voz baixa, rouca e suave — preciso lembrar-me de adicionar isso na lista de coisas bonitas no skatista até então desconhecido — me fez sair de meus devaneios e lançar um sorriso encabulado em sua direção.

— São mesmo muito bonitas. — Aproximando-me mais, indiquei o espaço ao seu lado com o indicador. — Posso...?

— Min Yoongi. À vontade. — Afastou-se um pouco mais e me sentei próximo de si enquanto repassava seu nome na mente.

spring flowersWhere stories live. Discover now