Correntes de uma Libertação

Capítulo 3 -Palestra

            O que está acontecendo comigo? O que estou sentindo? Ele termina a palestra, me assusto com os aplausos, os que estão cada um ao meu lado levantam-se para aplaudir, eu instintivamente os sigo, levanto o que está no meu colo caí, abaixo-me para pegar, ele está exatamente à minha frente, sobre o palco numa posição mais elevada, começo a pegar tudo levanto os olhos os dele estão em mim, a jovem ao meu lado abaixa-se para me ajudar a pegar tudo.

            Todos voltam a sentar-se ainda teremos 20 minutos para debater, as pessoas começam a se inscrever para perguntar. Minha vontade é perguntar quem é ele, por que está fazendo isso comigo, o que quer de mim. Me sinto uma idiota ao pensar assim ele nem sabe quem eu sou, estou ficando maluca fantasiando que ele me viu, que lembrou do esbarrão numa garota sem graça e sem um botão na saia.

            Sinto-me a mais bizarra naquele auditório, não prestei a atenção em nada a não ser no palestrante, se me perguntarem alguma coisa não faço a menor noção do que foi tratado do que foi mostrado, mas estou ali presa na cadeira e todos começam a sair, dois professores o estão cumprimentando no palco, ele começa a desdobrar a manga da camisa, sinto borboletas voarem em meu estômago.

             O auditório já praticamente vazio alguns alunos ao redor dele o acompanham na descida do palco, finalmente começo a mover-me da cadeira, faço com cuidado, não quero novamente derrubar tudo, deixo separado o manuscrito dele, fico um pouco afastada esperando.

            - Então Hunter vamos almoçar?

            - Acho que será uma boa hora, estou realmente com fome.

            - Perdão Professor, não sei se o senhor se recorda de mim, mas nós...

          Os três se viram para mim ao serem interrompidos em sua conversa sobre o almoço. E nem termino de falar o que comecei.

           - Nos esbarramos na entrada da biblioteca, eu estava entrando e você saindo e acabei derrubando seus papéis.

           Sem graça eu o desminto.

           - Bem na verdade fui eu quem esbarrou ao sair distraída.

            Ele olhou firme em meus olhos, senti um olhar de reprovação, quando se é contrariado, o mesmo que nossos pais nos dão quando estão dizendo algo a alguém e os contrariamos.

            - Professor é que na confusão esses dois papéis seus ficaram misturados aos meus, e quando soube da sua palestra eu vim para devolvê-los.

           Estendi os papéis para ele, minha mão tremia eu havia imaginado esse momento, como aconteceu quando ele pegou num dos meus e em minha mão junto, mas ele pega na outra ponta. 

            - E seu deu ao trabalho de assistir a toda a minha enfadonha falação apenas para me devolver.

            Fiquei totalmente sem graça, sem jeito sem saber o que dizer.

            - Vamos então Hunter?

            - Vamos sim.

            Ele olhou para mim.

            - Vamos almoçar.

            Eu fiquei olhando para ele, mais assustada do que se tivesse visto um fantasma, uma alma penada, ele está dizendo que vou almoçar com eles. É isso? Ele não me perguntou, ele olhou para mim e disse afirmativamente. - "Vamos almoçar" - Os dois professores saíram na frente e comecei a caminhar ao lado dele, estava com medo de a qualquer momento tropeçar e cair.