— Nada, obrigada! — respondeu olhando para a filha, que parecia alheia aos pais. — Ela é tão linda, Chris!

— Sim, nossa filha é linda! — concordou sorrindo, enquanto a puxou pelo braço carinhosamente, fazendo-a levantar-se e sentar em seu colo. — Você é linda, meu amor! — falou acariciando os cabelos castanhos da esposa, que caíam soltos na altura dos ombros, com as pontas levemente onduladas. — Obrigado! — falou tocando com os dedos os lábios dela, que sorriu feliz.

— Por que está me agradecendo, Chris? — perguntou, ao mesmo tempo em que escorregou as mãos pelos braços fortes do marido.

— Pela nossa família, por nunca desistir de tentar termos um filho, por insistir pela adoção, por ser tão maravilhosa...

— Chris! — interrompeu ela.

— Me deixe falar, Olivia! — disse tocando mais uma vez os lábios da esposa. — Você sabe que meu trabalho exige muito de mim, que nem sempre consegui estar contigo quando queria! E depois de todos esses anos você está do meu lado, obrigado, por não desistir de mim!

— Nunca desistiria de você, Chris! Eu te amo, sei o quanto seu trabalho é difícil e eu te admiro tanto, meu querido! — disse sorrindo.

— Também te amo, Olivia! E você está perfeita nesse vestido, nunca te vi com ele antes — constatou.

— É novo! Comprei porque quando o vi, percebi que é da cor dos olhos da nossa filha — falou olhando para a menina, que estava entretida olhando um rapaz que conduzia um cãozinho na coleira. — Olha como combina! — Sorriu divertida.

— Sim, é verdade! — Sorriu também ao olhar para sua filha. — Reparou o que ela está olhando? — indagou.

— Para aquele cachorrinho! Chris? — chamou encarando o marido.

— Sim, amor, pensei nisso também! Por mim, tudo bem!

— Então compre para o aniversário dela — pediu. — Entregamos depois da festa!

— Tudo bem, amor!

— Obrigada! — respondeu dando-lhe um beijo apaixonado.

— Aqui não é lugar para isso, Ruby! — falou após retirar as luvas, tentando se soltar do abraço que ela lhe dera por trás, acariciando seu abdômen sob a camisa cinza.

— Não seja careta, querido! Aqui é o melhor lugar, ninguém vai aparecer! — comentou insistindo em acariciá-lo, deixando sua mão escorregar para tocá-lo de forma mais íntima, mas Vincent a segurou, virando-se para ela e ficando de costas para o frasco que acabara de fechar sobre uma cadeira, dentro jazia um feto mergulhado em formol.

— Não, Ruby, olha para isso! — falou apontando para o cadáver estirado numa mesa velha de madeira, de onde escorria sangue formando poças no chão. — Não há qualquer clima para... — Ruby o beijou antes de deixá-lo concluir, mas ele a afastou, irritado. — Que droga, Ruby!

— Deixa de frescura, Vince! Esse seu nojinho de sangue tem que acabar logo, deixa eu te ajudar! — falou jogando-se nos seus braços.

— Ruby! — Revirou os olhos ainda mais irritado. — Não entendo como isso pode te excitar! — declarou olhando rapidamente a mulher morta sobre a mesa, onde se percebiam cortes nos braços, pernas, rosto e muitos outros ferimentos na barriga.

— Definitivamente não te entendo — falou aproximando-se da mesa e olhando atentamente os ferimentos deixados no cadáver, todos feitos antes da extração do feto. — Essa inútil tem um cheiro tão agradável! — declarou aspirando o ar devagar.

— Isso é cheiro de sangue, Ruby! — Vince revirou os olhos, enojado.

— Não, querido! Não é só isso! É cheiro de dor, de medo e de morte!

— Ela já morreu, não está sentindo nada disso, querida! — ironizou ele.

— Mas sentiu! E o cheiro ainda está aqui apesar de você não o sentir!

— Você é louca!

— Você também, querido! — falou encarando-o com um sorriso malicioso. — Somos iguais, apenas com gostos diferentes! Gostos peculiares, eu diria! — Sorriu.

— Você não é capaz de entender o que eu...

— Blábláblá! — Revirou os olhos interrompendo-o. — Não me interessa porque você faz, me interessa que você o faz! E faz muito bem — falou erguendo uma sobrancelha. — Apesar de ainda contestar meus modos, somos iguais e você é um tolo ao negar isso!

Vincent cruzou os braços, ciente de que sua parceira estava prestes a iniciar uma palestra sobre quem eles eram.

— Olha para ela! — Ruby apontou para o cadáver, uma garota negra de quinze anos, um corpo pequeno e magricelo. — Quando você lhe tirasse o seu anjinho, ia matá-la depois de qualquer forma! Singelo demais, sem graça e sem emoção! — falou colocando as mãos sobre o corpo ainda quente e o empurrando da mesa, fazendo-o cair em um baque surdo, ao que Vincent suspirou irritado. — Estamos juntos, meu querido, eu te ajudo a ter o que quer! — Apontou fazendo-o olhar na direção do seu dedo, avistando o feto no frasco. — E você me ajuda a ter o que eu quero! — Apontou para o corpo no chão.

— Já entendi isso há muito tempo — interrompeu ele.

— Não parece! — retrucou impaciente. — Isso tudo para mim é extasiante, Vince, um momento sublime e excitante! Então preciso de você, isso é tão óbvio que chega a me cansar — seu tom soou irritado.

— Eu tenho o que quero! — Vince apontou para o frasco na cadeira. — Você tem o que quer! — Apontou para o cadáver e para o sangue no chão. — Estamos quites, não?

— Estaríamos, se não fosse eu a pessoa quem vai te ajudar em Los Angeles, não só nesses seus passatempos, como a encontrar a sua filha, esqueceu? — Sorriu vitoriosa.

— Não acredito que consiga fazer grande coisa — falou irritado.

— Isso prova que não me conhece o suficiente! — Sorriu aproximando-se do biomédico. — Não me conhece como eu conheço você! — falou próximo de seu rosto. — Talvez eu não conheça tão bem assim — disse em tom provocativo. — Porque jamais imaginei que seu nojinho de sangue o faria brochar! — falou ao mesmo tempo em que levou a mão para o volume na calça do biomédico, apertando-o, fazendo-o gemer.

— Sua... — falou agarrando-a pelo cabelo que estava preso em um coque e puxou-a para mais perto do seu corpo, beijando-lhe a boca com um misto de raiva e desejo.

— Isso! — Ruby sussurrou excitada, enquanto ele abria os botões da sua blusa e fazia escorregar a sua calça. Em seguida, Vincent a ergueu pelas nádegas e a levou até a mesa, colocou-a sentada para, finalmente, possuí-la do jeito que Ruby queria.

O Ceifador de Anjos: A Última CeifaDonde viven las historias. Descúbrelo ahora