─ Deus do Céu, você é uma cópia do seu avô.
─ Obrigado. ─ disse com uma discreta esticada de lábios. Não ia ficar rindo para a sra. Dolittle.
─ Não foi um elogio. ─ devolveu, juntando as patas de aranha que ocupavam o espaço das sobrancelhas. ─ Adolf Stantford é a criatura mais intragável que já tive o desprazer de conhecer, e olha que eu conheci muitas.
Eu cogitei mandar a sra. Dolittle descascar batatas, mas ela devia saber onde a droga da Cara de Coruja se enfiara, então apenas me arrumei na cadeira e banquei o surdo.
─ A senhora disse que a Beene estava me esperando, mas desde que cheguei não a vi em parte alguma.
─ Você a procurou?
─ Não, mas ela deveria estar aqui.
─ Eu vou lhe dar um conselho. Vomite esse rei que tem na barriga, ou acabará tão miserável quanto aquele velhote. ─ disse num tom assustadoramente sério.
─ Meu avô não é miserável, ele ganha em um único dia mais do que a senhora já ganhou na vida. As pessoas o respeitam e...
─ Nunca confunda medo com respeito. As pessoas não o respeitam, elas o temem. ─ interrompeu, pousando a mão rechonchuda na mesa. ─ Quanto ao dinheiro, me permita dizer que um homem pode ter todo o dinheiro do mundo e ainda assim ser a mais pobre de todas as criaturas.
Eu fiquei olhando para a sra. Dolittle, pensando em uma resposta à altura, mas antes que pudesse formulá-la ela ficou de pé e saiu andando.
Pois bem, meu pai ficaria sabendo disso.
Dez minutos depois, a Cara de Coruja ainda não tinha aparecido, então eu decidi procurá-la, só porque aquilo estava estranho para porra.
− Beene. - voltei a chamar, os olhos vagueando por entre as estantes ao passar por elas. - Beene.
− Aqui. - ela chiou do final de um dos corredores.
− O que está fazendo ai?
− Shiii. - pediu eufórica, o indicador sobre o lábio.
Me aproximei, ignorando seu alvoroço, atento ao caderno em sua mão.
− O que está fazendo?
− Observando. - disse num murmúrio. - Fala baixo.
Seus olhos se estreitaram ao passo que a boca se curvava num sorriso. Esperei que ela explicasse, mas ela não o fez, em vez disso, ficou na ponta dos pés, olhando por entre os livros e fazendo anotações.
Que merda estava acontecendo?
Resolvi me aproximar mais um pouco, e quase engasguei ao me deparar com a cena que capturara sua atenção.
Meus olhos viajaram do casal que se agarrava à nossa frente para o perfil risonho da Beene, desceram até seu caderno, e quase parei de respirar ao ver as letras grafadas no topo da página: Ensaio sobre o beijo - Parte V.
− Que porra é essa? − minha voz saiu mais alta e chocada do que eu pretendia. O que fez o casal desistir de trocar saliva e olhar para os lados em busca da origem do barulho.
− Calado. - a Cara de Coruja pediu, arrastando-me pelo corredor.
Ela ostentava um sorriso divertido quando parou na nossa mesa e desabou na cadeira.
− Por que estava... - Honestamente, não fazia ideia de como continuar a pergunta, aquilo era um bocado constrangedor, senti as bochechas queimarem.
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Viola e Rigel - Opostos 1
Teen FictionSe Viola Beene fosse um cheiro, Rigel Stantford taparia o nariz. Se ela fosse uma cor, ele com certeza não a usaria. Se fosse um programa de TV, ele desligaria o aparelho. Mas ela era apenas uma maluca expansiva e sorridente que infernizava a sua vi...
Ensaio sobre o beijo
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