Uma nova Leitora

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A Prof. de letras, Ana Luíza, caminhava cabisbaixa atenta a leitura de uns arquivos que havia acabado de imprimir, seus dedos ágeis folheavam as folhas ainda soltas, quando do nada sentiu as folhas voarem e se espalharem pelo corredor da universidade.

Alguém muito desatento havia acabado de se esbarrar nela, um daqueles encontrões da vida; na verdade seria esse o caso, se o homem do súbito esbarrão não fosse o professor Edu, e se a professora em questão não se chamasse Ana.

- Ah, meu Deus! Perdoe-me professora. - disse Edu, que abaixou imediatamente rumo as folhas.

- Só se me ajudar a recolher as folhas. - olhou-o por entre os cílios, enquanto juntava uma a uma as folhas do arquivo.

Era uma linda mulher, alta, de cabelos longos castanhos e ondulados com olhos escuros e marcantes.

Enquanto recolhiam as dezenas de folhas do chão, a professora pegou o livro que eventualmente Edu havia deixado cair no meio da fatídica trombada, assim, colocou-se ereta novamente segurando algumas folhas e o livro.

Edu colocou-se de pé e tratou de entrega-la as folhas que havia recolhido.

- Perdoe-me novamente professora, vinha muito distraído com meu livro e não a vi. - estendeu suas mãos a fim de receber seu precioso exemplar de Anna Karenina.

Antes de devolver o livro de Edu, Ana fixou seus olhos no título e disse:

- Anna Karenina. - pronunciou as palavras de forma lenta enquanto as lia.

Então estendeu sua mão com o livro e o devolveu a Edu.

- Sim, o melhor romance já escrito no mundo. - disse Edu com uma sonoridade deleitosa. - Ao menos na minha opinião. - explicou.

- Sim, é uma história incrível.

-Já leu? - perguntou, Edu entusiasmado.

-Não, não, assisti apenas ao filme. - respondeu-o imediatamente.

-É uma pena que não tenha lido, acho que ninguém deveria morrer sem ler uma obra suntuosa como essa.

- Mas eu conheço a história, eu assisti ao filme.

Edu jogou sua cabeça para trás em uma gargalhada deliciosa e contagiante.

- Perdoe-me, mas o filme é uma afronta a Tolstói, nenhuma das versões do cinema conseguiu capturar nem um terço da essência do livro, se o lesse saberia do que estou falando.

- Conseguiu despertar meu interesse professor Edu, vou agora mesmo passar pela biblioteca e ver se encontro um exemplar.

- Ah! Não seja por isso, empresto-lhe o meu. - estendeu a ela o livro.

- De jeito nenhum professor, o senhor estava lendo.

- Primeiro, não me chame de senhor. - piscou de forma desconcertante, pois fez as pernas da professora vacilarem. -, segundo, tenho várias edições desse livro em minha biblioteca particular, inclusive em russo.

- Se é assim. - ela pegou o livro da mão de Edu e sentiu-se arrepiar assim que suas mãos se encontraram.

Edu não é um exemplar de beleza estonteante, mas tinha um charme irresistível, era um homem de porte avantajado, cabelos curtos castanhos claros e olhos cor de mel, herdou muito dos traços do avô, um nobre que fugiu da Rússia após a Revolução Bolchevique. Quando queria sabia ser envolvente com meia dúzia de palavras.

A versão em português do livro que Edu emprestara a professora Ana, era lindíssima, da Cosac naify, traduzida por Rubens Figueiredo, capa dura com a belíssima ilustração das ruas da Rússia do século XIX.

A Biblioteca IIWhere stories live. Discover now