Capítulo 1.1

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— Não acredito! — falou apertando com força a borda da mesa, com os dentes cerrados. — Por que ele não está preso, o que aconteceu?

— Eu destruí tudo, eu...

— Você, o quê!? Você destruiu as provas que tinha contra um psicopata, com certeza as únicas que poderia colocá-lo atrás das grades!? — indagou estupefato, revoltado com aquela declaração.

— Se me deixar falar, vai entender! — Donna falou exaltada.

Giovani não respondeu, esperando que ela continuasse.

— Quando eu encontrei os fetos, eu estava grávida de oito meses, desci no porão por acaso, queria encontrar alguns pertences da família dele, que eu sabia que estavam lá, foi quando vi a estante de livros um pouco torta, eu fui arrumar e... me deparei com aquilo! Eu surtei, Giovani, naquela hora eu surtei, não pensei no que fazia, eu só sentia raiva, medo e dor! Meu marido, Giovani, meu marido, um monstro! Eu amava a Ade, achava que ele a amava também e ele a matou!

Giovani ouvia calado, perplexo com aquele relato.

— Eu lembro de ter atirado tudo no chão, na parede... lembro do cheiro forte de formol e... das pontadas que comecei a sentir na barriga, logo fiquei apavorada, com medo que Vincent chegasse, que me matasse, que tirasse de dentro de mim, a minha filha! Eu saí dali o mais rápido que pude, lembro de atravessar a porta para a rua e depois não lembro de mais nada! Quando acordei, minha filha já tinha nascido. Eu soube que fui levada para o hospital em estado de choque, que fui sedada, pois entrei em trabalho de parto, mas não tinha condições de cooperar.

— Donna, e-eu sinto muito, eu nunca soube que esteve grávida, que tem uma filha e...

— Vincent estava no quarto, agia como se nada tivesse acontecido, quando eu falei que ia denunciá-lo, ele ameaçou me internar numa clínica de loucos, porque não havia qualquer prova contra ele... era verdade, eu destruí tudo, e ele me disse que eu agredi um casal que tentou me ajudar na rua, antes de ser levada para o hospital. Disse que o próprio médico que fez meu parto, que me sedou, testemunharia sobre meu estado emocional, que seria fácil provar que era decorrente das perdas que tive, da morte da Ade e de uma aluna de quem eu gostava muito e que ele também matou!

— Desgraçado! A Ade o idolatrava! Aquele dia, no hospital, ele me socou porque a Ade perdeu o bebê! Foi apenas um teatro daquele maldito! — observou. — E você... todos esses anos sendo enganada!

— Eu fiquei desesperada, não sabia o que fazer, mas não podia e não queria ir para casa com ele — Donna continuou falando, ignorando o comentário dele. — Então fui para casa do meu irmão, onde fiquei alguns dias e... passei seis meses reclusa em uma clínica psiquiátrica, acusada de matar minha filha. Como fui diagnosticada com depressão pós-parto, meu advogado conseguiu minha liberdade antes do tempo previsto, faz três meses que saí da clínica! — concluiu.

— Não acredito! Ele foi capaz de matar a própria filha e te incriminar?

— Não, ele não me incriminou e também não matou minha filha. Eu forjei seu assassinato, me fiz de louca, convenci todos que a joguei da ponte, então fui internada!

Giovani ouviu atento e boquiaberto, aquilo foi mesmo um ato extremo e inesperado da parte dela.

— E onde está sua filha? — indagou curioso.

— Sendo muito bem cuidada por uma amiga!

— Então você teve ajuda!

— Não! Eu abandonei minha filha na porta da casa dela, e ela e o marido a estão criando, mas não sabem que ela é minha! — declarou, aflita.

O Ceifador de Anjos: A Última CeifaOnde histórias criam vida. Descubra agora