"Café"

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Finalmente chegou. Estava ansiosa pelo café. O redentor da "uma", da "xícara" e quem traz sentido ao "de". A escuridão que amarga e dá importância a água. Importantíssimo na época colonial, vale salientar. Que seria do Brasil sem café, no passado? Ih, nem sei. Sei só que o café interferiu em alguma coisa. E isso não faz diferença.

Café também se refere ao tipo do estabelecimento a que vou todas as manhãs e ao produto que consumo. A propósito, o nome do lugar que vou é "Café Amálgama" e não me pergunte o porquê. Acaso fui eu que decidi o nome? Creio que não. Também não adianta perguntar a autora. O estabelecimento não lhe pertence.

O lugar é particularmente interessante. É uma explosão de cores vibrantes, metálicas, com certa transparência. A única coisa que me traz certo conforto são os bancos escuros de madeira, então sempre tem um deles reservado para mim. Normalmente, o quarto após o banheiro. Caso eu precise usá-lo, não está tão longe, mas não consigo sentir seu cheiro nem ouvir o barulho das descargas. Fora que um senhor acima do peso sempre senta nele às seis e dois, segundo o atendente, então fica bem quentinho — sou tão grata a ele que cogito a hipótese de aparecer lá uma hora dessas para agradecer. Meu atendente favorito é um "de", justamente o que me passou a informação. É gente fina.

Faço questão de ter contato com o líquido diariamente. Não existe sensação no mundo melhor que senti-lo causar uma ardência em meus lábios, aquecendo todo o interior da minha boca e descendo lentamente, provocando-me uma sensação calorosa no lado direito do corpo. Fica tudo melhor quando sinto a ponta dos meus dedos queimando enquanto sopro um pouco a xícara para esfriar, fazendo o aroma encontrar minhas narinas.

De alguma forma, ele deu sentido a isso tudo. Me criou da maneira mais estranha possível. Agradecerei eternamente por isso. Sem "café", sem "uma", sem "xícara", sem "de". Sem imagem, sem imaginação, sem escrita, sem energia. Dedico-lhe essa madrugada, justamente a em que eu nasci. Dezesseis de janeiro não poderia ser um dia melhor.

A colher gira. Gira, gira, gira e gira, fazendo a espuminha branca dançar nas bordas e formar um desenho sem sentido. Duas batidas. Duas colheres. Gira, gira, gira e gira novamente. Beba. Aprecie. Não precisa mais voltar.

Alguns momentos nasceram para ser únicos. Alguns elementos, como o "de" e o "café", também.

Uma xícara de café & várias aleatoriedadesNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ