Didático e pedagógico

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Desde muito pequena, eu já sabia o que queria fazer. Quando ainda na primeira série, prestava atenção à cada detalhe da didática da professora ao nos ensinar letras e números – assim eu poderia, no futuro, ensinar outras crianças da mesma forma como eu aprendia.

Em casa, juntava as bonecas e as crianças da vizinhança, e me colocava em frente a elas, sujando as mãozinhas com giz numa tentativa ingênua de reproduzir tudo o que a professora fazia na escola.

Aliás, eu fui à escola muito cedo. Com apenas três anos, implorava a minha mãe que me matriculasse no jardim. Contrariando as amigas, minha mãe satisfez ao meu desejo. Houve quem dissesse: "Tão cedo? Logo ela não vai mais querer ir para a escola." E lá se vão mais de trinta anos que continuo indo para a escola, dia após dia.

Muita coisa mudou nesses anos. A tecnologia aumentou o choque entre as gerações. Regras afrouxaram, pensamentos se tornaram mais acelerados e falta de limites ganhou nome patológico. Mas o prazer de levar o desconhecido a olhos curiosos continua lá, a me encarar de volta no reflexo da janela.

Nesta quinta-feira, dia do professor, um dos meus alunos, desses que é meu desde pequeno – sim, é meu, eu tomo posse de todos os meus alunos e tenho ciúmes quando eles se vão – aceitou o meu convite de preparar uma música ao violão em homenagem aos professores. Ele escolheu a canção criteriosamente e, ao cantar cada palavra, a emoção de chamar cada um dos presentes de construtor do futuro foi encorpando sua voz. Muitos professores já tinham chamado a mãe desse aluno no passado, muitas vezes ele fora repreendido por brincar quando a hora precisava ser séria. Ao terminar sua homenagem, uma das professoras – uma dessas duronas, que chama a atenção mesmo, justamente porque se preocupa demais – agradeceu a homenagem e disse o quanto se orgulhava de ter sido professora dele. Ele sorriu meio torto, passou o dedo trêmulo por baixo dos olhos e suspendeu o caminho da lágrima que caía.

É por esse tipo de pessoa que eu me motivo a voltar à escola todos os dias, apesar de todas as dificuldades. É por ver crescer essa sensibilidade, esse sentimento, esse talento, que minha vida de professora não é – e nunca será – em vão.


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