13 - Memórias

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- Então, você gosta de nadar.- afirmo e atiro uma pedrinha na grama.- Onde aprendeu?

Estamos no parque, a duas quadras do Starbucks, sentados em um banco em frente a um lago. Quando terminamos o café, Joshua insistiu para que viessemos aqui e concordei, adoraria passar mais algum tempo com ele, o conhecendo.
Estamos apenas conversando. Ele não me beijou ou tentou me beijar nenhuma vez. Não que eu esteja me importando com isso.

Ele me olha e vejo um brilho em seus olhos.

- Quando era pequeno, uns nove anos talvez, sempre passava as férias na fazenda dos meus avós. Nunca tinha nada para fazer, então eu sempre ia atrás do meu avô, as vezes cuidando de algum cavalo ou correndo pelo campo. Houve o dia em que estava com minha avó e percebi que meu cachorro tinha sumido e fui procura-lo. - Joshua ri e fico hipnotizada por sua beleza.- Mas achei um rio por perto e decidir tomar banho e aprendi a nadar.

Tento imaginá-lo quando era criança. Um garotinho branquelo e com grandes olhos azuis, correndo pelo mato. Sorrio quando a imagem me vem a mente.

- E o seu cachorro? Você o encontrou?- pergunto, curiosa.

- Ah sim. Alfredo estava escondido atrás da casa.- Joshua leva um susto quando solto uma gargalhada alta.

- ALFREDO? Sério? Isso é nome de mordomo.- não consigo parar de rir e Joshua me olha como se eu fosse a pessoa mais... Fofa? Estranha?... Do mundo.

- Na minha época era um nome realmente bonito.- diz na defensiva.

- Bem, com certeza é melhor que Carijó.- comento.

- Carijó...?- ele franze a testa.

- Sim, era o nome do coelho do meu irmão.

- Qual o nome dele?

- Alex.

- Me fale três coisas que gosta de fazer.- ele manda de repente.

- Ler, dançar e comer .- respondo sem hesitar. - Três coisas que te irritam?

- Filas, despertador e trânsito.

Gostei da ''brincadeira'' que inventamos. Perguntamos coisas aleatórias um pro outro e respondemos a primeira coisa que vem a mente. Não questionamos as respostas.

De repente, Joshua se inclina na minha direção e travo meus olhos com os seus. Ele chega mais perto e baixo o olhar para sua boca carnuda e muito, muito convidativa.
Tenho tanta vontade de segurar seu pescoço e eliminar os últimos centímetros entre nós, juntando nossas bocas, mas me controlo, esperando para ver o que ele vai fazer.
Levanta a mão esquerda e passa delicadamente sobre meu rosto, afastando uma mexa de cabelo dos meus olhos. Seu toque é tão bom que fecho os olhos. Depois de um tempo, ainda acariciando meu rosto, sinto sua boca contra minha testa e solto um suspiro fraco.

Não entendo o que ele faz comigo. Nao entendo porque meu corpo simplesmente não responde aos meus comandos quando estou perto dele ou quando está me tocando. Seria fácil me apaixonar por ele.

- Tão linda.- sussurra.

Não. Não! De novo não. Não seja estúpida, Louise.

Abro os olhos e me afasto de Joshua. Sento ereta no banco e finjo olhar para o lago. Ele não é como Caleb, diz a vozinha minha cabeça, aquela que acredita em finais felizes e príncipes encantados. Você não tem como saber, retruca a parte sensata e realista, no começo Caleb também era amável e carinhoso e isso só te ferrou.

É simples, não vou mais sair com ele, a parte medrosa de mim fala. Pronto. Vou aproveitar o dia de hoje e amanhã apago seu número do meu celular e esqueço sua existência. Problema resolvido.

É isso. Está decidido.

Observo Joshua pelo canto do olho e ele está olhando para o lago também, com uma expressão pensativa.
Acho que se passaram cinco minutos ou mais... E o que se escuta? Exatamente. Nada. Não estamos falando e esse silêncio é diferente do outro. Constrangedor. Sufocante. Barulhento. Esse silêncio é aquele que te obriga a falar coisas idiotas. E como eu odeio esse silêncio, acabo falando a primeira coisa que me vem a mente. Ou seja, uma coisa idota.

- Se você fosse um super-herói, qual poder gostaria de ter?- pergunto de repente.

Depois que a pergunta sai, penso em como ela é ridícula, e que Joshua vai começar a rir. Mas ele continua quieto. Olho seu perfil rapidamente e vejo que morde o lábio, pensativo.

- Cura. - diz simplesmente.

Tenho vontade de perguntar porque cura, mas sei que não vou gostar da resposta, seja ela qual for.

Olho para Joshua, mas algo atrás dele chama minha atenção. Á uns trinta metros de onde estamos, há uma senhora sentada no chão fazendo carinho em um cachorro esquelético. Meu coração se aperta quando vejo que veste uma blusa suja e rasgada na manga.
Pela minha visão periférica, vejo Joshua se virar e olhar também, para a mendiga e o cachorro. Ele se levanta. Começo a me levantar também mas ele me impede com o braço.

- Já volto.- diz olhando ao redor.

- Hãm... tá. - respondo confusa.

Joshua da a volta pelo banco e segue até o carrrinho de cachorro-quente mais próximo. Consigo vê-lo de onde estou. Acabamos de comer e ele já está comprando mais comida?
Diz algo ao comerciante e espera pacientemente o que pediu. Olha para mim, devo estar mostrando o quão confusa estou, pois ele sorri e levanta o dedo como se dissesse "um minuto".
Pega a sacola e paga o homem do cachorro-quente. Segue pela trilha de pedras e passa por mim. Só quando está a uns três metros da senhora no chão entendo o que vai fazer e tenho vontade de chorar. Ele se abaixa e ela o olha suspeita. O cachorro no seu colo não se mexe. Joshua estende a sacola para ela. A senhora a pega e abre rapidamente. Deve estar morrendo de fome. Joshua se levanta sem dizer nada e volta para mim. Continuo olhando a mulher. Joshua não pois está de costas, mas eu vejo o enorme sorriso da velinha ao morder o cachorro-quente e reparti-lo com o cachorro.

Viro o rosto quando ele se senta e limpo duas lágrimas dos olhos. Respiro fundo antes de virar e olha-lo nos olhos. Ele não está com aquela atitude acabei de ajudar uma pessoa, me diz o quanto sou bom. Ele está olhando para mim tranquilamente. E isso me faz desejá-lo ainda mais.

Seguro seu rosto e o beijo.

Como vou esquecer esse homem?

O Professor Where stories live. Discover now