único

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Você se lembra de como nos conhecemos?

Eu tinha acabado de romper um namoro e você estava sentada em uma mesa – sozinha – dentro de uma lanchonete lotada. Eu queria uma lata de cerveja e me sentar no balcão, mas ele estava cheio. Por outro lado, eu não queria voltar para casa.

Então você me ofereceu a mesa.

Quando olhei para os seus olhos pela primeira vez, eu não acertei de primeira se eles eram castanhos levemente esverdeados ou castanhos escuros. Pelo que eu tinha entendido você ficaria sentada comigo, mas você logo foi se levantando. Eu estendi a minha mão e te impedi.

Seu cenho se franziu em confusão e eu percebi o quão lindo seu nariz era. Porém, eu achei que era só carência. Nós trocamos poucas palavras, enquanto uma música lenta soava ao fundo. Logo, as pessoas deixaram o estabelecimento, a nossa conversa ganhando rumo. Descobri que o seu nome era Diana e que você era bem insegura.

Mas o seu sorriso, ah, o seu sorriso. Ele fora o primeiro sorriso verdadeiro que eu tinha visto naquele dia.

Descobri que uma de suas músicas favoritas era Silent Lucidity, algo em comum comigo. Percebi então, que você usava apenas uma calça jeans e um moletom largo.

Mesmo tendo 23 anos e um emprego fixo como jornalista da cidade. Você me disse, primeiramente, que escrevia colunas sobre dicas de moda. Mas depois, você realmente me disse o que fazia dentro do jornal.

Você escrevia poesias.

As melhores! Aquelas que eu sempre achava que eram impossíveis de serem escritas por seres humanos.

Eu te convidei para jantar de verdade, mas você corou e foi rude comigo. Recusou o convite e disse que fora um erro nos apresentar um para o outro.

Você rompeu porta a fora e sumiu dentro daquela noite de frio que fazia a cidade de Bristol no inverno. Mesmo assim eu corri por duas quadras, tentando te achar.

Por algum motivo idiota, eu me perguntei se você era sobrenatural. Com os olhos bicolores e sumindo assim, do nada.

No dia seguinte, eu decidi ir até o prédio de jornalismo. Ali mesmo, com você vestida de uma maneira desleixada que eu me acostumaria com o passar dos anos e passaria a achar bela, eu chamei você para jantar. E ali mesmo você me perguntou se era alguma brincadeira de mau gosto por causa de sua aparência. Eu te perguntei se era por causa dos seus olhos, e disse que eles eram lindos e que você não precisava se preocupar.

Você sorriu novamente para mim e eu me realizei pela segunda vez
desde a noite passada.

Eu fui te buscar no seu apartamento às oito da noite e você estava deslumbrante naquele vestido vermelho, apesar de ele estar embaixo do sobretudo preto que você usava. Eu elogiei as suas pernas sem vergonha alguma e você quase me atacou. Eu gargalhei. Os encontros passaram a ser mais recorrentes. Certa tarde – no seu apartamento – você me perguntou se eu te achava gorda.

E é claro que eu respondi que sim.

Seus olhos se arregalaram quando eu sorri e me aproximei de
você. Naquela tarde, eu lhe apresentei aos meus princípios mais profundos sobre manequins, o que fez você chorar. E rir. Eu disse: eu amo o fato de suas pernas serem grossas e você ter um bumbum visivelmente avantajado. Eu amo o fato dos seus seios não serem pequenos, como a maior parte das mulheres teme, mas amo ainda mais o fato deles serem verdadeiros. Se você tiver marcas espalhadas pelo seu corpo, eu vou adorá-las e eu espero que você as adore. Você é o seu próprio templo, não um manequim.

Ame-o como eu passei a amar.

Naquela tarde, você me apresentou o sabor dos seus lábios. Pela primeira vez, eu pude pegar na sua cintura. Sua desvantagem de altura me arrancou uma risada e você quase me bateu por eu estar estragando o clima. De repente, você me voltou e pediu para que eu te esperasse sobre o sofá. Quando você retornou, usava uma lingerie preta que realçava os seus olhos e seus cabelos curtos, escuros. O tecido apertava sua carne, o que eu achei extremamente sexy.

Eu sou horrível, mas vamos tentar. Você
disse aquilo e eu te puxei para o sofá, subindo sobre você. Repeti milhares de vezes o quão bonita você era.

Descobri que era a sua primeira vez.

Fiz dela a menos dolorosa possível. Você amou, e nós dormirmos sobre a sua cama, depois de tomarmos banho. Todos os dias, depois disso, você acordou comigo ao seu lado, eu
agradecendo por você não ser um manequim. Manequins não sabem amar. Manequins não possuem emoções. São vazios por dentro, esquecendo-se da beleza que deveria pertencer ali.

Você, Diana, era o contrário de tudo isso.

Hoje, você continua sendo você. Sempre evitando os rótulos, apesar de sempre quererem rotular você. Porém, o seu templo te tornou forte. E agora eu te vejo todos os dias, apenas com uma camiseta minha – mais confiante do que nunca! – fazendo ovos para o café da manhã.

Quando se ama, você fica preso aos mínimos detalhes, e não aqueles gritantes que são feitos para te afastar.

É por isso que eu amo os seus olhos, o seu nariz e os seus lábios.

É por isso que eu amo o seu coração, Diana.

Nunca seja um manequim.

- StarGirl

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⏰ Última atualização: Jan 03, 2017 ⏰

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