─ Vá vê-lo, filha ─ minha mãe me induz. ─ Ele está ansioso pra ver você.

─ Não sei se vou ter coragem de olhar nos olhos dele sem sentir a culpa me corroendo por dentro.

─ Meu amor, não é sua culpa, jamais foi ─ ela segurq meu rosto dentre suas mãos e me olha nos olhos. ─ Agora vai lá ver seu pai.

Eu me levanto assentindo e sigo a enfermeira pelos corredores largos do hospital, ela me guia até um elevador e seguimos até o segundo andar na ala masculina de internação.

Ela abre a porta e me dá passagem sorrindo amigavelmente, eu lhe devolvo o sorriso e entro no quarto branco e arejado onde meu pai estava.

Seguro as lágrimas nos olhos que teimam cair por tudo quando o vejo. Ele estava pálido em cima de um leito de hospital, conectado em aparelhos que monitoravam seus batimentos cardíacos e sua respiração. Sua barriga estava inchada, bem inchada e bem avermelhada com áreas rochas. Ele encarava o teto sem nem prestar atenção na minha presença ali.

Senti minhas pernas bambas, meu nariz ardeu e minhas mãos suaram.

─ Já conseguiu falar com ela, amor? Ela já está vindo? ─ sua voz é baixa e arrastada.

─ Pai? ─ as palavras saem embargadas pelos meus lábios, me aproximo mesmo sentindo minhas pernas pesadas.

─ Filha? Filha você está aqui mesmo? ─ ele tenta se mexer mas não consegue. ─ Eu estou anestesiado do pescoço pra baixo, não consigo me mexer direito e quando vou me mexer dói muito.

─ Não se mecha, pai ─ me aproximo me sentando na poltrona em seu lado e segurando em sua mão, ele virou o rosto e me olhou. Pude ver seus olhos repletos de lágrimas assim como os meus.

─ Oh, você está aqui mesmo! ─ ele sorriu abertamente e segurou firme em minhas mãos.

─ Senti saudades...

─ Eu também, peixinho magrelo do papai. Todos os dias, todas as horas e todos os minutos.

─ Pai, me desculpa por tudo, por favor.

─ Você não fez nada de errado filha, eu estava indo ver você porque senti saudades ─ vi a faixa em sua cabeça, ele devia ter batido a cabeça e perco algumas memórias. ─ Sabe, às vezes a saudade dói tanto.

E como dói.

─ Mas eu estou aqui, pai. Tudo vai ficar bem! ─ garanto sem ter certeza, ele ri e boceja.

─ Você ainda tem medo da água, peixinho magrelo? ─ ele pergunta após um tempo me arrancando um sorriso.

─ Não, você me ajudou a superar esse medo.

Meu pai para pra alisar meu rosto e sorrir orgulhoso.

─ Minha menina, ontem mesmo eu peguei você no braço e era apenas um bichinho gordo e feio. E veja hoje... é linda e uma mulher formada, como cresceu e como tenho orgulho de você.

Não consigo controlar as lágrimas, deixo elas caírem por meu rosto como cachoeiras.

─ Eu iria ser avó? ─ ele pergunta de repente.

─ Iria ─ digo doce e baixo, acaricio seu rosto lentamente.

─ E ele agora é um anjinho? ─ ergue sua mão e toca meu pingente.

─ É sim, um anjinho amado.

─ Você acha que eu encontro meu netinho no céu? ─ sua pergunta me arranca mais e mais lágrimas.

─ Encontra sim, pai ─ engulo o choro sentindo as lágrimas pingando por meu queixo.

─ Me prometa que vai cuidar da sua mãe, vai cursar sua faculdade e ser uma boa menina sempre.

Paraísos PerdidosWhere stories live. Discover now