4 - Quem não tem cão, caça com gato

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Hoje está sendo um daqueles dias que parecem uma eternidade a passar. Passa do meio-dia quando Débora, uma estagiária da redação, vem com o correio e me pergunta onde o deve meter. Ela não tinha juntado todo o meu correio, como Lucas faz, mas dou um desconto, pois esta não é a real função dela. Coitada, por enquanto ninguém lhe dá mais para fazer do que servir cafés às pessoas. E as pessoas desta revista conseguem ser muito chatas com isso, então, tenho uma ideia para tornar o meu dia mais produtivo e o dela também.

- Débora, hoje você vai ser a minha assistente pessoal. Aceita?

- Isso consiste em quê? - vejo um brilho de expectativa em seus olhos.

- Ler o meu correio, escolher as melhores perguntas e por aí adiante. Você só precisa de mentalmente avaliar a carta e segundo a nota que lhe der, dividir em três pilhas. Aceita?

- Ía adorar, dona Phoebe - responde-me entusiasmada.

- Phoebe, Débora. Só Phoebe. A propósito, que é feito do Lucas?

O seu semblante muda um bocado.

- Bem, eu não disse a ninguém, mas a minha melhor amiga vive à frente dele e ela disse que apareceu um cara com uma pistola no apartamento dele e disparou. - arregalei os olhos em pânico - Não se preocupe, o cara não disparou contra Lucas, ainda assim ele ficou paralisado, completamente traumatizado. Ele não avisou ninguém da revista. Só há pouco é que o pai dele ligou e justificou a sua falta como sendo um grave problema familiar. Ouvi Lorraine dizer isso. Ela estava bem chateada com a ausência dele.

Ao menos agora sei que Lucas está bem. Tenho que meter mãos à obra, mas antes disso tenho que me assegurar que os serviços de Débora agora são meus. Vou até à porta e grito para todo o pessoal sem exceção, ouvir:

- Gente, a Débora hoje fica a ajudar-me com a minha correpondência.

- E quem vai servir o meu café? - pergunta Adalberto, com a barriga saliente encostada na sua escrivaninha.

- Levante o traseiro e sirva-se você mesmo, Adalberto. Não tem vergonha de escrever na rúbrica de saúde e não levantar o cu para nada? Você deveria escrever nesta próxima edição sobre obesidade, meu caro.

Adalberto não profere nem mais uma palavra e nas escrivaninhas ao lado ouço uns risinhos disfarçados. Enquanto isso, Joana aparece pela porta e vem logo dizendo que Magda Antunes tinha tirado umas férias do seu trabalho na rádio, para aproveitar umas férias que ganhara na República Dominicana.

- Não faz mal - respondo. Joana parece surpresa em ouvir isso. Nós temos sempre tantas candidatas a modelo, que quando uma delas deixa a oportunidade fugir, a gente não vai atrás dela, mas eu sinto que Magda Antunes é uma mais valia para esta revista. Com a sua pele morena, olhos castanhos e cabelos quase negros, ela vai tirar a imagem de loiraças que a revista projecta o tempo todo sobre os nossos leitores - Quando ela vier de férias quero-a aqui. Até é melhor, porque assim ela vai falar com o novo chefe da redação.

- O tal Aragão - constata Joana - Será que é solteiro?

Um sorriso malicioso aparece em seu rosto. Dou de ombros e a deixo com os seus afazeres.

- Espera, Phoebe... - pede.

- E então para a próxima capa?

Eu sei que posso estar a ser demasiado ousada, mas olho para Débora e algo me diz que não é uma má ideia. Ela é uma jovem muito bonita e elegante, que almeja ter a oportunidade de ter o seu trabalho valorizado. Este era sem dúvida o seu dia de sorte.

- Porque não faz uma secção fotográfica com a Débora? - pergunto.

- Você está louca? - a sua expressão vai de mim para Débora, que está no meu escritório fazendo exactamente a tarefa que eu lhe incumbi - A Débora é só uma estagiária.

- Exatamente. E nunca passará de uma estagiária se a única tarefa que lhe derem for servir cafés.

- O que você tem em mente? - pergunta-me.

- Leve-a a Felipe, façam uma secção com ela... com as nossas roupas, claro. E sei lá, chame lá o tal do... - não iria admitir que me lembro do nome de Marcos, então lanço a cartada do Supermercado - Almeida.

- Albuquerque. Marcos Albuquerque.

- Que seja - ela parece demasiado animada à menção do nome do meu ex-namorado. Não sei se isso me agrada. Na verdade, estou sentido um turbilhão de sentimentos, uma experiência que não vivia desde a adolescência, onde tudo era tão importante, tão intenso... eu simplesmente não sei o que me dá para lhe dizer em modo de constatação - Parece interessada nele.

Joana esboça um sorriso de diva e responde-me:

- Pode crer que estou.

~~~

Oi, pessoal.
Finalmente consegui acabar o 4° capítulo.

Quanto a vocês, leitores, dêem o vosso feedback. Eu escrevo para isso. Não tenham medo de dizerem o que pensam, apenas procurem não ofender, por favor.

Beijinhos e até o próximo capítulo...

Joana Soares

Joana Soares

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