4 - Quem não tem cão, caça com gato

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- Marcos Albuquerque - diz Joana.


Eu não acredito. Eu não acreditooo.

- Ele é tão perfeito que a Phoebe ficou atordoada - comenta Joana.

- Eu... eu tenho que ir trabalhar. Já perdi demasiado tempo - já perto da porta do meu escritório grito para os três - Eu quero essa Magda Antunes na próxima edição da revista.

Ao sentar-me na minha cadeira rolante, faço o que sempre faço quando estou nervosa, dou rodopios de um lado para o outro feito uma criança. Neste momento, Joana, Lorraine e Felipe devem-me estar a ver pelas janelas do escritório com expressões atónitas. Imagino a voz peculiar de Lorraine dizendo para os outros dois "É assim que ela trabalha?". Eu tenho que me concentrar. Vou responder a esta correspondente que "não", ela não deve voltar para o ex dela. Afinal, ele traiu-a e mesmo que estivesse alcoolizado nesse momento, continua sendo uma traição. Creio encarecidamente que a gente não muda de personalidade quando bebe álcool, a gente apenas se solta. A gente mostra a verdadeira face. Foi isso que eu escrevi. Tentei explicar-lhe da melhor maneira que se ela reatasse com o sacana do ex, aquela traição iria ser como uma erva daninha na relação deles. Decido que esta carta vai para a próxima edição.

Segunda carta:

"Oi Phoebe, como dizer à minha sogra de uma maneira simpática, que não quero ir a casa dela porque ela é uma valente porca?"

Ai que eu não vou aguentar de tanto rir. Se é normal eu receber cartas destas? Nem imaginam. Tento alisar a folha o máximo possível e meto-a na pasta vermelha. A pasta que dediquei ao correio que posto no site do jornal. Ainda não pensei no que hei-de responder a esta pessoa, que como seria de esperar é anônima, porém vai ser bem interessante responder-lhe.

A rúbrica "A Phoebe diz..." ocupa duas páginas da revista que tem formato A4, no entanto, o espaço é pouco tendo em consideração tanto correio. Eu vejo-me no dever de responder a toda esta gente, o que quer dizer que aquilo que escrevo na rede é uma estenção da rúbrica, que contêm o que não cabe mais no papel. Em papel, isto que sobra daria a revista inteira. É mesmo muito correio, mas cedo ou tarde as pessoas acabam por receber a sua resposta, talvez demore um mês, mas a resposta aparece sempre.

Eu tenho um cesto de palha e todos os dias Lucas, o moço dos correios da redação, despeja tudo que é para mim lá dentro. Aliás, por falar nele, hoje ainda não apareceu no trabalho. Estranho! Ele é um garoto dedicado. Consegue consiliar a Universidade com este part-time e ainda arranja disposição para andar por a revista esbanjando sorrisos. Diria até que é um menino de ouro. Nunca chega atrasado, nunca atrasa o correio e nunca falta ao trabalho. De repente sinto um friozinho na espinha. Eu só espero que esteja tudo bem com Lucas.

Noto que sinto um cansaço inusual. Talvez seja por ter tido aquele encontro inusitado com Marcos, talvez por acabar de saber que Marcos vai ser o próximo rosto das "Poderosas", talvez por ter feito com que o namorado do meu melhor amigo fugisse dele, depois de lhe mandar com um limão à cabeça.

Agora que penso... Marcos sabia perfeitamente que eu trabalho nesta revista, quando se candidatou a modelo. O que ele quer, afinal? Quer balançar com toda a minha vida? Quer um retorno? Voltar ao que era antes? Bem pode tirar o cavalinho da chuva. Ele nunca fará o suficiente para que eu o desculpe. Nunca. Durante três derradeiros meses eu chorei todos os dias. Acordava a chorar e adormecia a chorar. Um dia a minha tia Graziela percebeu que eu estava com uma depressão e levou-me a um psicólogo que me orientou para um psiquiatra. O Doutor Emerson Gouveia seguiu-me durante quinze semanas, quase quatro meses. Sem a ajuda dele teria sido extremamente difícil superar a enorme tristeza que eu sentia. Sentia que nada fazia sentido, que os dias eram todos iguais, que mais nada valia a pena, que eu não valia nada. Eu atingi o fundo do poço e consegui reerguer-me com muito esforço, com muitas lágrimas deixadas para trás. Mas não é porque as lágrimas ficaram para trás, que a mágoa não continua cá dentro, porque sim, ela continua e eu tive a certeza disso quando o vi à minha frente. Ele ainda mexe comigo, mesmo se lhe dei a entender o contrário. Aquele porte de homem malhado e poderoso dificilmente passa despercebido ou indiferente ao sexo feminino, então espero francamente que ele encontre alguém no plano romântico rapidamente. Não quero ter que lidar com a "solteirice" de Marcos. Sim, está muito na cara que ele não tem ninguém.

O pretendente perfeito Where stories live. Discover now