À primeira vista

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E foi em meio aos cuidados com nossos senhores que vi o senhor Odair chegar carregando um homem ensanguentado e desmaiado. Sua aparência parecia cera de tão branco, estava à beira da morte. O senhor de nossa vila pediu para cuidar desse homem com atenção, pois a vida dele era preciosa para a paz, e uma promessa de vida melhor para o povo do reino Humanis. Somente isso nos fez respeitar o moribundo extremamente forte que foi depositado na cama.

Senhor Odair não voltou a batalha depois disso, e usando sua sabedoria de centenas de anos ele preparou misturas e emplastros e eu fiquei a ajudá-lo todo o tempo.

Fiquei surpresa ao ver o ferimento grave do homem, ele tinha sido trespassado por uma espada. O corte vertia tanto sangue que pensei por um momento que ele sucumbiria, mas algumas horas depois ele dormia profundamente e o senhor Odair nos garantiu que o perigo maior tinha passado. Então ele partiu anunciando que precisava ajudar em alguma coisa relacionada a caçar uma rainha. Eu fiquei velando pela saúde do enfermo.

Não vi o tempo passar, nem soube quando era dia ou noite, pois não saí do lado do príncipe naquela cama. Admirei sua bravura quando sequer protestava com a dor ao ter as ataduras trocadas, mas ainda porque ele estava se agarrando a vida e em meio aos devaneios de dor ele ficava pedindo para voltar para a batalha para cuidar dos homens que dependiam dele. Quando a manhã chegou meu pai apareceu e ajoelhou ao lado da cama, ele sofria e seus olhos desesperados me deixaram ainda mais preocupada. Esse homem era importante na vida de meu pai.

Com tantos cuidados e líquidos, a cor começou a voltar no rosto do príncipe, os lábios antes brancos e quebradiços começaram também a voltar ao normal e então ele começou a mostrar a beleza de um homem saudável.

Livre de minha preocupação com sua vida, eu comecei a prestar atenção naquele rosto, era muito bonito. O queixo com traços fortes e uma cicatriz branca em formato de y eram perfeitos somados a barba por fazer, sem contar seus lábios que eram macios ao toque, sim eu toquei enquanto ele dormia, desenhei de leve os contornos do rosto completamente admirada de como tudo parecia harmonizar naquele rosto. Os traços masculinos eram marcantes e fortes.

Não sou tola, sei que a beleza é algo perspectivo, mas eu fiquei o tempo todo o admirando enquanto dormia tentando imaginar se era apenas opinião minha ou se ele era admirado por várias mulheres em seu reino, não consegui sequer ter uma noção de como era sua vida antes daquela semana.

Achei que minha curiosidade por ele era pela esperança de muitos sobre ele, mas foi no dia que ele abriu os olhos que me vi presa em um sentimento maior do que admiração. Seus olhos negros e febris foram direto nos meus, e apesar de agonizado pela dor mostrou também curiosidade, eram os olhos mais intensos e maravilhosos que eu já tinha visto. No pouco tempo que nos encaramos foi como mergulhar em um mar negro pintalgado de pontos de luz.

Ele gemeu qualquer coisa antes de voltar a desmaiar e sua voz mesmo que proferisse palavras inteligíveis fez gelar meu estômago, pois era uma voz masculina que remetia respeito, sem contar que era naturalmente sensual. Esperei pelo resto da noite para ver se ele abria os olhos novamente, fiquei na dúvida se torcia ou não para ele acordar lúcido e falar algo compreensível, mas no dia seguinte todos nós fomos levados as vilas para ajudar a reparar os estragos da batalha, o príncipe Tiago ficou aos cuidados do irmão Odair e então não mais o vi no reino sombrio, porém nunca mais o esqueci.

Então em meio aos esforços para reorganizar nossas vidas e dos moradores das vilas conheci Diana, já a conhecia antes como a protegida dos príncipes, mas foi ali em meio a reorganização de tudo que nos aproximamos de verdade. Ela e meu pai tinham uma amizade sólida, e por conta dessa aproximação dos dois, eu e ela acabamos também nos tornando grandes amigas. A alfa Jena também estava sempre conosco e logo ela também se tornou importante para mim.

Quanto tudo novamente estava calmo e a batalha era apenas uma lembrança ruim de nossas vidas, nós três passamos a dormir juntas pelo menos uma vez por semana. De início era para organizar os preparativos para a união dela com o segundo príncipe dos sombrios. Depois disso os nossos encontros passaram a intervalos de quinze dias e então era mais pela amizade e pelas risadas e conversas bobas. O senhor Nicolae nunca se incomodou com isso, ele dizia que Diana parecia mais feliz depois que nos conheceu e ele estava contente por ela ter amigos.

Achei que meu interesse em Tiago era algo passageiro, que foi somente motivado pelo excesso de proximidade quando cuidei dele, no entanto isso se provou errado quando nos encontramos novamente.

Foi logo após sua coroação, eu tinha seguido com meu pai para a casa alugada pelos sombrios na vila dos Forasteiros. Primeiramente fui para ajudar a cuidar da casa que vivia movimentada por Licans e Sombrios que estavam cuidando para manter o rei no trono e ainda tiveram que lidar com focos de revoltas por todo reino humano, tudo porque um rumor de que haveria mudanças se espalhou. Não era mentira, as três raças estavam se reunindo justamente para debater as mudanças no tratado.

Por uma semana ficamos lá e foi difícil para mim me esquivar todas as vezes que Tiago aparecia. Algumas vezes sem ter como escapar acabamos trocando algumas frases de conversa, mas em sua maioria eram cumprimentos e perguntas relacionadas ao paradeiro dos outros para eventuais reuniões.

Logo Diana e Eva também apareceram e então elas não mais me deixaram trabalhar, ficamos a resolver assuntos referentes ao casamento de Diana, nisso Jena e Celeste também estavam conosco. Ainda assim, mesmo depois de findar as reuniões Tiago apareceu algumas vezes para tratar vários assuntos e sempre dava um jeito de puxar assunto. Ele estava curioso sobre minha vida no reino sombrio, na verdade parecia curioso sobre muita coisa sobre mim. Mas em meu nervosismo com seu interesse eu quase sempre me esquivava.

Nunca antes senti essa mescla de medo e curiosidade, os poucos flertes no reino sombrio eram sempre brincadeiras em fogueiras festivas e sempre era com um amigo de infância. Por isso nunca levei muito a sério, mas com Tiago era diferente, ele tinha uma presença tão marcante que me deixava ansiosa, seu olhar, seu rosto bonito e seu porto altivo, somado ao corpo forte me deixava tão intimidada que eu o evitava sempre que podia.

O mais engraçado é que na vila do senhor Odair, interagir com os rapazes nunca me foi um problema, nem mesmo quando o príncipe Dimitri apareceu na casa do senhor Alan momentos antes da batalha eu me senti assim, retraída e sem saber como agir, era somente na presença de Tiago que meu corpo e mente insistia em me pregar peças.

No dia que Diana leu sobre as mudanças no tratado, eu assisti sentada na parte reservada aos sombrios. Eram leis novas que libertava as mulheres e os escravos, ao ouvir as leis sendo ditadas até eu me senti livre e nesse momento fiquei emocionada e senti falta da minha mãe, queria que ela pudesse ver esse dia, pudesse ver finalmente as mulheres do reino que ela foi arrancada tendo direitos nunca antes conquistados, pelo menos não existia um humano que eu conhecesse que lembrasse o tempo em que as mulheres foram tratadas iguais aos homens, tudo o que se sabia sobre isso era oriundo dos poucos livros que não se perderam na guerra da Supremacia que aconteceu há séculos atrás.

Meu pai havia me dito que depois das novas leis, Tiago seria odiado por seu próprio povo e que ele sabia disso. Mas eu vi sua postura no salão do farol, vi que ele não se deixou levar nem mesmo pelas ameaças abertas que recebeu. Ele não voltou atrás e fosse pela sua generosidade em abolir o sofrimento dos mais fracos ou pela sua coragem em enfrentar uma massa de futuros inimigos eu fiquei encantada. Nesse dia eu soube que estava apaixonada.


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Pessoaaal, perdoem a falta de gancho rsrs, sabem né --' cortando o capítulo imenso para por aqui então..

Porque começou a postar já Isa?  

Resposta. _ Porque estou empolgada hoje e vamo que vamo  shaushuahua

Tratado dos Párias- O rei rebelde. ( Degustação)Where stories live. Discover now