─ Eu já estava indo, só estava organizando algumas coisas aqui porque está uma bagunça esse apartamento ─ ele diz sorrindo mas fica sério após ver que não havia resquício de sorriso nenhum em meu semblante. ─ Está tudo bem? Seu pai está bem?

─ Está tudo bem sim ─ encaro o chão. 

─ Olha pra mim... ─ ergo minha cabeça e ele me olha preocupado. ─ Vem aqui.

Me aproximo dele com as pernas trêmulas, o agarro com força e o abraço forte, deixo que uma lágrima escape e faço de tudo pra mais uma não escapar. Ele também me aperta forte em seus braços quentes que me confortam. 

Era a última vez que iria o ver, era a última vez que iria o tocar, era a última ver que o abraçava e sentia seu cheiro em meu olfato. 

Não consegui controlar as lágrimas, elas desceram mornas por minhas bochechas enquanto eu morava em seu abraço.  

Desfiz o abraço segurando em sua mão e senti seu polegar limpando minhas lágrimas, ele não disse nada. Bruno se curvou e beijou meus lábios, um selinho singelo mas repleto de sentimentos. Ele parecia saber, parecia saber que eu iria embora, que nós dois iriamos nos separar.

─ Minha ranzinza ─ ele encosta sua testa na minha e passa seu nariz lentamente no meu, seguro em seu rosto e abro um sorriso.

─ Meu brutamontes petulante ─ ele também ri. Só então lembro do horário do voo, não podia perder. ─ Vou indo logo na casa da Júlia, se não chego atrasada lá em casa e não quero ouvir Arthur reclamar no meu ouvido.

─ Tudo bem, não quer que eu leve você?

─ O táxi está lá em baixo.

─ Qualquer coisa liga, amor ─ consinto e o abraço mais uma vez. 

Por que dar adeus dói tanto? A gente conhece uma pessoa e nem tem na mente que ela vai ser uma pessoa espetacular na nossa vida, essa pessoa faz de seus dias os melhores dias do mundo, essa pessoa faz você amar ela, essa pessoa toma seu espaço, seu tempo, seus sorrisos, suas lágrimas, sua raiva, essa pessoa é amiga, te aconselha, te levanta quando você cai e em uma hora você simplesmente tem que dizer adeus.

As lembranças de como foi bom tudo aquilo invade sua mente, foram tantos momentos bons, tantos sorrisos que dei ao lado dele. Ele sempre esteve do meu lado: quando Ruan queria me agarrar à força, na viagem inesquecível até Angra dos Reis onde descobrimos nosso amor um pelo outro, ele esteve comigo quando perdi nosso filho, esteve comigo quando aconteceu tudo aquilo na escola comigo. Em todos os momentos ele estava lá, e agora ele não estaria mais.

Nós dois estávamos nos separando.

Lhe dei meu último sorriso largo e sincero, um sorriso orgulhoso, orgulhoso de ter o encontrado, o mudado e o amado. Solto sua mão e sinto como se tivesse deixado um pedaço de mim bem ali.

Vou andando em direção ao elevador quase desabando, mas ele puxa meu braço e me faz virar de uma vez.

─ Por mais que a gente não fique juntos eu jamais deixarei de amar você ─ diz meio baixo enquanto olha em meus olhos.

Eu congelo. Ele sabia?!

─ Como assim? ─ cerro os olhos controlando as lágrimas.

─ Nada... te vejo em casa pro nosso ano novo? ─ eu concordo. ─ Eu te amo.

─ Eu te amo mais e mais, sempre vou te amar ─ digo sincera e caminho rumo ao elevador.

Aperto no térreo e assisto as portas metálicas se fecharem bem na imagem do meu brutamontes petulante, e eu, observo pela última vez ele. Seus cabelo claros e rebeldes bagunçados, seus olhos cor de mel brilhantes, sua pele branca, seu jeito certo de se vestir que lhe caía muito bem, seus músculos fortes, seu nariz reto, sua barba por fazer, e as covinhas fundas em sua bochecha. 

Eu o amava mais que tudo, amava suas imperfeições, amava seu jeito de ser.

Mas eu teria que ir embora, teria que o deixar, teria que deixar meu paraíso. O paraíso mais bonito da minha vida, o paraíso mais importante e que me fez feliz... e que infelizmente, se perdeu.

*** 

Meu voo se atrasou uma hora, ou seja, eu passaria ano novo dentro de um avião. 

Quando foi onze e quarenta da noite eu embarquei, havia desligado meu celular e carregava Sara comigo dentro da minha bolsa. 

Era hora de dizer adeus... por mais que ele estivesse engasgado em minha garganta.

Encostei minha cabeça no banco do avião e olhei pela janela fora enquanto outros passageiros da primeira classe se acomodavam, fazia carinho em Sara que dormia enquanto esperava o avião decolar.

E quando deu meia noite, o avião havia acabado de decolar. Todos na classe bradaram pelo novo ano, e pela janela eu ainda conseguia ver alguns fogos. E então sorri deixando as lágrimas caírem por meu rosto.

─ Feliz ano novo, sarinha ─ beijo minha chihuahua sorrindo dentre as lágrimas e olho pro meu anel. ─ Feliz ano novo, meu amor.  

As lembranças me atingem enquanto enxergo alguns fogos se queimando no céu, lembro do começo de tudo. Desde o primeiro olhar, a primeira implicância, até o primeiro beijo e o primeiro toque.

Esse ano havia sido o melhor de todos, por um lado. Havia conhecido o homem da minha vida, ele me consertou e eu consertei ele. Mas agora nós havíamos nos separado, infelizmente.

Sabe meus paraísos? Eu os perdi definitivamente. Eu sabia que jamais os encontraria de novo, e talvez com o tempo eu construiria paraísos novos, uma fortaleza nova, mas demoraria, demoraria muito. Só eu sabia o quanto meus paraísos eram importantes pra mim. 

Sua gargalhada, o jeito em que ele me olhava, seus lábios macios e quentes, seu amor por crianças, sua felicidade quando anunciei a gravidez... 

Era hora de recomeçar, hora de seguir em frente.

Estava doendo? Estava sim, muito pra ser especifica.

Mas é assim que aprendemos e nos tornamos fortes cada dia que se passa. 

Não dei adeus à ele porque eu não queria dar adeus, na verdade eu nem queria sair do seu lado.

Eu amava Bruno, o amava com todas minhas forças.

Não estaria com ele fisicamente, mas ele estaria sempre em mim. Assim como nosso filho.

Foi amor desde a primeira implicância, até o adeus que não queria ter dito.

Paraísos PerdidosWhere stories live. Discover now