Capítulo 7

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Pov – Alina

A noite chega e com ela o som das festas em torno da ilha. Música alta, fogos de artifícios brilhando no seu a cada hora. Kirus está em festa. Na minha minúscula casa tudo é igual. O silencio constrangedor, a comida, peixe e folhas verdes, o ar quente que fica depois de um dia todo recendo sol. As paredes parecem se comprimir e tudo fica ainda menos e mais asfixiante.

Acendo as velas sobre a mesa da cozinha. Coloco dois pratos e os talheres. Meu pai se junta a mim em silencio. Arrasta a cadeira sobre o chão de pedra produzindo um barulho seco que me causa um arrepio irritante pelo corpo.

Seus olhos encontram os meus em sua frieza habitual. Eu tenho um namorado. Os meus respondem a ele que não enxerga. Ele nem mesmo me vê mais.

Bem lá no fundo de sua alma ele acha que errou com minha mãe. Que podia ter feito algo, eu sei que sim. Ele me odeia e sente isso por que ela se foi e toda vez que ele tem que me ensinar algo ele pensa que ela não está aqui para fazer isso.

Me lembro do trauma que foi minha primeira menstruação. Quando corri para ele chorando de medo de estar morrendo e ele me deu um tapa e disse que aquilo não era coisa que se falasse com um pai. Não fosse meu irmão me explicar eu nunca saberia.

―Vai ficar aí de pé? – Minha mente volta a realidade e me sento na outra cadeira. No dia que meu irmão partiu ele quebrou a terceira cadeira. Foi simbólico. Deixou muitas coisas claras em minha mente.

Nossas portas estão fechadas para qualquer pessoa. Somos nós e apenas isso. Eu levo um pedaço do peixe assado a boca, mastigo sem muito interesse. Mesmo a melhor de todas as cozinheiras do mundo não podia fazer isso ficar muito melhor e não daria para continuar gostando depois de uma vida comendo o mesmo prato.

―Pai. Posso ficar acordada para ver a queima de fogos? Podemos ver juntos?

―E acordas as quatro da manhã? Isso é bobagem. Não tem serventia nenhuma.

―É bonito.

―Bonito é passar a noite em jejum. É rezar, isso que é bonito. Você vai para cama como todas as noites. É uma noite qualquer Alina. Não sei não o que está acontecendo com você.

―O senhor tem toda razão. É bobagem. – irritar meu pai não está nos meus planos dessa noite. Recolho a louça e lavo no tonel ao lado da mesa.

―Vá fazer suas orações e dormir. Chega por hoje.

―Boa noite pai. – Passo por ele e caminho para cama. Deixei meu melhor vestido separado. Um quase novo com pregas na cintura. Eu mesma reformei. Não apertei muito para meu pai não perceber, mas ele agora até parece um vestido mesmo.

A meia noite o barulho dos fogos de artificio me despertam. Fico na cama olhando pelo pequeno vitro as luzes colorirem o céu. Ao menos vou ver pelo celular dele. Danny vem. Ele disse que viria e agora que somos namorados eu devo acreditar nele.

Custo a pegar no sono, estou ansiosa demais, acabo adormecendo e despertando apenas quando meu pai me toca o braço com nenhuma gentileza. Salto da cama sem pestanejar.

Coloco a água para aquecer e vou me vestir e fazer minha higiene. Ele está sempre carrancudo a essa hora e pensando bem ele está sempre carrancudo a qualquer hora. Me olho no pequeno espelho.

Igual a todos os dias. Moças sempre se arrumam. Com maquiagem e roupas bonitas. Sapatos de salto. Não eu. Eu visto sempre isso, nem sei o que foi que o Danny viu em mim. Vou perguntar. Ele responde todas as minhas perguntas.

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⏰ Last updated: Aug 28, 2018 ⏰

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Paixões Gregas - Um Amor como Esperança (Degustação)Where stories live. Discover now