Nina piscou os olhos algumas vezes, como se assim pudesse afastar o mal estar que aquelas palavras causaram.

– Sebastian, por favor... Pare de agir desse jeito... - ela pediu com delicadeza, mas suas palavras apenas fizeram o goleiro bufar.

– Mantenha o assunto em Erik. Nada além disso. Não vou ouvir nada que não tenha a ver com o meu filho. - ele lembrou assim que percebeu que Nina pudesse desviar o assunto, ela suspirou cansada.

– Erik é uma criança muito doce. - ela começou, vendo que não teria nenhuma chance de se desculpar com o goleiro.

– Eu sei. - ele concordou, ainda de braços cruzados e sem evitar uma expressão de desgosto.

– Mas talvez você também tenha percebido certos comportamentos nele...

Que comportamentos? - Sebastian perguntou, mas mantinha sua posição impassível, o assunto o interessava, afinal, era seu filho ali, mas tentava a todo custo não se envolver com o que aquela mulher falava.

– Erik é muito quieto... Bem... - ela deu uma pausa, incerta em como continuaria. - Eu sei que deveria ter conversado com a sua esposa sobre isso, até porque, é ela quem sempre vai as reuniões e outros eventos na escola, mas, as antigas professoras já me alertaram que nunca obtiveram resultados quando tentaram ter essa mesma conversa com ela. - ela se explicou.

Nina estava nervosa. Se culpava pela respiração rápida e coração acelerado, deveria manter sua postura profissional, a sua frente estava o pai de seu aluno, tinha que esquecer tudo que ela e Sebastian tinham vivido, porque, no momento, nada daquilo importava.

Sebastian estava com os olhos estreitos, tentava absorver tudo que ouvia, afinal, nunca ficou sabendo de nenhuma conversa de sua esposa com qualquer professora de Erik. Na verdade, Doutzen sempre o informou que o garoto era muito bem elogiado por seu comportamento no ambiente escolar.

O que quer dizer com isso? - ele questionou.

Por um momento o silêncio preencheu a mesa. Nina se remexeu desconfortável na cadeira, sem saber como continuar a partir dali. O goleiro estava impaciente, encarava Nina profundamente, esperando que ela logo continuasse.

– Erik apresenta características de uma criança autista.

Nina nunca esqueceria o espanto que viu no rosto de Sebastian, expressão essa que era rara no goleiro. O rapaz era sempre calmo, dificilmente deixava suas emoções transcenderem, mas, naquele momento, Nina o viu engolir em seco.

– Você está enganada. - foi a primeira coisa que o goleiro conseguiu dizer.

Sebastian não tinha um grande conhecimento sobre autismo, mas sabia de algumas coisas e ele não conseguia acreditar que seu filho pudesse ser autista.

Eu sinto muito em dizer isso dessa forma. Mas eu precisava dizer isso. Eu normalmente contaria para ambos os pais, mas eu conheço você e sei como poderia contar para você. - ela se explicava enquanto que Sebastian tinha uma expressão perdida. - Erik não gosta de interagir, nem com crianças ou adultos, ele não tem interesse no que as pessoas falam, ele não aceita brincar com as outras crianças, fazer as atividades... Vocês precisam buscar ajuda, Erik precisa de ajuda para que possa se desenvolver normalmente.

O loiro a encarou, estava... Indignado. Aquela mulher era maluca. Não bastava tudo que ela tinha feito, ela tinha a cara de pau de inventar que seu filho tinha algo, certamente era tudo parte de um plano, um grande plano de ferrar com a vida dele novamente. Ela sabia bem como destruir com a vida dele, afinal, ela tinha feito isso uma vez, poderia facilmente fazer tudo novamente.

Ele sentiu o rosto ficar quente, tamanha era sua raiva por aquela mulher naquele momento. Queria sair dali, ficar longe da presença inoportuna que ela havia se tornado. Ela estranho imaginar que alguém que ele tanto amou outrora seria capaz de causar-lhe tamanho ódio

– Você é louca! Se você acha que vai conseguir me enganar novamente, fique sabendo que esse seu teatro já não me convence mais! - ele exclamou.

– Basti, por favor, se você me deixar falar eu posso explicar tudo para você, eu posso passar um médico para você, se você não acreditar em mim...

– Cale a boca, Nina! - ele bateu com o punho na mesa, chamando atenção dos outros presentes.

Ele não pensava que pudesse ficar mais irritado do que estava, mas assim que o apelido "Basti" que só Nina usava saiu de seus lábios ele se irou ainda mais. Costumava ser o apelido carinhoso que ela tinha para ele e lembrar disso agora lhe causava náuseas, ela tinha perdido o direito de chamar ele assim.

– Cale a boca! - ele repetiu irado.

A morena se encolheu. Ela jamais o viu daquela forma, nem mesmo quando ela deixou ele, Sebastian jamais tinha agido daquela forma, jamais tinha sido capaz de assustá-la daquele jeito. Ela estava pálida, surpresa demais com a reação do goleiro, ela não esperava por aquilo.

Ela o conhecia tão bem que antes achava que conseguiria ter uma conversa com ele, mas agora via que estava errada, mesmo quando o assunto era Erik, Sebastian não conseguia deixar para trás as mágoas que ela lhe causou.

Em partes ela entendia que ele ainda estivesse magoado, mas fazia mais de dez anos! Era tempo demais, tempo o suficiente para ele ter superado o que eles viveram, tempo o suficiente para tratar ela com respeito.

– Me desculpe, me desculpe por tudo que aconteceu Sebastian. Eu sei quanto magoei você, mas precisamos deixar isso para trás.

Ele soltou uma risada irônica assim que ela terminou a frase, ele simplesmente não conseguia acreditar na audácia de Nina em trazer o passado deles à tona.

Não se dê o trabalho de pedir desculpas novamente, elas não serão aceitas. - ele disse, dessa vez um pouco mais calmo. - Não fale mais comigo ou sobre o meu filho, fique longe Nina, ou eu juro que serei capaz de destruir a sua reputação.

A mulher arregalou os olhos com aquilo, era cruel demais, ainda mais cruel em pensar que ela Sebastian quem dizia aquilo, o loiro jamais tinha dito algo remotamente parecido. Ela não estava acostumada a lidar com o desprezo de Sebastian.

Ele se levantou e sem despedidas saiu do café, ela não teve coragem de dizer qualquer coisa, estava assustada demais e sem palavras para o que tinha acontecido.

8;

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