Eu sou o Douglas. Você não é o Douglas, ou melhor, talvez até seja. Na verdade, isso lá importa?
O que realmente importa são os momentos de virada na vida da gente. Você sabe... Aquele tipo de acontecimento maluco que muda a nossa vida para sempre. Às vezes é um casamento, outras vezes uma palestra de um coach ou um objeto encontrado no banco da praça. Às vezes é uma simples caneta azul-caneta. O meu caso não foi simples, foi uma maluquice que só vendo.
Eu lembro que eu estava feliz no meu carro pela estrada, voltando de uma viagem a trabalho. Era final de tarde e espera só eu te contar como tudo aconteceu. Eu lembro que de repente eu acordei com uma dor desgraçada na cabeça e um enjoo esquisito.
- Quê?!
Soltei aquela exclamação, que fez um eco por ali. Eu parecia estar preso à mesa de alguma forma. Não sentia corda nem nada, mas mal podia me mexer.
<Tenha calma, você está saudável.>
- Como assim? Que voz é essa?
"Eu só me lembro de ter pego a BR pra ir pra casa e..."
<Está tudo bem.>
- Quem é você? O que faço aqui?
"<Sou um ET, estou aqui para uma pesquisa e preciso te fazer umas perguntas.>
- Que merda de ET que nada! Nunca ouvi falar de ET que falasse desse jeito!
<Não peguei.>
- Ó só! Como peste um ET fala português?
E como fala com essa linguagem, sem formalidade, meio que na gíria? Só vim pensar nisso bem depois...
<É difícil de entender. Esta sala converte minha telepatia em significados, depois traduz para a língua de cada um usando nossos próprios vocabulários. Assim eu entendo o que você fala e vice-versa.>
- Peixe babel...
Claro, quem nunca ouviu falar do Mochileiro das Galáxias? Mas era só um livro, né?
<Não é um peixe, é tecnologia na sala.>
- Peraí! Você é um ET!? E me abduziu?!
Não sei se foi por estar mais relaxado, mas foi mais ou menos nessa hora que eu comecei a conseguir me mexer por ali.
E é uma droga mesmo! Maldita mania de tirar o celular do bolso assim que entro no carro! Se estivesse com o celular eu poderia tirar fotos, testar o GPS e o escambau. Não sei se ia me lembrar dele na hora, mas estava sem.
<Eu te trouxe para minha pesquisa de campo. Preciso entender o que é esse tal de Natal. O que é isso?>
- Pô, é sério isso é?
<Sim.>
- E por que acha que eu ajudaria? Acha que eu não tenho nada pra fazer não, ET folgado?
<As coisas de gente são sem importância. Você não estava fazendo nada que preste mesmo. Além disso, viemos em grupo pela Ciência. Um dos colegas que estão comigo estuda biologia e está fazendo uns experimentos no seu planeta. Se preferir, boto você na pesquisa dele.>
- Tá bom. Depois você me libera?
<Claro.>
Lembro que me sentei e cocei a cabeça. Estava numa cama branca, feita de sei lá o quê branco, com um colchão branco que parecia de borracha. Não dava pra ver nenhuma porta, nem janela. Dava fácil, fácil, pra pensar que tinha morrido.