{story of her life}

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Harry morde os lábios conforme observa as fotos que são reveladas aos poucos. São momentos da vida da garota, que mostram-na mais jovem, os traços em seu rosto um pouco menos definidos do que no atual momento. Outras, mostram-na mais velha, sorrindo em lugares simples, mas que pareciam deixá-la feliz. Porém, Harry nota que há muitas fotos de paisagens e alguns objetos do dia a dia, assim como de elementos da vida de qualquer um. Ela tirava fotos de pequenos animais pela cidade ou de pessoas sentadas em cafés. Há fotos de árvores e de leitos de hospitais. Ela gostava de fotografar mensagens deixadas em muros e sorvetes de casquinha coloridos. Aquelas fotografias pareciam contar um história e o garoto percebe o quanto Aurora valoriza a simplicidade e tinha talento para aquilo.

Ele tenta imaginar a própria história daquela garota, tentando perceber se a história dela a tinha feito contar histórias através de uma lente. Ele não sabia se algo tinha acontecido para que a traumatizasse, porém ele apenas queria ela fosse feliz.

Ele ficara tão absorto que nem vira as horas correndo no relógio, os dias se passando em um piscar de olhos, as semanas escorrendo por entre os dedos enquanto ele revelava os segredos das fotos. Quando seus colegas de trabalho ofereceram ajuda para revelar aqueles rolos de foto, ele se sentiu ofendido. Aurora não merecia ter suas fotos tocadas por muitas mãos. Ela era uma garota delicada.

Harry cuidadosamente organiza as fotos já reveladas, não querendo estragar nada. Ele as prepara cuidadosamente para quando a garota for busca-las no dia seguinte.

E quando menos esperava lá estava ela novamente com seus cabelos dourados como raios de sol, vestindo nada além de preto. O olhar tímido se concentrava sobre as prateleiras de câmeras em uma das paredes da loja enquanto Aurora mordiscava o lábio inferior deixando ainda mais rosado.

Harry pigarreia, chamando a atenção dela. Seus olhares se cruzam. Verde e cinza. Harry solta um suspiro quase inaudível, surpreso com a intensidade dos olhar da garota. O coração dá cambalhotas, em sua gaiola de ossos que o mantinham ali, seguro; sem risco de se quebrar novamente, como acontecera na manhã em que Callie lhe dissera que não sentia o mesmo sobre ele nos ossos dela. Então encontrara o coração a seus pés, despedaçado. Naquele momento decidira que amar era uma coisa horrível. Amar alguém tão profundamente quanto ele a amara era como viver com o coração do lado de fora do peito, sem nada para protegê-lo. Jurara a si mesmo que nunca faria algo como aquilo novamente. Mas ali está seu coração idiota saltando do corpo, pronto para se entregar novamente. E dessa vez pela garota a quem nem sabia o nome.

Aurora sente uma pontada de culpa ao ver as enormes bolsas roxeadas sob os olhos do rapaz. Vê em seu sorriso que está cansado, contudo transmite uma alegria que aquece o corpo da garota como uma manta de conforto naquele dia de inverno. Ela sente o rosto vermelho e sorri de volta fracamente.

-- Vou pegar as fotos. -- ele diz. A voz rouca faz com que arrepios percorram o corpo da garota, reverberando em seus ossos, despertando as borboletas no estômago.

Borboletas idiotas. Românticas indomáveis. Malditas dopamina, serotonina e oxitocina que correm em seu corpo, que canta de ansiedade e nervosismo pelo garoto atrás do balcão. Malditos hormônios à flor da pele adolescente que não a permitem pensar direito. Maldito coração que se apaixona tão platonicamente.

Ela não confia na própria boca nesse momento. Desconfia que se a abrisse, começaria a gaguejar. Então apenas assente, ainda desconcertada com o efeito que ele tinha sobre ela, seguindo-o com o olhar enquanto ele caminhava até o laboratório de revelação no fundo da loja.

Harry fecha a porta, segurando a maçaneta em um aperto forte. Suas mãos suam. Pode ver o peito subindo e descendo rapidamente sob o tecido da camiseta. A respiração acelerada, pelo mero vislumbre da garota. Ele pega a caixa com as fotos, sobre a mesa, respirando fundo antes de voltar até o balcão. Ele desliza a caixa sobre a madeira, as pequenas e delicadas mãos de Aurora a amparam com graça. Harry repara nas pequena sardas que se esparramam-se sobre o nariz, bochechas e nós dos dedos dela, como se chocolate derretido tivesse sido salpicado neles. Ela sorri em agradecimento.-- Quanto ficou? -- ela pergunta, a voz suave como veludo contém uma pitada de timidez.

Ele está tão perdido nos detalhes dela, no brilho dos seus olhos tempestuosos como um vendaval, na forma como os longos cílios tocavam as bochechas quando ela piscava, no sorriso de lado gravado no rosto, que fora traído pela própria audição. Harry balança a cabeça, afastando os pensamentos para longe.

-- O quê? -- ele pergunta confuso, uma pontada de constrangimento atinge seu corpo.

-- Quando ficou? -- ela repete calmamente.

-- São 50 libras. -- responde o garoto, trocando o peso do corpo de um pé para o outro, se esforçando para não se inebriar com o perfume de rosas que emanava dela.Aurora demora para achar a carteira, retirando o dinheiro necessário logo em seguida.

-- Obrigada. -- ela diz, sorrindo mais uma vez.

-- De nada. -- ele devolve o sorriso, exibindo uma de suas covinhas. -- Volte sempre!

Esse pedido fora verdadeiro, ele realmente desejava que a garota voltasse, que ficasse. Ela assente, girando em seus calcanhares. Suas bochechas coram e as últimas palavras de Harry ecoam em sua mente. Elas a deixam feliz. Aurora caminha o mais vagarosamente possível até a saída, como se pudesse tornar aquele momento eterno. Não quer ir embora.

Harry a observa atenciosamente, aliviado por ela não ter se virado e visto-o observando-a daquela maneira. Ela é uma garota extremamente interessante e ele só quer descobrir os segredos que ela guarda assim como tinha descoberto os segredos daqueles rolos de fotos naquelas últimas três semanas.

-- Espera! -- ele exclama, quando ela finalmente alcança a maçaneta, parecendo se lembrar de algo. -- Qual é seu nome?

-- Aurora. -- diz ela por cima de um dos ombros, a sombra de um sorriso passa pelos seus lábios. Um pitada de esperança percorre seu sistema.

"Me chame para sair, por favor."

Mas ele apenas lhe dá um balançar de cabeça contido, como se segurasse para não fazer algo. Ela deve mesmo estar perdendo a cabeça, até por que eles mal se conheciam. É claro que Harry não a convidaria para sair. Se sente boba com aquele pensamento, contudo não pode conter a decepção que toma conta de si.

Assim que a garota sai, ele solta a respiração que nem mesmo sabia que estava segundo. Sente as amarras no peito se afrouxarem, o coração desacelerando, desaminado. De um modo inexplicável o garoto se sente conectado a Aurora. Um tipo de campo magnético de energia, o puxa ao encontro dela. De algum modo ele a compreende; mais do que muita gente ao redor dela, talvez mais do que ela mesma. A conhece mesmo tendo trocado apenas poucas palavras. Entende seus por quês, seus talvez e sim e não. E ele sabe de tudo isso através das fotos reveladas. Elas lhe disseram tudo, nelas estavam escritas todas as histórias não contadas, as cores que ninguém poderia mudar. A história da vida dela ali em meros papéis de foto são eram uma biografia muda.

Harry espera ansioso pelo momento em que Aurora pisará na loja novamente. Ele duvida de que ela volte. Ela deve tê-lo achado louco e estranho, mas algo nele diz que esse momento não demorará.

[IMAGINES] LOVELYWhere stories live. Discover now