A borboleta preta

12 0 0
                                    


Sou um desastre,sou a acumulação de erros e decepções constantes,sou uma borboleta preta rodeada de borboletas azuis,se eu fosse uma borboleta azul talvez a minha existência não seria tão irrelevante,mas só talvez...enquanto caminho até à "minha" casa,penso o porque da minha existência ser tão insignificante,ela é simplesmente aceitável,talvez os meus pensamentos sejam muito pessimistas para alguns,porém são a realidade para as borboletas pretas.
Ao chegar em casa escuto uma voz familiar,subo as escadas,entro no meu quarto e deparo-me com Alessia deitada em minha cama,observando o mural de fotos atrás da minha escrivaninha,enquanto canta algo desconhecido aos meus ouvidos,algo singelo porém belo como ela.

-O que está cantando?

-Promessas...promessas para uma borboleta preta.

-Promessas que serão perdidas certamente.

-Entre tantas promessas perdidas,eu consegui fazer o que ninguém fez...ficar.

-Vamos.

Descemos as escadas,abro a porta e escuto alguém me chamar.

-Emily,olá para vc também.

-Tchau.

-Sinto a sua falta.

-Você só percebe minha ausência quando sua carência,te deixa sem opções.

-Filha,eu te amo e amor é tudo que alguém precisa,para sair dessa vida de errante,sem finalidade,sem esperanças,sem fé.

-Como você ousa dizer que o amor é tudo que alguém precisa se mesmo você tendo resolveu me deixar? Tchau.

Seguro a mão de Alessia e a puxo para fora,andamos até à garagem de sua casa,sento no chão encostada ao portão da garagem,ela se senta no meu colo de frente para mim com uma perna de cada lado,acendo um cigarro,enquanto fumo percebo que o tempo não cura tudo. Aliás, o tempo não cura nada, o tempo apenas tira o incurável do centro das atenções.

-Parece cocaína mas é só tristeza.

Ela tira o cigarro da minha boca e põe em sua boca,observo os seus traços italianos tão simples,porém tão belos.

-Não há hipérbole ou metáfora capaz de descrever o que eu sinto quando te olho.

Ela sorri,mas não era qualquer sorriso, era aquele tipo de sorriso que implorava para eu não ir embora.

-Quando te vejo sorrir.

Beijo-a,um beijo calmo,doce como o cheiro do mar.

-Emily,você é como poesia,linda,de um jeito sombrio,eu gosto de você.Se eu pudesse te dar algo, te daria a capacidade de ver a si mesma através dos meus olhos, para que então você conseguisse perceber o quanto borboletas pretas podem ser especiais.

-Mas por que diabos elas não são azuis?

E esta reflexão,uma das mais profundas que já se fez desde a invenção das borboletas,consolou os meus pensamentos.

Chegaste ao fim dos capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Mar 17, 2021 ⏰

Adiciona esta história à tua Biblioteca para receberes notificações de novos capítulos!

A borboleta preta Onde as histórias ganham vida. Descobre agora