Capítulo 17 - Quanto mais perdidos, melhor

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 Não tivemos tempo de pensar na lista de artistas que se apresentariam no dia e em quem poderia estar no palco. Enquanto passava os olhos pelas pessoas ao redor, vi um dos seguranças que corriam atrás de nós uns minutos atrás – e é claro que, com a minha sorte digna de Arwin, fiz contato visual por pelo menos dois segundos antes de arregalar os olhos e mudar meu campo de visão, mas o estrago já estava feito.

Droga. Droga. Droga.

 Vi o segurança apontar para onde nós estavámos antes de tentar passar pelas pessoas, o que não era tão fácil quanto parecia para um cara grande como ele – e, duas coisas sobre isso:

1: Essa foi a primeira vez na vida que eu agradeci por ser um adolescente que tem o corpo de um moleque de 12 anos, que eu percebi ser muito útil na arte de escapar de lugares estreitos e cheio de gente.

2: Uau, as pessoa realmente não respeitam os seguranças.

 Depois de um segundo sem saber o que dizer ou como reagir, agarrei o braço de Marjorie e a puxei, ignorando completamente o fato de estar super preocupado uns segundos atrás se ela ia morrer na minha frente ou não.

A garrafa de água que ela segurava voou para longe, esquecida, e nós começamos a correr de novo. E embora eu soubesse que não era realmente minha culpa, eu sussurrava desculpas à Marjorie enquanto ela tentava recuperar sua respiração e correr ao mesmo tempo.

– Foi mal. Desculpa, ai, com licença – Esbarrei em umas vinte pessoas que tentavam nos olhar feio e prestar atenção ao show ao mesmo tempo. – Com licença, ai – foi mal!

 Era difícil ver com tanta gente, mas os seguranças ainda pareciam estar atrás da gente. Tentávamos despistá-los andando em zig-zag, o que não é difícil num lugar como aquele (difícil mesmo é andar em linha reta). Eu me sentia como uma mãe (Noelle, não faça piadinhas) segurando a mão de Marjorie - que parecia menor e mais escorregadia que nunca - e nos guiando a frente daquele labirinto de pessoas. "Quanto mais perdidos, melhor" eu repetia na minha cabeça, tentando encontrar qualquer lugar onde podíamos nos esconder naquela multidão, e desejando que Andy estivesse alí com algum de seus truques malucos. Ele com certeza saberia como sair daquela com mais facilidade que eu. 

 As coisas ficaram um pouco mais complicadas quando os artistas do palco começaram a cantar uma música um pouco mais, digamos, agitada? É, agitada é a palavra. Eu conseguia ouvir o som do baixo dentro da minha alma e o chão parecia tremer com a bateria - então, não que eu esteja querendo exagerar ou ser dramático, mas sim, eu realmente pensei que naquela hora ia morrer esmagado por adolescentes indie com tiaras de flores e óculos redondos. Foi um pesadelo? Foi. Marjorie quase morreu antes de seu tempo? Sim. Mas aquela situação horrível também nos ajudou escapar dos seguranças.

– Diga, Torre Eiffel – Marjorie zombou, sua voz ainda soando estranha embora estivesse com seu sorriso de sempre no rosto agora molhado de suor. – Consegue ver os seguranças?

Fiz uma careta para o apelido sem sentido (Eu nem sou tão alto. Quero dizer, sou mais alto que ela, mas isso não quer dizer que sou alto). Olhei em volta mais uma vez só para ter certeza de que não – eles não estavam perto da gente.

– Parece que os despistamos – Eu falei, e minha voz soou estranha aos meus próprios ouvidos. Não tinha percebido o quão cansado estava.

– "Parece que os despistamos" – Marjorie imitou, engrossando a voz, fazendo uma péssima imitação de mim. – Tudo bem, agente Johnston. Pode parar de falar como um CSI.

Olhei para ela e pensei em responder de forma sarcástica, mas estava tão cansado que resolvi só rir, o que ela retribuiu. Eu até daria um tapa amigável no braço dela, mas na posição em que estávamos era um pouco difícil fazer coisas básicas como se mexer, respirar e estar vivo em geral. Mesmo assim estava um pouco aliviado de que ela tinha voltado ao seu estado natural de zombar com a minha cara.

Marjorie e os 12 PorquêsOnde histórias criam vida. Descubra agora