PRÓLOGO

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Jon estava sentado à beira de um córrego, ouvindo o som da água e olhando seu reflexo tremular na superfície. A água corrente refletia um garoto magro de pele clara e cabelos escuros. Era difícil saber o que se passava em sua cabeça. Apenas parecia estar extremamente consternado, como se esperasse uma tragédia.

O céu limpo, somado à brisa de outono, tornava muito agradável o clima daquele local. As pequenas flores enraizadas na beira do córrego balançavam com o vento e o aroma das plantas que preenchiam o ambiente tornava aquele o lugar perfeito para aproveitar a estação.

Jon deu meia volta e viu a trilha por onde ele e seus pais haviam vindo, mas não os viu lá. Ele foi em direção às bolsas que haviam trago para buscar água e encontrou-as vazias. Olhava para um lado e para o outro, mas não via ninguém. Seu coração começou a acelerar e sua imaginação a passar por todas as possibilidades que justificariam a ausência dos pais. Nenhuma plausível. Geralmente seu raciocínio lhe dava respostas satisfatórias. Tudo tem um motivo e uma implicação lógica, que podem ser facilmente previstos pela mente capacitada. Jon gostava do exercício mental de prever as ações das pessoas ao seu redor, assim como seus efeitos. Fazia isso há tanto tempo que dificilmente errava. No ponto em que estava, as pessoas costumavam ser tão previsíveis quanto as fases da lua. O fracasso de sua arma naquele momento tornava a situação ainda mais desesperadora.

Sem saber o que fazer, Jon foi em frente na trilha em busca de seus pais. Ao longo de sua caminhada, o céu, antes limpo, começou a se carregar de nuvens densas e escuras. O garoto acelerou o passo, na esperança de encontrar seus pais antes que uma tempestade caísse. As primeiras gotas começaram a regar o solo e os primeiros clarões dos relâmpagos fizeram-se ver ao longe no horizonte, seguidos por seus ensurdecedores estrondos. Jon agora corria, mas a trilha parecia nunca ter fim. Foi quando ele viu, alguns metros à frente, uma figura esguia e alta, de postura encurvada e aspecto lúgubre, parado no meio da trilha, olhando para o chão. A criatura parecia ter dois metros de altura se posta ereta. O garoto parou de vez com a visão assustadora do homem parado à frente e o som de seus pés derrapando na terra o chamou a atenção, o que o fez se virar. Jon nunca havia visto algo tão macabro. O homem era completamente negro, exceto pelos olhos enormes e brilhantes; vermelhos como sangue. O menino, assustado, deu um passo para trás ao mesmo tempo que se virava para correr para longe do que quer que fosse aquilo, mas, quando deu meia volta, o monstro havia aparecido subitamente a sua frente. O susto o fez tropeçar e cair sentado no chão. O homem se encurvou, aproximando seu rosto ao de Jon.

— Você ainda não me conhece, não é mesmo? — Perguntou a criatura. Sua voz era rouca e grave — Não vai demorar muito para nos tornarmos bons amigos. — Disse, sorrindo.

Então, Jon acordou num suspiro e se viu ofegante sobre sua cama.

Outono em Old RiverOnde as histórias ganham vida. Descobre agora