Meu coração se contorce dentro do peito, minhas mãos tremem e sinto minha garganta fechar.

─ Lara... o nosso bebê foi morar no céu ─ abaixo o olhar não querendo a encarar e quando levanto meu olhar tenho meus olhos nublados pelas lágrimas. ─ Você sofreu um aborto por conta dos chutes da agressão... e...

As palavras sumiram, tudo ficou branco e eu congelei lá onde estava.

─ Não... não ─ ela começa a se desesperar tocando na barriga, as lágrimas fogem de seus olhos, ela treme e gagueja. ─ Ele está aqui, o meu bebê está aqui, ele não pôde ter se ido, não pôde ter me abandonado.

─ Lara... ─ uma lágrima deslizou pelo meu rosto, e eu encarei o desespero dela, odiava ver seu rosto banhado pelas lágrimas.

─ Não, Bruno! ─ ela grita chorando. ─ Ele não pode ter morrido, ele é meu filhinho, o meu bebê... ele está aqui comigo, mesmo eu não sentindo mais ele, mas eu sei que está.

Eu me levanto da poltrona e me sento no leito a puxando pro meu colo e sentindo suas lágrimas molhando minha camisa. Ela me abraça enquanto deixa todo aquele pranto extravasar.

─ E nossos planos, Bruno? A minha barriga não vai crescer, não vamos brigar pra escolher o nome dele, não vamos trocar as fraldas dele e nada disso...

─ Eu sei, amor ─ a abraço também chorando. ─ Mas você vai poder ter mais filhos, sei que está doendo e que não vai ser fácil esquecer ele, mas temos que aceitar isso. Eu queria ter ele em meus braços mais que qualquer pessoa desse mundo, eu queria poder dizer que o amo imensamente pessoalmente, mas não vou poder. Meu paraíso foi junto com essa perda, mas vai passar meu anjo, vamos ficar bem, e nosso anjinho sempre será nosso filho independente do que aconteça, mesmo a gente nunca tendo visto ele na nossa frente.

─ Por que, Bruno? ─ o grito rouco escapa de sua garganta. ─ Por que logo nosso bebê?

─ Eu também não sei ─ afago os cabelos dela encostando meu queixo na cabeça da mesma e a segurando.

Era tão doloroso ouvir seu choro de desespero, era tão doloroso passar por aquilo, era tão doloroso sonhar com algo e isso ser arrancado com brutalidade de nós. Mas a vida não é um conto de fadas, nunca vai ser, sofremos perdas e algumas dessas perdas são lições que jamais devemos esquecer.

Com essa perda eu aprendi muito, eu aprendi com meu filho, aprendi que mesmo ele não estando presente eu podia o sentir, mesmo não o vendo eu o amava, e amor de pai não há cabimento, ele me dava forças, e sei que se não fosse tirado de nós dois seria uma criança mais que feliz. Eu iria garantir isso pra ele. Mas infelizmente, o pior havia ocorrido.

Lara narrando:

Depois de um tempo as lágrimas cessaram, depois de um tempo eu me acalmei mais, depois de um tempo eu quis ficar sozinha.

Minha mãe desde pequena sempre me falou que eu não iria sorrir pra sempre, teria horas que eu iria cair e me machucar, mas depois de um tempo, eu voltaria à sorrir. Ela me disse que toda dor é passageira, e que alguns machucados demoram mais pra cicatrizar.

Eu me sentia vazia, absolutamente vazia. Sentia que havia perdido meu maior paraíso, a coisinha que eu mais amava na minha vida.

E agora me sentia exatamente como eu descobri a existência dele: cética, sem acreditar.

Bruno não falava nada já tinha um tempo, ele estava na poltrona e ambos estávamos em silêncio, um silêncio matador. Ele estava sofrendo, seus olhos transbordavam isso. E eu também não queria conversa, só queria ficar na minha alisando meus dedos.

Eu jamais veria minha barriga crescer, jamais sentiria os chutes e ele mexendo de novo, não iria acariciar minha barriga sabendo que ali tinha uma vida, o meu bebê. E isso doía... doía absurdamente muito, porque eu queria ser mãe, e em pensar que nunca seguraria o meu bebê nos braços fazia meu peito ficar em pedacinhos. Já havia feito tantos planos na qual não poderia realizar, a cor do enxoval, as roupinhas que iria comprar, as emoções das ultrassonografias e ouvir seu coração minúsculo batendo, e até estava preocupada com o berço e ele só tinha três meses, quase quatro.

Eu me sentia acabada. Não teria ele nos braços, não ouviria seu choro, não o daria de mamar, não o veria dar seus primeiros passos, não o veria crescer. Isso ficaria somente no meu pensamento, somente no meu pensamento.

Não consigo entender como há mães que desprezam seus bebês, eles são vidas, assim como eu e toda a humanidade do mundo. Vão sentir sede, calor e fome, vão chorar quando sentir dor e sorrir quando o fizermos cócegas.

Eu não teria esse tipo de emoções.

E agora eu só queria dormir, acordar e passar minha mão pela minha barriga chamando meu bebê e o sentindo mexer, só queria acordar e o sentir dentro de mim. Apenas isso.

Com quem iria conversar? Com quem iria contar meus planos? Imaginar penteados, roupas e brinquedos? Imaginar o primeiro passo e a primeira queda? Como eu faria isso de agora em diante?

Olhei para Bruno e deixei que as palavras escapassem de meus lábios seguido de um choro agudo.

─ Bruno? Meus paraísos estão perdidos, e acho que nunca mais irei os achar... ─ digo deixando o pranto se derramar pelo meu rosto e fechando minhas pálpebras.

Paraísos PerdidosWhere stories live. Discover now