Capítulo 35

Depuis le début
                                    

Fico sem palavras, e dessa vez choro não pelo medo da morte, mas pelos meus pais. Eles se sentiam tão culpados como eu. Ao menos, eu tinha meus tios, meus primos. Depois o Tyler.

Tyler!

- Se por acaso, o açougue ambulante que é seu corpo tiver algo que me sirva, você pode usar o dinheiro que o papai vai te dar com outra viagem. Experimente o Brasil. Sempre quis ir pra lá antes de dar uma passada em Machu Picchu - digo, tentando levantar o humor.

Ela sorri.

Papai deixa sua carranca surgir.

- Pelo menos um pouco do bom humor você puxou de mim – diz puxando um dos meus cachos gentilmente – E pra você desmistificar a mãe interesseira que tem, eu nunca usei aquele cheque com coisas fúteis. Doei para uma entidade que ajuda crianças carentes com câncer. Você ficaria surpresa com o tanto de pessoas que morrem pela falta de tratamento. Nem todos têm a mesma sorte que você.

Isso sim me pega de surpresa. Perdi a conta das intermináveis vezes que tia Claire e Molly endemonizavam Charlotte por ter aceitado o dinheiro de papai quando hesitou ao lhe ligar e contar tudo.

- A princípio eu tive medo. Por mim e por você. Depois de tanto tempo sem vê-la. A encontraria fraca em uma cama de hospital. E se eu não fosse capaz de salvá-la como não fui capaz de ser o suficiente? – diz, suas lágrimas surgindo pela primeira vez.

Isso choca mais ao meu pai do que a mim. Essa viagem está sendo bastante reveladora. De um jeito bom. Talvez eles possam se aproximar novamente. Como amigos pelo menos.

- Eu... Eu nunca imaginei – diz papai.

- Sim, eu sei o que parecia. Eu mal pisei naquela merda de hospital e você e Martin já estava me empurrando um cheque. Senti-me ofendida. Iria rasgá-lo. Mas, todas as noites, pelo menos nas poucas em que você deixava o quarto da Sam enquanto ela dormia, eu ia lá e a observava dormir. Em uma dessas, ouvi uma mãe lamentando pela falta de dinheiro e alguma coisa sobre o tratamento. Desisti na hora de rasgá-lo. Sabia exatamente o que fazer.

- Charlotte...

- Não ouse se desculpar – diz limpando as lágrimas e sorrindo – Chega disso!

- O câncer e seu poder de união – brinco – Au! Isso doeu.

Charlotte beliscou meu braço.

- Isso não é engraçado. Tenha um pouco de respeito pelos seus pais, menina – rosna. O olhar que papai me dá quando corro em busca de ajuda só me deixa saber que se ela não me beliscasse ele faria.

- Tá legal! Piadinhas de mau gosto? Zona proibida – rendo-me

Zona proibida me lembra o Tyler.

- Me empresta o celular? – digo para ninguém específico. Samuel é o primeiro a sacar o seu.

- É bom mesmo você ligar para casa. Eles estão desesperados. Até para mim ligaram – diz Charlotte.

- Espera, você contou a eles?

- Eu contei ao Martin, mas parece que eles já sabiam. A propósito, seu namorado destruiu todo o seu carro – conta papai.

- Tyler fez o quê? – esbravejo.

- Steve me mandou uma mensagem. Não contei por que... – dá de ombros.

Meu Deus! não era pra eles saberem assim. Em algum momento eu iria ligar e me explicar.

                                                    Tyler

Quando um raio de sol me desperta de vez é como se eu tivesse passado toda a noite caído com alguém esmurrando a minha cabeça. Ela lateja e dói como o inferno. Minha boca está seca e amarga, e cheiro como um mendigo alcoólatra. Só falta o cheiro ardido de urina.

- A bela adormecida despertou – cantarola Phill em pé na cozinha – Aqui – joga-me uma garrafa de água. Bebo grato.

Ao redor, minha TV, equipamento de som e tudo mais estão despedaçados no chão. No canto, próximo a porta, identifico restos do meu celular.

Merda! E se a Sam me ligar?

- Até você ter destruído-o sem ligações – Phill diz seguindo meu olhar. Assinto.

Se ela fugiu porque ligaria?

Já faz vinte e quatro horas desde que se foi. Para a polícia isse é realmente o tempo que lhes importam. E, para o seu câncer?

Depois de ter chegado em casa foi sobre isso que passei o tempo pensando enquanto enchia cada vez mais a cara. Será que vão encontrá-la em algum motel na beira da estrada dias depois, após o vencimento do tempo alugado? Ou será que vai sentir tanta dor e não resistirá à ida a um hospital? Sem documentos ficará dias ou até mesmo semanas até que a encontremos. Ou será tão rápido que morrerá em seu sono? Minha mãe sofreu muito, mas no último momento simplesmente fechou os olhos para uma soneca após uma melhora e nunca acordou.

Deus, não a deixe sofrer!

E, eu nem estarei ao seu lado para segurar sua mão. Para dizer o quanto a amo e sempre amarei. Daria tudo para estar ao seu lado novamente, até mesmo perdoá-la sem nem ao menos questioná-la o porquê de se afastar de mim. Se bem que isso está mais que claro.

Ah, Sam, pense um pouco mais apenas em você.

- Tome um banho e se apresse! – Peter entra com tudo em meu apartamento – Rápido, porra! Ela está indo para casa!

Assim como o ar que fica preso em meus pulmões, meu coração por um instante parece parar de bater.

Ela está de volta!

Votem, por favorzinho ☺️

Mais Que Amigos {Finalizada}🚫16 Où les histoires vivent. Découvrez maintenant