22 de Dezembro


    As horas passavam e a calçada da rua era a única coisa que o rapaz tinha por debaixo dos seus pés para além da ilusão de um abismo. Decidira fazer um dos seus tantos passeios noturnos, sendo agora acompanhado pelos enfeites e luzes de Natal que decoravam todos os edifícios da rua. O brilho dava uma certa magia e as músicas natalícias que soavam contribuíam para o tal espírito natalício que as pessoas tanto falavam. Para o rapaz de 17 anos era uma miragem tudo o que via e ouvia, era apenas mais um dia do ano e mais um dia que teria que suportar. Não desprezava a data mas também não se importava totalmente. A sua irmãzinha é que o acordava do seu estado de dormência para o tentar levar a celebrar a festividade mas para infelicidade dela não tinha total sucesso, este não voltaria a dar tanta importância a datas impostas ou festividades que inundavam lojas e caminhos de felicidades falsas. A realidade é que os preços anunciavam-se mais altos, aumentos miseráveis do salário mínimo nacional, subida dos combustíveis entre outras coisas, deixando um cidadão cada vez com mais dificuldades. Qual a necessidade de gastar dinheiro em tanta coisa fútil para depois ser deixada num canto? As crianças querem tudo e mais alguma coisa que quando têm deixam de lhe dar valor, consequentemente os adultos também mas estes sempre foram assim: só dão valor quando perdem.
Ishii tinha a mente demasiado quebrada para se importar minimamente com coisas excessivas, bastava as coisas simples. Em troca de todas estas decorações, luzes, cartazes, etc, porque não se reuniam realmente? Tudo bem que muita gente se reune em casa com a família mas em muitas casas é só para manter uma fachada bonita. É uma convivência falsa, um espírito falso, uma alegria falsa. Ele não se podia queixar porque para ele a sua família eram apenas 6 (ele, a irmã, a mãe, o pai, o avô e a avó) pois o resto apenas existia, não queriam saber uns dos outros senão para meter veneno e criticar.

Sem dar conta acabara de ter uma ideia.
Acabou de dar mais umas voltas à sua vila e foi para casa cheio de vontade de pedir uma coisa aos pais. Já em casa, chamara pela sua mãe e pelo seu pai, que se encontravam no sofá da sala a ver um programa televisivo qualquer, que lhe deram logo atenção.

- Eu queria pedir uma coisa... - começou a brincar com os seus dedos e a sorrir timidamente.

- Diz

- Amanhã podemos ir à cidade fazer voluntariado? Lembrei-me que à uma semana a Elisa me falou de na véspera de Natal ir acompanhar a sua tia à Associação que ia dar refeições quentes aos sem-abrigo e falar com eles. Podíamos ir?

A sua mãe estava emocionada e sentia muito orgulho do seu filho por querer que a sua família participasse numa atitude tão nobre.

- Claro que sim meu filho, caro que sim. - sorriu - Diz à tua amiga se podemos e as horas para nos reunirmos.

- Sim, mãe. Obrigado - abraçou-os.

Bastou apenas um minuto para Ishii correr para o seu quarto e pegar no telemóvel.

Para: Elisa (Chata) Liseberg

Amanhã para contares com mais 4 na ida à cidade? :)

Recebendo rapidamente uma resposta.

De: Elisa (Chata) Liseberg

Claro ;) estou muito contente por tu e a tua família virem ajudar. Uma mão é sempre bem vinda para quem mais precisa. Tem que estar em frente à Câmara às 18h.

O Cachecol Vermelho (#NatalUnidos)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora