Capítulo 1

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A cidade de Gramado, na Serra Gaúcha, é sem dúvida um dos maiores destinos turísticos do estado do Rio Grande do Sul e do Brasil. Pequena, bonita e charmosa, com arquitetura e urbanismo repletos de traços requintados e vegetação farta, exuberantes montanhas verdejantes, chalés alpinos e chocolatarias que proporcionam um ambiente tranquilo nesta charmosa vila gaúcha, o que só faz incentivar sua principal fonte de renda: o turismo.

Com uma arquitetura especial e encantadora, Gramado possui traços europeus que integram um estilo característico da colonização alemã, um pouco da italiana e também da suíça. Não apenas as construções, mas as belas praças, parques e os bosques majestosos, a gastronomia típica e o comércio inspiram-se no visual do velho continente para criar um cenário paradisíaco.

No inverno, o frio da serra acrescenta um charme extra às ruas cheias de lojinhas enfeitadas, os cafés movimentados, a Rua Coberta, a bela igreja de São Pedro e o comércio famoso pelas roupas de lã e pelo chocolate artesanal. O lugar atrai visitantes o ano inteiro graças a sua intensa programação e sua variedade de atrações artísticas e culturais, pois é sede do badalado Festival Internacional de Cinema e de outros grandes eventos como a Festa da Colônia, a Chocofest e o Festival de Gastronomia.

Mas a magia desse lugar encantador vem à tona durante um evento em especial: o festival natalino conhecido como Natal Luz, que é simplesmente o maior evento de Natal do mundo e que atrai milhares de turistas todos os anos para se encantarem com seus espetáculos e atrações. Entre os eventos mais visitados pelos turistas estão o espetáculo "Nativitaten" ou "Eu sou Maria", no lago Joaquina Bier; o Grande Desfile de Natal; a Vila de Natal; a Cerimônia de Acendimento das Luzes, que acontece diariamente; além de lugares exuberantes como o paradisíaco Lago Negro, o surpreendente Mini Mundo, a Aldeia do Papai Noel, no Parque Knorr, as fábricas de chocolate, o congelante parque de neve indoor Snowland, entre outros.

Já é noite quando uma van, caracterizada com as logomarcas de uma das diversas agências de turismo sediadas em Gramado, avança rapidamente pela famosa Avenida das Hortênsias e passa pelo extenso portão de entrada de um luxuoso hotel 5 estrelas, o qual leva como passageiros o empresário Nestor Alvares com sua esposa Evelyn e a filhinha Ana Luiza, de apenas 10 anos. O veículo estaciona na portaria do luxuoso e magnífico resort, localizado numa área privilegiada da cidade, próxima dos locais onde acontecem todos os eventos diários do Natal Luz.

O hotel é imenso e deslumbrante, coisa de outro mundo! O requinte e a arquitetura majestosa são realçados pela paisagem farta do verde da vegetação singular do local, composta predominantemente por lindas e coloridas hortênsias, sem falar no agradabilíssimo clima frio típico da região sul do país.

Seu Nestor é um senhor de pele clara, levemente calvo e de olhar carrancudo, o qual ostenta um espesso par de óculos de grau e deve ter pouco mais de quarenta anos. Ele é um empreendedor bem sucedido no ramo do turismo na região de Fortaleza e, apesar de estar num lugar fantástico como Gramado, seu principal objetivo na serra gaúcha não é passear ou aproveitar os festejos natalinos, mas sim participar de um congresso de empresas de turismo a ser realizado no auditório principal do resort no qual acaba de chegar.

Dona Evelyn é uma distinta e simpática senhora de cabelos castanhos e volumosos e de uma pele clara muito bem cuidada. Com certeza está mais deslumbrada com o lugar do que seu marido. Da mesma forma sua filha olha para todos os cantos do imenso hotel, admirada e boquiaberta com tamanha beleza do lugar. Ana Luiza, ou simplesmente Aninha, é uma linda menina de olhos cor de mel, cuja pele e cabelos se assemelham bastante com os de sua mãe. Ela se mostra intensamente empolgada e admirada com o resort e os luxos que se espalham por todos os lados.

̶  Ei mamãe, eu quero é morar aqui! – afirma ela convicta.

̶  Tá bom minha filha... Converse com seu pai.

̶  Não seja boba minha menininha! Se você vier morar num lugar frio como esse, só vai viver resfriada. – argumenta o pai cortando o barato da garota.

̶  Oh papai! – lamenta-se a menina visivelmente desapontada – Aqui é muito é bom de se morar.

̶  Está bem, quando voltarmos para Fortaleza a gente conversa sobre o assunto, ok? – continua seu Nestor buscando dar um ponto final no assunto, pelo menos por enquanto.

̶  Está bem papai. – concorda Aninha sob o olhar atento e sorridente de sua mãe.

Apesar do lugar maravilhoso onde acabaram de chegar e também já ouvirem o som das festas natalinas que invadem a cidade, Nestor e sua família estão exaustos, pois foi um longo dia de viagem de avião de Fortaleza até Porto Alegre, com escala em São Paulo, além de enfrentar mais de 100 km de carro subindo a serra até chegar em Gramado. Sendo assim, eles apenas dão entrada na recepção do hotel e vão direto para o flat reservado para eles no bloco principal do complexo.

Os aposentos da família Alvares é de encher os olhos. Trata-se de um luxuoso flat localizado no terceiro andar do prédio em frente ao portal principal do complexo resort. O lugar aconchegante possui uma sala de estar com mesa de centro e dois sofás cama, uma encantadora lareira natural, uma pequena cozinha toda equipada, uma suíte deslumbrante e mais um quarto, ambos adornados por belíssimas cortinas e camas protegidas por espessos cobertores, além de TV e som na sala e na suíte. A varanda possui uma sacada que dá vista para todo o complexo. Tudo no mais alto nível de requinte e luxo que o dinheiro pode comprar. Seu Nestor aprecia todo o lugar com um olhar de quem não cabe em si de tanto orgulho.

Aninha deixa sua maleta no quarto de hóspedes e depois corre para a sala de estar onde joga-se em cima do sofá, extasiada diante da beleza e do conforto do lugar. Em seguida ela se posta em frente à lareira, a qual contempla maravilhada, pois aquilo é uma coisa que ela só tinha visto na televisão.

̶  Olha papai... Podemos acender essa fogueira?

̶  Isso é uma lareira, minha filha! – corrige dona Evelyn dando uma discreta risada.

̶  Oh mamãe! Não importa o nome... Eu queria apenas ver essa fogueira acesa. – insiste a menina.

̶  Tenha paciência minha menina. – abranda seu Nestor sentando-se no outro sofá – Amanhã verei com alguém do hotel se a lareira pode ser acesa normalmente. Mas agora quero mesmo é tomar um banho e me deitar. Estou exausto.

̶  Acho que nós todos estamos, não é mesmo querido? – completa a mulher sentando-se ao lado do marido.

Nesse instante ouve-se bem o som de fogos de artifício que se confundem com sons de músicas e sinos natalinos. Da janela de vidro que dá acesso à varanda dá para ver o cintilar das luzes que clareiam os céus vindas do centro da cidade. Os olhos da menina brilham e a empolgação parece tomar conta dela.

̶  Mas eu não estou cansada. Eu quero é ir lá pra rua onde tem fogos e luzes de Natal.

̶  Minha filha, nós teremos vários dias para aproveitar essas festas de Natal, mas passamos o dia quase todo viajando e agora estamos cansados. Prometo que amanhã vamos passear bastante na cidade, está bem? – argumenta dona Evelyn dando um largo sorriso no intuito de fazer a menina desistir daquela ideia, no entanto ela não pode deixar de notar o olhar de desapontamento de sua filha.

Desiludida, a menina fecha o semblante, levanta-se e parte em direção ao quarto com os braços cruzados deixando à vista todo o seu descontentamento, o que acaba levando seus pais a soltarem risadinhas discretas, não dando muita bola para a garota.

UM CONTO DE NATAL EM GRAMADOOnde as histórias ganham vida. Descobre agora