Capitulo 2

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04 de Agosto de 2010

Narrado por Amélia

Já se passaram duas semanas desde que aterrei em território brasileiro, por incrível que pareça eu e Draco só trocamos algumas palavras durante todo o dia e essas palavras são bom dia e boa tarde. Draco passa todo o dia dentro do seu grande escritório a resolver problemas da empresa e eu ocupo o meu tempo com as empregadas da mansão.
Posso dizer até que fiz uma amiga, a Jully. Ela tem 20 anos também como eu, foi expulsa de casa por ter engravidado do seu ex namorado que foi morto um mês antes do filho de ambos nascer num conflito da gang onde pertencia, vidas complicadas.

- D. Amélia, gostaria de me acompanhar até ao mercado. - convidou a Jully, eu estava sentada no sofá mais uma vez a olhar para as paredes, literalmente a morrer de tédio.

- Ah Jully, tu és a minha salvação. - suspirei - estou cansada de estar sempre aqui dentro de casa. - confessei.

- Senhora, você tem de sair mais, divertir-se.

- Jully não me trates por senhora, temos a mesma idade. - repreendia enquanto observava as crianças que brincavam alegremente no parquinho a caminho do mercado.

- Desculpe, mas é complicado para mim trata-la pelo seu nome. Você é minha patroa. - explicou.

- Seja menas menina. - briquei.

O caminho até ao mercado foi feito com bastante alegria, sorrisos e brincadeiras, eu gostava do tempo que passava com Jully, era bom ter alguém da mesma idade que eu para conversar. Draco é 10 anos mais velho do que eu, mas vocês sabem que a minha "relação" com ele não é das melhores. Inclusivamente já fui repreendidada pelo meu marido por passar algum tempo com Jully, mas eu não quero saber das suas repreensões, desde que Jully não perca o seu emprego vou continuar a disfrutar da sua companhia.

Percorri todos os corredores daquele mercado à procura de uma lata de feijão preto, Jully apanhava o resto dos ingredientes para o jantar e quando finalmente encontro a bendita lata sinto o meu corpo embater em algo duro como pedra fazendo-me cair.

- Porra. - praguejei levantando-me do chão.

- Desculpe senhora. - lamentou António corado de vergonha.

- António? O que está aqui a fazer? - questionei admirada.

- O meu trabalho. - respondeu.

- Como soube onde me encontrar?

- Quando a senhora sai eu tenho de a proteger. Ordens do senhor Draco e a senhora não me avisou que ia sair. Então tive de recorrer aos meus contactos. - disse sério.

- Você vais contar ao Draco que eu "fugi"? - perguntei com medo da sua resposta ser positiva.

- Vejamos ... - fingiu pensar - Não, não irei contar. - sorriu deixando-me petrificada a admira-lo ainda mais.

Porra, este homem tem um sorriso lindo, acho que deveria sorrir mais vezes.

- Vamos, a Jully deve de estar à nossa espera. - disse ainda hipnotizada com o seu sorriso.

- Então a lata do feijão que está no chão fica aí? - brincou.

- Eu apanho. - corei.

Em silêncio fomos procurar a Jully que já estava na caixa a pagar as compras. Tal como eu também ela ficou surpreendida ao ver António.

No caminho para a mansão paramos no parquinho onde as crianças brincavam, não me lembro de ser assim na minha infância.

Ao observar a alegria e ingenuidade daquelas crianças percebi que eu desde muito nova era vítima das garras do meu pai, eu nunca tive aquela liberdade para brincar, só podia estudar.

Debaixo de uma árvore um menino com cerca de 4 anos chorava baixinho, o menino estava sujo e aquela sujeira não era de ter acabado de brincar no parque, era uma sujeira de não tomar banho à alguns dias.

Aquela cena tocou dentro do meu coração e aos poucos fui aproximando-me do menino.

- Olá. - saudei suavemente, o menino apenas olhou para mim com medo. - O que estás a fazer?

- Nada. - respondeu baixinho e bocejando de seguida.

- A tua mamã está onde? - perguntei e os olhos do menino encheram-se de água novamente.

- Eu posso ajudar-te se me responderes. - olhei para o António e Jully e eles também estavam preocupados e confusos com a situação.

- A minha mamã foi embora com uns senhores. - disse inocente.

- Explica isso à tia Amélia meu amor. - pedi sentando-me ao lado do menino.

- Uns senhores partiram a porta da minha casa, a mamã estava a fazer bolachinhas para mim e eu tinha ido ao wc. Eu fugi para o meu quarto, escondi-me debaixo da minha caminha, tive medo. - a primeira lágrima rolou no seu pequeno rosto. - Depois quando ouvi um barulho grande eu fui procurar a mamã e ela não estava lá, mas no chão havia sangue. A mamã tem dói-dói? - perguntou assustado.

- Sequestro. - disse baixinho só para mim. - E o teu papá?

- Não tenho. - respondeu com mágoa.

- Queres vir com a tia? Vamos cuidar dos teus dói-dóis, tomar banho para ficares cheiroso, jantar. Queres amor? - perguntei ao menino loirinho. - Como te chamas?

- Sim. - disse levantando-se com dificuldade. - Eu sou o Lucas.

Peguei em Lucas ao colo, era notório que estava cansado, com fome, como é possível com a quantidade de mães que estavam presentes no parque não terem visto o Lucas?

O António e a Jully quando me viram com o Lucas ao colo ficaram surpreendidos.

- O que aconteceu? - perguntou Jully.

- Falamos em casa. - disse não querendo que o Lucas se lembrasse de tudo novamente.

- Como te chamas campeão? - perguntou o meu segurança sorridente.

- Lucas. - respondeu baixinho o loirinho antes de esconder o seu rosto na curva do meu pescoço.

- Como é que a senhora vai contar ao senhor Draco? - perguntou o António.

- Primeiro vou cuidar do Lucas e depois falo então com o Draco. Ele não irá reagir mal a uma criança desprotegida não acham? - questionei.

Os meus companheiros daquela tarde ensolarada apenas trocaram um olhar suspeito cheio de incertezas e concordaram.

A minha prioridade no momento era garantir o bem estar do Lucas e passaria por cima de quem fosse preciso para o fazer!

Fuga para a FelicidadeDove le storie prendono vita. Scoprilo ora