Capítulo 54.

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Gargalho e mamãe também.

─ Depois conversamos, mãe. Vou dormir, estou cansada ─ digo bocejando após ver Bruno entrar no quarto enrolado na toalha e com açaí nas mãos.

─ Tudo bem, nós te amamos ─ ela fala e cutuca papai que prestava atenção no jogo de beisebol. Papai ri e faz com a mão a expressão do rock e uma careta.

─ É isso aí, peixinho do papai ─ manda beijo e desligo após sussurrar um "eu te amo."

Jogo o iPad de lado e encaro Bruno que comia o açaí prestando atenção no desenho da televisão. Ele caminha até mim, se senta ao meu lado e me entrega o meu açaí. Meu celular vibra, é meu pai.

Lorde das Trevas ─ Filha, sonhei q vc estava grávida. Espero q seja apenas um pesadelo, ou já sabe, vai vender dogão na praia! Te amo, mesmo eu e sua mãe termos achado vc no lixo.

Dou um sorriso e mostro a mensagem pra Bruno que também ri.

─ Sua família é linda, e aparentemente feliz ─ ele conta me olhando meio pensativo. ─ Às vezes eu queria ter uma família desse jeito, mas pra isso eu precisaria nascer em outra família.

─ Seu pai nunca procurou outra mulher após sua mãe? ─ pergunto e ouço Bruno suspirar.

─ Só prostitutas pra o satisfazer quando desejava.

─ Às vezes têm pais que fazem de tudo pra ser feliz, mesmo com àusência materna...

─ Meu pai não era esse tipo de pai, ─ me interrompe desviando o olhar. ─ Quando eu nasci meu pai não quis me ver, ele me odiava, demorou muito pra ele me aceitar como seu filho, mas ele me olhava com desprezo e desorgulho. Sempre tentei por tudo conquistar a atenção dele, me empenhava na escola, aprendi piano, seu instrumento favorito, o elogiava e sempre estava prontificado pra tudo. Mas ele me desprezava, apenas com seu olhar, eu não entendia porquê. Não queria que mamãe morresse, não tinha culpa, mais tarde eu soube que mamãe havia tido paz, finalmente... papai tinha um descontrole com a bebida, era alcoólatra, batia em mamãe quando bebia demais e ela reclamava, e uma vez, ela quase me perdeu, por isso ela estava em gravidez de risco, ela passou nove meses sendo traída e apanhando do meu pai, mas ficou feliz quando me trouxe ao mundo. Infelizmente ela não aguentou, duas hemorragias internad surgiram dentro dela, ela havia perdido muito sangue e bom... cá estou eu. A desgraça da família, como meu pai já me chamou uma vez.

Sinto um arrepio na espinha, meu corpo congela e sinto meus olhos marejados. Eu nunca pensei que havia ocorrido toda essa história, nossa, meu pai jamais elevou a voz com mamãe, imagine ele levantando a mão pra mesma. Eu estava acostumada a ser criada em um lar cheio de amor e carinho, mamãe e papai me lembravam todo dia que eu era a maior bênção na vida dos dois.

Bruno de repente ficou mais calado, na dele, e eu não soube muito bem o que dizer.

─ Ei... ─ toquei sua mão. ─ Bruno, tudo bem. Já passou, veja o que você é hoje, é uma grande pessoa e muito querida, você não se espelhou nele. Todos ao seu redor gostam demais de você.

─ Lara, eu não me importo com o passado, ele já passou.

Ele beija minha bochecha e me puxa pro colo dele, sinto seus braços me abraçarem confortavelmente e suspiro.

─ Só prometa nunca me abandonar.

─ Nunca ─ digo e me viro pro mesmo, beijo seus lábios de forma lenta e o mesmo corresponde, ele me deita e me cobre, seus dentes puxam meu lábio enquanto seus dedos tocam minha nunca me provocando arrepios. Ele abre os olhos e eu também, por um momento me perco naquela imensidão.

O corpo de Bruno se enrosca com o meu, suas mãos tocam regiões sensíveis em mim e aquilo me provocava várias emoções e arrepios. Eu arfo, mas continuo o beijando e lhe dando espaço para me explorar. Me entrego plenamente à ele.

E como há o ditado: a noite é uma criança.

***

No sábado de tarde fui pra casa, na verdade, pra casa de Júlia. Me despedi de Bruno com um selinho e fui correndo pro carro da mãe da Júlia, ela iria dormir lá em casa comigo.

Ah, meu quarto estava pronto. Mas eu gostava tanto de dormir ali com meu primo que me recusei a ir pro quarto, e Arthur gostava da minha companhia. Então o meu quarto era meio que um quarto de hóspedes, mas quando Júlia dormia lá em casa o quarto era nosso.

Chegamos em casa conversando sobre tudo e terminando de sugar o milkshak que a mãe da Júlia havia comprado no caminho.

Quando cheguei em casa Bruno já estava lá, jogado no sofá ao lado de Peter, Léo e Arthur. Diego como sempre estava viajando pra Osasco pra resolver algum problema do BK.

─ Oi ─ digo jogando minha mochila no chão, Júlia surge e posso ver Peter bufar.

─ Oi gente ─ diz tímida e todos respondem um "oi" em resposta, menos Peter. ─ Oi, peterpanzinho.

─ Olá, bummler ─ diz Peter meio irônico.

─ O que ele disse? ─ ela sussurra pra mim.

─ Olá, raio de sol ─ digo no ouvido dela e a mesma se derrete. Na verdade, Peter havia chamado ela de "vadia".

Eu e os meninos gargalham, e Júlia vai logo pro lado dele o atentar. Peter bufa e se afasta, começa a falar várias coisas em Alemão, chingava ela, dizia que ela era chata e só sabia rir.

Fui pra cozinha e os meninos foram atrás, deixamos o casal sozinho lá. Arthur fez questão de botar uma música romântica.

─ Como foi na casa da Júlia? ─ Arthur pergunta e dou de ombros.

─ Legal ─ como o brigadeiro que Léo havia preparado.

─ Assistiram chiquititas ou carrossel? Ah não, tem Barbie também ─ Bruno começa e rolo os olhos.

─ Assistimos o filme: não se mete na minha vida, intrometido ─ respondo e vejo ele rir.

─ Tava pensando em viajar pra Búzios, já que é seu aniversário dia 14, íamos dia 10 e ficamos até dia 20, o que acha? ─ Arthur dá a ideia e me animo logo.

─ Claro! Que máximo, passar aniversário em Búzios! ─ faço uma dancinha.

─ Queria fazer uma viagem internacional, mas deixamos isso pro final do ano, antes de você ir embora...

Naquele momento meus olhos se encontram com os de Bruno e ele abaixa a cabeça, desfaço o sorriso também. Merda!


Paraísos PerdidosOnde histórias criam vida. Descubra agora