─ Você é demente, Júlia ─ digo com o olhar perdido e ela ri rápido.

─ Cadê o boy de ontem? Ele é gatinho, me conta tudo, pegou? Traçou? Ele tem pegada? ─ pergunta bastante interessada.

Depois de Maria Eduarda, eu nunca mais quis desabafar com ninguém, porque sempre desconfiei dos meus segredos não estarem seguros, mas acontece que Júlia sempre quis ser minha amiga, e ela era tão doida ao ponto de não falar pra ninguem e até esquecer no dia seguinte.

Desde a quinta série, quando ainda estávamos juntas, ela sempre foi mais pro meu lado, mas eu claro, idiota, fui fazer apenas uma melhor amiga: Duda.

Mas eu confiava nessa louca que trazia churrasco pra lanchar na escola.

─ Ah, eu não gosto dele ─ encolho os ombros e olho pro chão com os olhos cerrados. ─ Eu gosto do Bruno.

─ Bruno? O advogado metido e arrogante que tu odiava? ─ assinto após sua descrição perfeita sobre o brutamontes petulante. ─ Ele é um gato... mas... qual o problema nisso?

─ Ele não gosta de mim.

─ Como tu sabe? ─ arqueia a sobrancelha.

─ Ele não demonstra, sabe?

─ E daí? Não é porque não demonstra que não gosta, isso não tem nada a ver, Lara.

─ Mas eu me abri pra ele, contei tudo sobre mim pra ele, compartilhei meus sentimentos... e sabe o que ele disse? Nada ─ minha voz sai meio embargada, sinto meu peito doer.

─ Talvez ele só estivesse... confuso? Não tome decisões precipitadas se não sabe direito o que houve, vai que ele só queira pensar direito se quer isso.

Eu pondero após suspirar. Júlia me oferece a picanha mas recuso. A gente muda de assunto e até que esqueço um pouco todo aquele assunto.

Vou beber água após o horário bater, e volto pro primeiro andar. Passo bem do lado de Ruan, sei que é ele por conta da calça com um rasgado que eu sem querer rasguei ano passado com a chave de casa, não vi o rosto dele, estava coberto pelo capuz do moletom, além dele estar de cabeça baixa.

Mas o ignorei, fingi que nem havia o visto.

Regressei pra sala e me sentei aguardando o professor de física.

***

Saí no quinto horário, mas fui tirar uma dúvida com o professor sobre a aula, ele me deu a folha de estudo e finalmente pude sair.

Desci as escadas e fui pra saída da escola pelos portões de vidro, mas fui parada por uma menina do cabelo cacheadinho junto de outra. Creio que ambas eram do primeiro ou segundo ano.

─ Ele é o que pra você? Ele é solteiro? Nossa, ele é tão gato ─ ela fala desesperadamente e a olho sem entender.

─ Hã? Quem?

─ Aquele gato! As meninas tão todas loucas por ele... olha, me passa o número dele... e... ─ saio e deixo ela falando sozinha.

No portão várias meninas do primeiro, segundo e terceiro olhavam pra um lado da calçada e ficavam eufóricas, davam gritinhos e pulinhos. Léo devia bem ter saído do carro, e ainda por cima sem camisa!

Vou andando em passos lentos e quando elas me notam começam a cochichar me olhando e eu finjo não ligar.

Quando saio pelos portões da escola e olho pro lado, vejo a hilux prata estacionada e o homem grande de roupa social encostado no carro e olhando pra quem saia ou não da escola.

Meu coração acelerou rapidamente, minhas pernas ficaram bambas e minha respiração irregular. Me peguei mega nervosa.

Ele me olhou e no mesmo instante sua postura fica rígida, eu viro o rosto, e dou um passo pra atravessar a rua e pegar um táxi ou moto-táxi, mas antes mesmo de dar um passo já fui pega pelo braço e puxada de frente pro mesmo. Senti seu toque quente apertanto meu braço e me impedindo de sair de onde queria sair. De perto dele.

Bruno me agarrou pelos braços enquanto fixou seus olhos nos meus, meu coração palpitou quase saindo garganta afora.

─ Lara... ─ ele sussurra meu nome de forma baixa, eu só falto me derreter mas ele me mantém firme.

─ Bruno... eu... ─ tento sair mas ele me segura com mais força ainda. A altura do campeonato uma platéia já nos assiste.

─ Preciso falar com você.

─ O que tinha pra ser dito já foi dito.

─ Por que está agindo assim?

─ Não me mostre o paraíso e depois o  destrua ─ digo após um tempo nadando em seus olhos cor de mel.

─ Não destruí nosso paraíso, jamais vou o destruir e muito menos o perder, você é meu paraíso, eu não quero perder você ─ ele diz de forma que me congela. Mal consigo respirar.

─ Mas meus paraísos estão perdidos, eu estou confusa, isso não é recíproco... ─ encaro o chão e depois seu olhos. Seu cheiro exala. ─ Não é?

Bruno fica alguns segundos em silêncio apenas me olhando, ele pondera, depois solta sua respiração do peito e diz firme:

─ Eu gosto de você, Lara... eu não só gosto, eu sou louco por você. E não estou nem aí pro que os outros pensam, porque eu te quero, eu sou maluco pelo seu sorriso e seu corpo... eu estava confuso, confesso. Tinha medo, não só de fazer tudo dar errado como medo de te perder... ─ ele desabafa e fecho minhas pálpebras quase não acreditando. ─ O nosso ódio foi todo transformado em amor. Você chegou e me mudou.

─ Bruno... ─ murmuro com os olhos cobertos por lágrimas.

─ Lara, eu sou louco por você! ─ dispara e me puxa pros seus braços me envolvendo em um abraço, ele cola nossos lábios e enrosca nossos corpos e narizes. Bebericamos um do outro, provamos da nossa paixão, a sinto à flor da pele.

Eu saio das pontinhas dos pés após o beijo e encaro todo mundo que olhava a cena meio surpresos e incrédulos. Mas Bruno não ligou.

Bruno não deu importância alguma, ele apenas me beijou mais uma vez e sorriu.

Paraísos PerdidosWhere stories live. Discover now