"Capítulo VI" Um olhar suicida diante da vida

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A tristeza em ter que acordar e ver que nada mudou. Todos os dias ao despertar refletir intensamente como será a nova história que preenche as páginas da vida, declinar em harmonia e para cada entrelinha escrita decifrar um novo enigma de emoção. Tudo o que é visto, sentir ou tocar, remete a um desejo insaciável que rodeia o coração, perder a voz, desligar-se do mundo e não consegue mais controlar seus instintos, logo bruscamente vem um sopro de ar que faz desdobrar-se ao momento presente. Assim você pára no tempo e por longos e preciosos minutos fica ali pairando como se houvesse um novo tempo a viver. Quando retorna e dá conta de si, percebe que o tempo já não é como antes e os dias já possuem mais a essência que antes havia, e agora tudo se tornou um desejo presente. Até onde os olhos podem avistar, ver! E aquela vontade absurda de passar o dia observando já existe dentro de si, pois saberá que estará aqui quando quiser apreciar a vida. Diante desta ilusão, nos bate uma saudade quente, que refrigera a alma incessantemente. Hoje sei bem o quanto algo dura o tempo suficiente para se tornar inesquecível, por isso a saudade se torna presente todos os dias. Muitos eram aqueles que me aconselhavam para de algum modo esquecer os momentos tristes e focar na alegria... de uma única vez, acabar com este sofrimento e acalmar o coração.

 Vejo que nestes grandes conselhos nenhum deles soubesse o verdadeiro significado de sofrer, ou por tempo apresentam-se como seres fortes e experientes. Mas hoje eu sei, que para dominar uma determinada dor, embora seja dito em muitas palavras diversas coisas, qualquer um pode falar e se proclamar o suficiente para suportar, exceto quem a realmente sente, com extrema certeza não conseguirá aplicá-la de imediato. Cogito o tempo todo, aguço desejos e fico jubilando-me de sensações volumosas, e pergunto-me, se a minha utopia foi profunda, o porquê me deixastes acordar da inocência? Quisera eu bem-estar viva e permanecer em minha própria ilusão. Deslumbrar-me de luz o coração, apoderar-se de todo amor que pudesse transmitir e viver intensamente sem alguém para me despertar. Infelizmente acordei do sonho intenso e descobri que não era ali a realidade mundana. Penso diariamente nos momentos de paixão que me proporcionou todas as palavras, e em cada gota de suor que me transmitia os batimentos de meu coração pulsante e ofegante por somente ser eu. Perdia-se somente com um olhar meu e tornava-se indefesa diante do mundo por todas as qualidades que eu não demonstrava possuir, que por fim, eu era apenas o objetivo. 

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